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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

AZUL


Tita

25.06.10

 

 

No momento, o carro rodava por entre os elementos, móveis e imóveis, da cidade. E era só. Lá dentro ouvia-se o silêncio. Somos dois gritos calados. A música soltava-se nítida do rádio. Elas, porém, não ouviam. Estavam surdas de silêncios. As mentes perdiam-se de encontro ao objectivo traçado. Iam para casa. Para a cama. Fazer amor. You took a mistery and make me want it. A música que não se ouvia, estava ali apenas para acompanhar os ritmos das emoções. As melodias vinham de qualquer lugar não definido. De uma emissora irreal. Por isso, a estranha selecção musical. 

   

 

 

Até almas mais aventureiras e corajosas sentem, pelo menos, um respeito reverencial em relação ao desconhecido. Como se sairia do confronto com ele? Era nisto que Maria pensava. A verdade é que lhe doía a alma de uma forma física. Como se tivesse dores musculares. O sofrimento que antes lhe fora imposto enfraquecera-a. Sentia-se como uma criança desprotegida. Muito pequenina. Estava anormalmente fragilizada. Assim que o dia amanheceu lá no mar alto da paixão/Dava pra ver o tempo ruir/Cadê você, que solidão/Esquecerá de mim e enfim/De tudo o que há na Terra não há nada em lugar nenhum/Que vá crescer sem você chegar/ Longe de ti tudo parou/Ninguém sabe o que eu sofri. A dor da separação precoce que não chegou a acontecer, ainda lhe tocava assim. Desta maneira.

 

 

 Ana não a via de fora para dentro. Mas ao contrário. No teu poema existe um verso em branco e sem medida/Um corpo que respira em céu aberto/Janela debruçada para a vida/No teu poema existe a dor calada lá no fundo/ O passo da coragem em casa escura/E aberta uma varanda para o mundo. Tinha mergulhado dentro do espírito de Maria. Buscava-a nas profundezas do ser. Navegava a sua alma. Para a ver melhor. Existe um rio, a sina de quem nasce fraco ou forte/O risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste/Que vence ou adormece antes da morteEmergiu no fim da canção. Agora, que tinha a imagem completa, podia vê-la com toda a nitidez. Existe um rio/O canto em vozes juntas vozes certas/Canção de uma só letra/ E um só destino a embarcar/No cais da nova nau das descobertas/No teu poema existe a esperança acesa atrás do muro.O carro estava parado junto ao prédio. Fixaram-se. O mesmo amor expelia pelos olhos energias convergentes. Era exactamente o mesmo género de amor. Existe tudo o mais que ainda me escapa/E um verso em branco à espera do futuro.

 

 

 

 

 

Maria deixou-se conduzir à casa, ao quarto e à cama. Foi a música que a levou. Aquela música que continuava a tocar dentro delas. A melodia que substituía todas as palavras. Ana despiu-a, deixando-a totalmente nua, estendida sobre o edredão. Parecia-lhe que ela acabara de morrer. Recuou. Foi capaz de se afastar dela. Só para a ver. Maria deixou-se estar imóvel. Fechou os olhos para não incomodar Ana.

 

Ana estava de pé embriagada de espanto. Continuava vestida. Tudo em si parara. Tal qual como o resto do mundo. You’re just too good to be true/Can’t take my eyes of you/You’ll be like even to touch/I Wanna hold you so much. Despiu-se. Manteve-se, no entanto, onde estava. De pé. Do mesmo modo. Entretanto, Maria abriu os olhos no momento em que virou a cabeça para ela. O sorriso foi-lhe transportado no movimento do olhar. Dos pés à cabeça de Ana. O olhar. You looked inside my fantasies/and made each one come true/Something no one else had ever found a way to do. Estendeu-lhe a mão. Ana foi.

