Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

HOLMES PLACE - Quem não foi ao engano...


Tita

28.02.08

 

 

Já fui sócia do Holmes Place. E nunca mais serei!

 

Quase todos os Holmes que existem em Lisboa parecem organizações de luxo. Tudo aparece excelente: as instalações, as máquinas, as piscinas, os balneários espaçosos (com secadores de cabelo, sauna e banho turco), o aspecto dos recepcionistas e dos instrutores, os programas de aulas,  e o livre acesso a tudo isto.

 

Dentro do Holmes Place toda a gente tem uma postura aparente de que aquilo é um local muito selecto. E a disposição aparente para dispensar e receber um tratamento VIP  respira-se no ar. Enfim, todos nós gostamos de estar em bons ambientes. Ficamos convencidos.

 

Quando me inscrevi, solicitaram-me o pagamento de um montante de inscrição, para além da mensalidade. Não me pareceu desequilibrado face à oferta e ao tratamento cuidado que me estavam a oferecer.

 

É claro que estranhei que as toalhas de duche e os cadeados para os armários fossem debitados à parte. Pensei que seria mais adequado incluir logo isso na "jóia" para, enfim, não dar imediatamente este mau aspecto. "Tudo bem", pensei condescendente.

 

 

Mas, depois, veio aquela questão de dar o NIB e uma autorização de transferência bancária durante um ano. "A que propósito?", perguntei eu. "Se não me apetecer fazer exercício durante um ano, como é? E se eu quiser mudar de ginásio?", insisti. Não me lembro das respostas insatisfatórias. Sei que, já um bocadinho irritada, mas por opção própria, acabei por pagar o ano inteiro de uma só vez. Não gosto nada de andar por aí a distribuir autorizações para mexerem na minha conta de banco. É que podem acontecer abusos. E depois dá uma grande uma trabalheira repor tudo no sítio. Com este tipo de procedimentos, estabelece-se uma relação muito intima. Ora, relações intimas impostas é do piorio. Mais ainda com ginásios.

 

Começamos então a frequentar.

 

Afinal, a piscina não está livre nos horários que nos servem, as aulas de estúdio mais interessantes estão sempre cheias, e dependem, por isso  de uma senha de ingresso. Obtém-se por ordem de chegada. Tipo consulta no hospital. Quem quiser pode ter as mesmas dentro de grupo mais restrito de pessoas, PAGANDO. Não sabíamos.

 

Já no ginásio, encontramos um ambiente cheio de instrutores, equipados (fardados) a rigor, cheios de postura profissional. São eles que estão ali para nos ajudar. Pessoal com um contrato de trabalho (presumimos, mas não é verdade), cuja função é garantir que tudo funcione de acordo com os padrões que nos disseram que tem. Ou seja, programas de treino adequados e um apoio permanente sobre  a evolução e a motivação.

 

No primeiro dia há um instrutor que nos dá, o que eles chamam "uma orientação inicial". Supostamente, a partir daqui, e na posse de um programa de treino, também supostamente, adequado, ficamos, ainda supostamente, a compreender as máquinas e a saber trabalhar com elas. Depois, eles continuam lá. Imensos, de camisola encarnada. Vão, pois, ajudar-nos nas dúvidas iniciais que surjam e no desenvolvimento natural dos treinos para níveis mais avançados. Imaginamos. E não deixarão de nos motivar sempre. Presumimos.

 

Ao fim de pouco tempo, percebemos que o conjunto de exercícios que temos na mão não serve para grande coisa. Os objectivos não serão alcançados. Olhamos para os instrutores, chamamos, pedimos ajuda. Eles corrigem-nos rapidamente a postura e saem com um simpático sorriso administrativo.  Há qualquer coisa no ar que nos diz que não podemos solicitá-los muito.

 

E o contracenso torna-se evidente. "Mas afinal o que estão estes aqui a fazer?". É a pergunta que nos vem imediatamente à ideia.  Depois, lentamente, começamos a perceber. Na verdade, quando não os chamamos, eles aproximam-se. Vêm  e perguntam, com um sorriso, que também é o administrativo, mas  aparece na sua formulação número dois, "está tudo bem?". É um choque. Por isso, embora não esteja tudo bem, nós respondemos: "sim, obrigada". Queremos continuar. Estamos a meio de um exercício qualquer. Eles não estão lá para isso. Para ajudar.

