PSICADÉLICO FIRST
Tita
31.05.10
Ando tão calada, que bati com o carro contra um pilar de uma garagem. Ninguém me obrigou. Não fui provocada. Adiantei o pensamento ao acto. Curvei antes de fazer marcha atrás. Tinha visualizado. Marcha atrás e curva. Prego a fundo. Contra o pilar. Estava com a ideia na curva. Fiquei triste e preocupada. Triste por ter feito tamanha maldade ao jipe. Preocupada porque isto não pode ser normal.
Pouco depois de ter completado 18 anos suspendi a faculdade, fui viajar sem os meus pais saberem, apaixonei-me perdidamente, dormi com meio mundo e ainda tive tempo para andar a cheirar cocaína durante seis meses seguidos.
Acabei de fazer uma exposição. Isto é incomum porque não sou, por exemplo, pintora. Tenho vontade de rir. Porque este tique de "agent provocateur" não me sai da pele. Tive um professor na Ordem dos Advogados que me deu 20 a Processo Civil. Falo nele porque me deu 20, mas também porque percebeu esta minha faceta. Apenas não é uma faceta. Parece exibicionismo. Não parece? Errado! É pesquisa. Um dia destes explico. Não. Explico agora. Ando a observar. Não há exposição. Que mal tem um a miuda de 18 anos deixar de estudar por um tempo, viajar, apaixonar-se, fazer amor com quem lhe apetece e cheirar coca? Nenhum, se não apanhou SIDA ou caiu irremediavelmente no vício. É o meu caso. Aliás, é o caso de uma série de miúdas de 18 anos, imagino. Se não é, temos pena. Valeu a pena, tenho que dizer. Falar destas coisas é falar da vida. O que é que tem? Vou ser processada? Não, talvez apontada na rua. Ou no trabalho. Ora, não me façam rir! As pessoas têm tanto medo do "out". Deve ser porque se fartam de ouvir dizer que o que é bom é estar "in". Eu digo: falta de pinta. Carro utilitário com ar condicionado e GPS. É o que é. Deram-me uma coisa dessas de substituição. Não aguento! Que latinha frágil!
Já tentaram apontar-me o dedo. Nunca resultou. Como é isto possível, se eu sou insegura? A insegurança manifesta-se por capítulos do ser. Não infecta tudo como um vírus. Vou contar o segredo. Só sou insegura nos meus segredos. Nunca naquilo que exponho. Não sou insegura quanto à escrita, por exemplo. De outro modo não teria esta porta de casa aberta. Gosto do que escrevo. Não quando estou a escrever. Nem sei se gosto, ou não, do que escrevo quando estou a escrever. Agora só estou a sentir. Prazer. Depois leio. E gosto. Gosto sempre. Quero lá saber se a minha vida dava um livro, e se esse livro pode ser escrito por mim. Não quero saber porque sei. Dava um livro e poderia ser escrito por mim. Que não se vendesse nada e eu não possa fazer vida de escritora, é mesmo o que me importa a sério. Porque eu sou do fácil. Que vida fácil seria! Trabalhar por necessidade e por prazer. Duas razões. Também se faz amor por esta mesmas duas razões. Eu faço muito bem amor, sem ser modestamente. Há muita gente que pode confirmar isto. de facto. Com também há muita gente que gostaria de ser minha testemunha no caso. Mas não é. Temos pena. Houve muito. Amor. Usei muito os dedos. Para escolher. Escolho a dedo.
Gosto de me sentir "picada". Gosto que me irritem. Gosto de me irritar. Gosto de tomar medidas. Gosto de esmagar egos. Não suporto egos. Como não aguento língua de vaca estufada. Agonia-me este prato. E o nome. É de um mau gosto! E por falar em mau gosto, este texto está a ficar parecido com uma gravata aos quadrados sobre uma camisa de riscas. Não, não. Não é piroso ou saloio. Não. Estou a falar daqueles homens psicadélicos do princípio dos anos 70. Só para dizer que isto está um tanto psicadélico. Com intenção. Gravatas aos quadrados sobre camisas de riscas ferem tanto os olhos como as luzes psicadélicas dos "clubs". E é isto. Também não me estava a comparar ao Andy Warohl. Embora seja certo que ele também fazia exposições.
Bati com o carro sem ajuda de ninguém porque estou muito embrenhada à procura de certas coisas. Coisas que me envolvem muito. Eu! E que ninguém se atreva a chamar-me egoísta ou egocêntrica. Senão, recomendo a leitura do Espelho. Aqui mesmo abaixo do Rock in Rio.