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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

OLHAR


Tita

26.08.11

 

 

 

De vez em quando é preciso olhar. Para nós próprios. Eu costumo fazer isso. No entanto, vezes demais. Quase que isto não se entende. Há muito que compreendi que o ponto certo das coisas é o equilíbrio. O balance. Que evidentemente não quer dizer balanço.E, na verdade, o problema, ou parte dele, parece residir aqui. De facto, no meu processo introspectivo, que é quase diário, costumo fazer balanços repetidos com intervalos reduzidos. Um erro de palmatória que reconheço. Mas que já me parece um vício autopunitivo com ares de incontornável.

 

Os balanços têm uma periodicidade para acontecer. Veja-se que as empresas fazem balanços anuais, embora também possam realizar uns trimestrais. O que eu quero dizer é que há momentos estipulados para passar a pente fino o que está para trás com os olhos postos para a frente. Os balanços servem para medir as actuações em termos de valor. Pretende-se compreender o quadro actual que nunca é perfeito. Decidem-se medidas para minorar danos e corrigir. Os balanços são datados para serem suprimidos quando os problemas estão resolvidos. Trata-se de avançar. O próximo balanço já deverá ter informações diferentes. Sobe-se um degrau. Anda-se para a frente. Na normalidade das coisas nenhuma empresa considera hoje um balanço de 1980, por exemplo.

 

É certo que as pessoas não são empresas mas os princípios básicos de conduta são da vida e por isso podem aplicar a tudo. Por isso a comparação que está feita. Comparo para dizer que é desaconselhável fazer balanços todos os dias. Não há informação nova para tratar. Não houve tempo para andar. Quem olha para dentro de si vezes demais, tende a fazer balanços intempestivos. Ou seja, em última análise, a viver emocionalmente no passado.

 

Ganhei este hábito que não tinha de ser demasiado introspectiva, logo muito viciosamente “balanceada”. De vez em quando é doloroso. E quando não é cansa-me. E depois confunde-me. E a seguir angustia-me. Concluo assim que tenho de me livrar deste hábito que criei um dia.

 

Um dia a introspecção decidiu tudo e salvou-me a vida. Tinha vinte anos num momento de dor profunda sem saber o que pensar para me orientar. Precisei de me conhecer imediatamente. A dor veio por não saber exactamente quem era quando era absolutamente necessário saber. Passam-se coisas que não se deviam passar com crianças de 20 anos. Não sei se é azar ou tendência para o abismo. Talvez seja uma coisa natural da idade. A arrogância típica dos tenros ingénuos. Sempre optimistas de sorriso posto sem forçar.

 

O ponto está que cada pessoa tem pontos de fragilidade que podem ser fatais. Há sempre um lugar concreto onde nos podem meter a mão e apertar. E se metem, é como um desmoronamento a acontecer. A boa notícia é que é possível sobreviver. Ao contrário dos edifícios que, uma vez no chão, se esfumam para sempre. Lembro o WTC. É um bom exemplo. De qualquer forma, a sensação aqui é mais de esmagamento. Por isso a imagem não foi a ideal. Podia ter mencionado um rolo compressor e os seus efeitos.

 

Com vinte anos percorri caminhos que nem hoje estaria em condições de percorrer. No entanto, é uma pena que os desafios inerentes não tenham sido colocados agora. Hoje não sorriria cheia de optimismo e satisfação. Hoje só me ria. E numa de Cântico Negro diria com espírito vingativo assumido: “não, não vou por aí”. De qualquer modo fiz aqui o meu primeiro trabalho de introspecção. Lembro-me de alguns momentos do processo em que tentava desesperadamente chegar a mim. A confusão emocional estava instalada e eu só queria encontrar o fio à meada. Encontrei. Então, foi preciso desembaraçar. Depois havia nós apertados. Tive que os desfazer. No fim verifiquei que fiz um bom trabalho. No termo de 1 ano de angústia, já não era a mesma.

 

Mas estes resultados não abrangiam todos os aspectos do meu ser e por isso não se aplicavam a todas as áreas da vida. Não fiquei completa pois. Apenas muito segura em partes. Certa sobre as questões trabalhadas. No que de novo a vida me ia naturalmente apresentando passei a viver muito confusa. Todas estas questões novas, independentemente da dimensão real que tinham, assumiam uma proporção emocional desadequada.

 

E ainda hoje é assim. Daí que não paro de olhar para mim própria vezes de mais, nos termos que enunciei. É o medo que fica. O estado de alerta que não nos larga. E lá vem o recurso à introspecção. Sempre. E o balanço que é sempre feito no processo. Sempre. Questão: “Será que o facto de passar pouco tempo a conversar com as pessoas no trabalho está a gerar uma onda de má vontade contra mim?” Para que paro eu a pensar nisto? Não me basta ser quem sou, sabendo de mim? Parece que não. Aparentemente devo estar preparada para tudo. Designadamente para catástrofes. O que o meu organismo reactivo não consegue aceitar é que as catástrofes sucedem sem razões razoáveis e raramente podem ser previstas, sendo ainda certo que, nos casos em que podem, não há nada a fazer. Acresce ainda que as estatísticas funcionam em desfavor das catástrofes.

 

Posto isto, tenho de alterar a minha maneira catastrófica de encarar a normalidade das coisas da vida e parar um bocado de pensar para dentro porque tenho os sinais de alerta muito sensibilizados. Tenho de separar o acessório no que penso e deitar fora. Encontrar o balance para a introspecção. E se digo isto é porque percebo. E se percebo é porque já sou capaz. Parece que comprei uns óculos novos, eu.

 

Não. Não sou assim tão egocêntrica, não.