 

A nossa resposta não os satisfaz. Começam com perguntas sobre o nosso programa de treino. Sempre a sorrir amavelmente do modo atrás descrito. A simpatia administrativa é um poderoso instrumento para o desconforto e culpabilização dos indivíduos. Sentimo-nos na obrigação de lhes continuar a dar atenção (não devia ser o inverso?). Passamos, então, as informações que eles já sabem. Porque conhecem bem o funcionamento do sistema. 

 

É neste momento que ouvimos todas as informações fundamentais sobre o modo de atingir resultados. Temos que mudar de programa de exercícios . Concordamos. Ele vai fazer isso. Paga-se à parte.

 

Não conseguimos deixar de pensar que não era esta a ideia que nos transmitiram, que as coisas não nos foram apresentadas assim, que a organização que vemos não nos indica nada disto.

 

No entanto, Pagamos. Marcamos. E fazemos a reprogramação, Durante os 50 minutos de duração desta sessão especial de treino, mais informações fundamentais nos são prestadas. O melhor, mesmo, seria fazer sessões de treino personalizado (PT). Sem dúvida. Acrescente-se que, para chegar ao mesmo, o clube também promove, por regra num sábado qualquer, umas sessões gratuitas  de PT, só para nós experimentarmos a diferença. Que, de facto, existe. Actualmente, fazer PT custa 50€ 50m . Quem pode, acaba por fazer. Eu, evidentemente, cai daí abaixo e comprei um pacote de 20.

 

Tudo fica perfeitamente claro. De acordo com a filosofia de funcionamento do Holmes Place , sem treino pessoal, ninguém atinge objectivos mínimos. As mensalidades, estabelecidas a um preço mais ou menos democrático, são secundárias para a política comercial do clube. Quem lá anda, e só dá esta contribuição, é literalmente votado ao abandono prático. A política do clube é levar o maior número de pessoas lá para dentro. E, depois, convencer igualmente o maior número possível a pagar, para além da dita mensalidade, aulas particulares.

 

A sensação de se ser um objecto de cobiça, nestas circunstâncias é profundamente desconfortável. Ninguém gosta de ir ao engano. Quem pode gastar 250, 300 ou 500€, por mês, com um instrutor pessoal de fitness , gasta. Vale a pena ser directo. Aliás, impõe-se a transparência, para que a honestidade não seja posta em causa . Quem não pode pagar, não deve ter de  este tipo de pressões disfuncionais. E, muito menos, sofrer as suas consequências. A maior parte dos sócios do Holmes Place desmotiva-se, continua a pagar (porque deu a tal ordem de transferência válida por um ano), mas não vai lá.

 

Um mês antes de acabar o primeiro ano, já eu recebia uma carta a dizer que o prazo para pagar A ANUIDADE  seguinte se estava a esgotar, pelo que deveria proceder à regularização da DÍVIDA no prazo X. Divida, anuidade. Mas que conversa era esta? Nem me dei ao trabalho de lhes responder. Não voltei lá. Deixei uma boas 5 aulas de PT por fazer. Cortei. Pronto. Desisti da ideia de ir lá armar uma barracada . Para quê?

 

Quando, mais tarde, resolvi que precisava de fazer mais um bocado de musculação, acabei por ser convencida a regressar. Afinal, era mesmo ali ao pé de casa. E eu já estava um bocado esquecida. Andei lá mais dois anos. Fartei-me de faltar. Como é evidente. O assédio para fazer treino personalizado era terrível. Mas, desta vez, NÃO FIZ!

 

Entretanto, apercebi-me que a taxa de IVA aplicada sobre as mensalidades deixara de ser 21%, para se quedar nos 5%. Os preços praticados mantiveram-se. Podia explicar aqui a ilegalidade deste procedimento. Nomeadamente, em relação às regras estabelecidas nos contratos (de adesão) que o clube assinou com os sócios. Não vale a pena. É muto técnico, logo chato. Na verdade, basta dizer que as pessoas têm direito a ser reembolsadas de tudo o que pagaram a mais. As que pediram, receberam um NÃO cheio de sorrisos administrativos (daqueles que já sabemos) e justificações que só dão vontade de rir. . Houve queixas para a DECO e junto da própria Direcção-Geral dos Impostos. Não sei se o que poderá acontecer. Talvez pouca coisa.

 

Quanto a mim, sai de lá definitivamente no ano passado. Ligaram-me recentemente a oferecer um livre trânsito grátis por uma semana e mais não sei o quê. Aproveitei a oportunidade para explicar (recordando, porque ela já sabia) à menina do telefone (embora bem sabendo que a culpa não era dela)  todas estas coisas que acabei de dizer, e mais algumas. No fim do discurso apresentei as minhas desculpas pessoais a quem só estava a fazer o seu trabalho. Já sobre as magnificas vantagens oferecidas, talvez as mães dos responsáveis por esta política precisem delas.

