AZUL - Cap LXXIX
Tita
31.10.16
Despiram-se com rapidez apenas aparentemente apartadas. Em seguida mergulharam nuas na cama. No ato, os corpos foram um de encontro ao outro. Abraçaram-se com força. Madalena falou-lhe ao ouvido.
Madalena: Meu amor. Quero-te para sempre, meu amor.
Teresa não disse nada. Apenas a apertou mais. Madalena alisou-lhe os cabelos com a mão de fora, destapando-lhe o rosto. Beijou-lhe as faces muito devagar.
Madalena: És tão bonita. Meu Deus!
Teresa segurou-lhe a cabeça com as duas mãos e prendeu o olhar no dela. Madalena ficou entontecida com o fulgir daqueles olhos, no momento, cor de prata como o mar quando é coberto pelo sol. Aproximaram as bocas indolentemente. O beijo assim paliado queimava os lábios antes do encontro. E depois foi uma labareda que se acendeu. Em desespero, as línguas molhadas tentaram sem esperança mas com vicejo apagar aquele fogo que se reacendia a cada suspiro. As bocas colaram-se porque derreteram sob aquele calor insuportável. Pararam por desazo. Não conseguiram aguentar tamanho fervor. A temperatura desceu um pouco. Com cuidados, separaram os lábios vagarosamente. Teresa pôde então falar.
Teresa: Não acredito que estás aqui assim. Minha. Toda e só minha. Finalmente.
Madalena: Há muito tempo que só sou tua. Desde sempre. Mas também não acredito que estás aqui. Habituei-me a amar-te na tua ausência. Nem sei se sei fazer melhor contigo do que o amor que faço contigo.
Teresa: Não há mais nem melhor a fazer. Faz amor comigo todos os dias. Cola-te a mim assim para sempre. Vamos buscar esses vinte anos de amor ausente e vivê-los hoje com raiva e ternura.
Madalena: Com paixão e loucura.
Teresa: Com fome e com sede.
Madalena: Nem há vinte anos isto foi assim, minha querida.
Teresa: Há vinte anos ainda tínhamos vergonhas.
Madalena: Hoje o mundo é nosso. E o mundo está dentro desta cama aqui e agora. E amanhã estará no meio da rua para onde formos passear de mãos dadas. Vens passear amanhã comigo de mãos dadas?
Teresa: Com certeza. Eu sou uma exibicionista. Gosto de te exibir, boa. Porque tu és boa. Toda a gente vai ter inveja de mim. Olha, já sei. Vamos para o Chiado. Almoçamos lá. Dás-me comida à boca com o teu garfo e beijas-me na boca de cada vez que eu engolir.
Madalena: E tu seguras a minha mão e agarras-me com força para eu não cair por causa das tonturas.
Teresa: Depois vamos andar a pé a comer gelados. Tu comes da minha boca e eu como da tua.
Madalena: É perfeito porque gostamos as duas de chocolate. Vamos comprar dois gelados de chocolate. Quero ser assim. Pouco imaginativa. Livre para ser pobre de espírito e poder elevar o meu espírito bem alto com o teu.
Teresa: Podemos ver montras e experimentar fatos-de-banho. Escolhemos logo uma meia dúzia para provar. No fim, não provamos nada. Só uma à outra dentro do provador.
Madalena: E não compramos nada?
Teresa: Compramos todos, se quiseres, meu amor.
Madalena: Toma um chocolate.
Teresa: Toma um beijo.
Madalena: Dá-me vinho.
Teresa: Bebe vinho.
Madalena: Amanhã estaremos no Chiado a refluir.
Teresa: Pois sim. Estaremos zonzas mas é de amor. E agoniadas de paixão.
Madalena: Bebe vinho, Teresa.
Teresa: Posso deitando umas gotas de vinho nas tuas mamas e chupar? Gostava de ir bebendo assim.
Falou-lhe ao ouvido em voz baixa.
Madalena: Teresa, tu és a mulher mais ordinária que eu alguma vez conheci.
Teresa: Tu nunca conheceste outra mulher.
Madalena: Que me amasse assim, não.
Teresa: Que te amasse. Ponto.
Teresa ia bebendo. A pele de Madalena ir arrepiando por partes. Abriu as pernas e enlaçou Teresa pela cintura.
Teresa: Tens umas belas pernas. E umas mamas deliciosas. Sabem a vinho de boa qualidade.
Madalena: Toma outro chocolate. Vem tirar-mo da boca.
Teresa pousou o vinho e atirou-se a ela, mordendo-lhe levemente a boca para lhe arrancar o chocolate pela metade. As mãos delas andavam perdidas pelos vários ângulos, dobras e linhas dos corpos confundidos. Até que se reorientaram. Madalena entrou nela. Teresa encaixou o golpe e respondeu com superioridade, arqueando o tronco para cima. Depois Madalena saiu rapidamente e voltou a entrar. Teresa deixou cair o corpo e voltou a subir. Estiveram neste movimento sincopado pelo tempo de uma eternidade. Dos cantos dos olhos de Teresa escorriam lágrimas que pingavam salgadas sobre o rosto de Madalena. Sobretudo, sentiam aquele sal nos beijos bravios que trocavam.
Teresa: És tão puta!
Madalena: Tu é que és. Tu é que estás a ser fodida.
Teresa: Machona. Machista.
Madalena: Sim. Só para te agradar. Mas não podemos contar a ninguém.
Teresa: Tu não és uma mulher respeitável.
Madalena: E tu és uma mulher que não se dá ao respeito.
Teresa: Deixa-me comer-te.
Madalena: Só se eu puder fazer ao mesmo tempo.
Teresa: Vem
O quarto ficou em silêncio. Apenas se ouviam os rumorejos típicos.