AS GAJAS BOAS


Tita

22.08.11

 

 

As gajas boas que aparecem no cinema, na televisão e nas revistas. Actrizes, modelos, cantoras, apresentadoras e por ai fora. E os gajos bons nas mesmas condições. É assim que vou começar a falar.

 

Uma vez um tipo estava a “babar-se” em voz alta em frente ao ecrã. Foi numa sala de uma casa. Não me lembro se era actriz ou o que era. A tipa. Mas era “uma gaja boa” suficientemente conhecida para poder estar dentro de uma casa que não era a dela. Sem ter pedido para ali estar. Então, fiquei a saber que ele lhe faria e aconteceria uma série de coisas.

 

E tudo me enervou. Em primeiro lugar, a que propósito está um tipo ao pé de uma mulher com conversas de pessoal que trabalha nas lezírias? Depois, o gajo até tinha uma mãe, uma mulher e uma filha… Era um ordinário. Na minha opinião. E pronto. Isto só por si irrita. E pronto. Acresce no entanto por outro lado, que tenho a impressão de que as mulheres não são assim tão imediatistas e cruas. O George Cloony deve ser muito assediado também a partir das salas de estar das casas das pessoas. Mas talvez tudo seja mais contido. Por hipocrisia? Não por jeito de sensibilidade que as mulheres têm a mais do que os homens.

 

Bom mas o mal podia ser meu. Estava à minha frente uma mulher muito mais gira do que eu. Podia estar com dor de cotovelo, não? Não. Mas tive dúvidas. Se me calava ou soltava a ira. Como sempre, soltei a ira. “Tu não fazes nada a esta mulher porque para ela tu não existes, imbecil!”. Não desfez a cara de parvo porque ainda continuava a achar que isso não era problema. Como se aquele estilo de televoyer de que dava nota, não fosse humilhante. Para ele, claro está. Insisti: “Além do mais, esta mulher não existe”.

 

Expliquei. Temos poucas ou nenhumas probabilidades de confirmar a imagem com a substância. Os homens e mulheres do cinema, da televisão ou da moda são a face visível de indústrias milionárias. A imagem é importantíssima e gastam-se milhões a trabalhá-la. Ou seja, aquelas pessoas, como nos aparecem, não existem. Tem de ser assim. Como elas são de facto não sabemos. Um dia fotografaram a Julia Roberts a passear a pé de jeans e cabelos despreocupados. Como nós gostamos de andar ao fim de semana. Foi notícia. Claro. Estava igual a muitas mortais bonitas. Chocante! Colocou-se a hipótese de Julia Roberts andar metida nas drogas.

 

Este assunto incomoda-me porque não gosto de ser enganada. Não me apanham maravilhada com ninguém que não tenha visto a pelo menos um metro de distância. E como não gosto de ser enganada, também não me apanham maravilhada com alguém que tenha visto a menos de um metro de distância e não falou. E como não gosto de ser enganada não me apanham maravilhada com ninguém que tenha visto a menos de um metro de distância, que falou e sabe Deus o que disse que não me interessou.

A VIDA DE UM MANIPULADOR


Tita

04.08.11

 

 

Manipulação. Conceito. Bonecos. Marionetas. São por definição para manipular. Com determinados objectivos. Fazer o que o manipulador quer. Em princípio e por consequência há espectáculo. As marionetas lembram humanos. Mesmo que sejam alegorias de animais. A semelhança está nos comportamentos. A grande vantagem para elas é que não são. Humanos. É que gente não nasceu para ser manipulada. E não quer ser. Embora aconteça muito. Imenso. A manipular seres humanos como se faz como os bonecos chama-se manietar. E isso é fácil. Basta ter poder ou força. Ou as duas coisas. Manipular as pessoas não é isso.

 

Manipular tem a ver com comportamentos desejados nos outros. Porém, é mais fundo. A ideia é meter a mão no cérebro e modificar o pensamento na essência do ser. O manipulado faz aquilo que lhe faz mal sem ser manietado. Faz porque já acredita que deve fazer. Que não pode fazer de outra forma. Apesar das angústias que vai sentindo.

 

Quem manipula? É isto que me tem ocupado a cabeça. Quem e porquê. Parecem duas questões. Mas é a mesma. No quem está o porquê. Porquê? Porque é na insegurança que tudo começa. Se nem todos os inseguros serão manipuladores, é muito natural que a maior parte deles tenda a ser assim. Então, quem manipula é o inseguro porque é inseguro. Lá está. Uma resposta que transforma dumas perguntas numa só.

 

Mas quem manipula é mais do que inseguro. É também quase doentiamente controlador. No entanto, veja-se, é a insegurança extrema que produz o controlador. Portanto, o manipulador é o excessivamente inseguro e por isso tem de controlar. Assim, quem manipula é quem não tem os mínimos olímpicos da segurança em si próprio.

 

Perceba-se agora o pior de tudo isto. A angústia e o inferno. A vida do manipulador. É assim. Com momentos piores e melhores. Mas é assim. Na verdade, não lhe é possível perder a consciência de quem é. Um manipulador. Do que faz. Manipula. E sabendo isto sabe também que nada do que fazem por ele é genuíno ou verdadeiro. Ainda que seja. É por isso que o buraco da insegurança se alarga e aprofunda à medida que a vida vai correndo. “Esta pessoa não me ama. Pensa que ama porque eu lhe manipulei a alma. Vejo-lhe os olhos infelizes”. O manipulador não tem como sair deste raciocínio vicioso. É um viciado. Não há nada a fazer. Mas retenha-se que não é extraordinário amar uma pessoa assim. Extraordinário seria que ela acreditasse.

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