 

Bom, e como este post é de 2008, ficam ainda dois links com actualizações: http://ogatogaga.blogs.sapo.pt/59602.html e http://ogatogaga.blogs.sapo.pt/43460.html.

A falta de "pinta" é um mal global


Tita

27.02.08

 

Antes de mais, é preciso dizer que aqui a base da conversa é generalista. Trata-se de seguir a regra. Falar da regra. Todos sabemos que as excepções não entram nos cálculos das medidas. Por exemplo, um problema social só deixa de o ser puramente, para entrar no campo das considerações políticas , quando afecta mais de 20% do universo das pessoas. Neste momento, também quero desconsiderar este número, e falar dos outros.

 

 Há um problema geral de falta de "pinta". Está tudo na moda. Todos têm o carro da moda, as jeans da moda, o telemóvel da moda, o corte de cabelo da moda. Mas a maior parte das pessoas não tem classe. Deve ser porque também não têm dinheiro, pensa-se. O dinheiro dá uma certa segurança às pessoas. E isso nota-se. Mas não. Não é o dinheiro. O dinheiro nunca deu classe a ninguém. Aliás, muitas vezes, acentua mesmo a falta de "pinta". Aliás, até serve muito para adensar a falta de educação. É a segurança que o dinheiro dá. O endinheirado, o rico ou o milionário, sentem-se seguros quanto à sua falta de gosto e ausência de educação de base. Claro que não estou a falar de toda a gente, comecei por explicar isso.

 

Na era da globalização, não ter classe é um problema que afecta a globalidade das pessoas. Devia, pois, ser tratado pelas tecnologias de informação, como tudo o resto. E só não é porque não consubstancia matéria pura de índole económica. Aliás, os problemas macroeconómicos têm, também, por seu lado, acentuado o problema da atitude rasca global. Mas é sem querer fazer directamente.

 

As pessoas não têm classe porque não sabem o que isso é. Mesmo que já tenham lido em qualquer lado. Eu acho que a moda e os modismos deixam a maioria das pessoas à beira do ridículo. A moda representa é conjunto de ideias sistematizadas (é, portanto, um sistema) impostas  que, mediante processos, que não são milagrosos, mas parecem, toda a gente come. Ou seja, a industria é poderosa, e sabe bem o que faz. Os jogadores de futebol esforçam-se imenso para andar na moda, por exemplo. Resultado: têm "mau ar". Outro exemplo, as teenagers e as pós teenagers (as teenagers veteranas , portanto) adoptaram as calças de cintura descaída e os tops. Resultado não têm o corpo da Naomi , e isso nota-se. Mais um exemplo, todos anseiam por ter um carro utilitário com ar condicionado, tecto de abrir, leitor de cd, GPS e pintura metalizada. Porque, presumem, tem "pinta". Eu acho que deve ser frustrante conduzir um carro destes. Andar por aí com um candidato excluído a topo de gama. Aceito que se tenha um porque os recursos não são igualitariamente distribuídos . O ridículo está, antes, em desejar muito estas coisas. Sonhar com elas. É, além disso (além de ser ridículo), uma postura medíocre. No fundo, o que as pessoas querem é dar uma exibição de que são "cool ", "in ", "open minded ", "loved ", e por aí fora. Por quererem tudo isto, não têm classe.

 

Ter classe é possuir uma concepção adequado do mundo e das coisas que giram em volta. É compreender que se vai na rua e que o mundo que também vai na rua se está na tintas para nós. Um Ferrari também não tem classe nenhuma, mas impressiona. Pessoalmente, fico impressionada com as dimensões e a baixíssima ) altura da criatura (criatura, sim, que para a cultura moderna um Ferrari é praticamente gente. Ou seja, é mais gente do que o próprio dono. O preço também me impressiona imenso. Não poderia comprar um. Mesmo que quisesse. No entanto, não me sinto minimamente suspeita quando digo que é um carro horrível. Mas impressiona. A questão é, por muito que impressione, a impressão não dura mais do que uns segundos. E depois passa. Está esquecido. E a vida continua.

 

Quero com tudo isto dizer que nós não somos mais do que aquilo que podemos transportar se estivermos nus. A saúde física e mental e um conjunto de valores suportados por conhecimentos que se consolidaram através um processo de aprendizagem sólida.  Projectar a personalidade no que de material temos é um erro. Há atentados terroristas, crashes " nas bolsas, incêndios , cataclismos, perda de emprego. Quem tudo tem, tudo pode perder. Muito ou pouco. Pior, quem tem nunca está satisfeito por causa disso. Os utilitários são trocados no prazo máximo de cinco anos, por exemplo. E os Ferraris nunca são o único carro dos seus donos.

 

Ter classe é assumir que se tem uma importância relativa para os demais e aceitar que se é muito importante para alguns. Compreender os limites da nossa liberdade individual e aceitar as diferenças nos exercício da mesma liberdade por cada um. É, assim, possuir uma postura natural de distanciamento face ao próprio ego. Ser natural e descomprometido. Concluindo, menti. Na verdade, o que queria era falar de uma minoria de pessoas que têm classe.

 

 

CAR CRASH


Tita

18.02.08

  

 

Ontem tive uma insónia extraordinária. Eram cinco e meia da manhã, e eu estendida na cama, de olhos muito abertos para o tecto escuro, cheia de uma energia cerebral. Sentia-me bem. Calma. Lúcida. Ás cinco e meia da manhã, sim.

 

Há muito (mesmo muito) tempo que não me sentia assim. Quando era pequena, e até ao fim da adolescência, costumava ir para a cama uma hora antes do sono para pensar de luz apagada sobre os meus problemas. Era assim que os resolvia, e adormecia, por fim, perfeitamente esclarecida sobre tudo o que havia para fazer. Por este processo podia manter a calma e o controle sobre as coisas. Tudo estava muito bem organizado. Assim, eu era uma criatura muito independente.

 

O meu pai também é assim. Nunca me disse. Mas eu adivinhei nele também esta rotina quando, em dadas alturas, fui ao quarto e o vi a olhar para cima com as mãos na almofada, aconchegando conjuntamente a nuca. Ha coisas que não fazemos por imitação, mas pela força dos genes. Creio eu.

 

Ontem não quebrei o ritual pós-adolescente de ler antes, e até cair a dormir. Ontem choveu pesadamente por horas e horas. Acordei às cinco e meia da manhã por causa dos estrondo dos trovões. Gosto do barulho da chuva pesada que cai continuamente. E dos trovões. Há uma certa sensação de limpeza profunda que me envolve nestas situações. Há um certo alívio. Como se o lixo e outros detritos fossem inapelavelmente arrastados para longe, ocorrendo a possibilidade de começar tudo de novo.

 

Mesmo que não tenhamos culpa sobre os eventos negativos, isso é um dado pouco relevante porque temos sempre que ter a capacidade de combater os seus efeitos agindo. Talvez a objectividade seja o instrumento racional mais útil que se pode ter.  Agir libertando o fundamental do acessório e, dentro do fundamental, fazer as escolhas que se impõem.

 

Foi com um certo prazer que reflecti sobre o meu acidente mortal. Para mim, apenas potencialmente mortal. Para outros, mortal de facto. Ontem revi o choque, o sangue, as seringas, os tubos e o tribunal. Tenho orgulho em mim porque fiz tudo muito bem. Desde o momento em que percebi que ia ser abalroada por um monstro branco desorientado, até ao dia da audiência, onde convenci o colectivo de juízes de que o homem era  inapelavelmente culpado. Pelo meio há um dreno espetado no meus pulmões que tenho alguma dificuldade em esquecer. Creio que foi o que mais me doeu.

 

Tudo aquilo que acontece apenas aos outros, acontece-nos a nós, embora nem suspeitemos disso. Os outros somos nós para outras pessoas. As estatísticas sobre acidentes rodoviários em Portugal são perfeitamente assustadoras, embora não nos assustem porque achamos que os outros não somos nós. Todos os dias morre uma pessoa nas estradas portuguesas. Este dado, só por si, deveria bastar para compreendermos que não existe qualquer distância que nos separe dos outros. Porém, não basta. Assim, andei uns tempos a reflectir no facto de, a dada altura da minha vida, ter entrado para as estatísticas . Porque razão me teria acontecido uma coisa dessas? Creio que ser um número público de tragédia, na cabeça de muitos, é o pior que pode acontecer a uma pessoa.

 

Recordo Beethoven, o surdo, para sustentar o profundo desprezo por probabilidades. Probabilidades são representações sobre possibilidades. Logo, não acredito na estatística, mas nos comportamentos mais adequados. Beethoven escrevia música. Isto é o comportamento adequado para um surdo que, mais do que tudo, quer compor.

 

O melhor movimento que podemos fazer é aquele que nos faz chegar mais perto de nós próprios

 

stats

What I Am

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em destaque no SAPO Blogs
pub