 

 

Tudo acontecia com a solenidade das grandes ocasiões. Dos grandes eventos. Involuntariamente. Olharam-se com a seriedade de quem preside a um ritual. Apenas as pontas dos dedos actuava sobre a pele. Durante algum tempo. O sangue a ferver pulsava nas bocas, no entanto. Por isso o beijo interminável colou os corpos nus que se confundiram.A musica aproximou-se devagar. Au premiere temp de la valse/Toute seul te sorrit dejá/Une Valse à trois temps/ Une valse à quatre temps. Subia de tom.Une valse à vingt temps/ Une valse à cent temps.Explodia! Une valse à mil temps/ une passion de vignt ans/parsque tu as ving t ans et j’ai vingt ans. Dans le premirére temp de la valse 

 

 

 

A paixão afrouxou um pouco. Para deixar respirar o amor através das bocas que buscavam ar uma na outra. If i could make a wish i think i’d pass/can’t think of anything i need/No cigarettes, no sleep, no light, no sound/Nothing to eat/No books to read/Making love with you left me peaceful, warm and tight/What else could I ask/there’s nothing to be desired/Sometimes all I need is the air that I breath and to love you.

 

 

 

 O que se tornava difícil de suportar era aquela alternância de emoções, que mudava todos os ritmos intempestivamente, confundindo tudo. Sem possibilidades de contrariar nada, elas abandonavam-se. Deixavam os corpos vibrar de acordo com os sons. Entregavam as almas indefesas aos caprichos da música. Ver te correr /ver te pedir me mas/y se volviera a nascer repetiria/y se volviera te pediria mas calor/Me quemas con la punta de tus dedos/Tus manos hacem chagas in mi piel/Me abraco con tu lengua qui es de fuego/Tu ja sabes que me tienes quando quieras/Ja sabes como soy/Y que calor/Me gusta tu infierno. Ana provava o corpo de Maria. Incendiava-a. Molhava-a com saliva. Acalmava-lhe a pele. Entrou dentro dela vezes sem conta. Saiu. Entrou pela virgindade dela. Furou. Maria sentiu a devida dor. Ana bebeu o sangue com devoção. Passou-lhe os dedos pela boca. Pintou-lhe os lábios de vermelho. Tu vieste em flor/ eu te desfolhei/tu te deste em amor.

 

 

 Ana: És minha?

Maria: Toda!

 

Nenhuma delas sentia obscenidade no que acontecia.

 

Ana: Boazuda!

Maria: És tu.

 

Nem uma ponta de vergonha.

 

Maria: Vem, faz tudo outra vez.

Ana: Atrevida!

 

O mundo tinha o tamanho daquelas quatro paredes. Era essa a dimensão do universo. Aquele quarto. Os únicos seres viventes eram elas. De modo que podiam dizer e fazer tudo o que queriam, sem limites.

 

Ana: Tens que pedir.

Maria: A sério?

Ana: Implorar, pode ser?

Maria: Fode-me e chupa-me outra vez, querida.

Ana: Tu não tens vergonha…

Maria: Desejo-te.

Ana: E eu a ti.

 

Rolou para cima do corpo dela. Mais uma vez. Maria fechou os olhos. Devora me otra vez/ven, devora me otra vez.

 

Mas depois, como uma inevitabilidade, o prazer do amor recuperou completamente o espírito de Maria. Cresceu.

 

Maria: Agora vais ficar ai. Bem quietinha.

 

A bela amazona sentia-se já plena de vigor. Cheia do seu espírito guerreiro. Preparava-se então para subir para a sua montada. Desejava cavalgar velozmente a sua égua. Queria-a sem freios. Deu-lhe de esporas. Ela empinou. Maria sentiu uma vertigem. Depois, fê-la desenfrear numa correria. Sentiu-a a querer afrouxar, de vez em quando. Não lho permitiria. Feria-a nos flancos. A égua relinchava de dor. E sangrava. O animal acabou por disparar incontrolado. Como Maria desejava. Manteve-se habilmente na sela até a égua estacar. Completamente extenuada. Desmontou.

 

Passou-lhe as mãos pelo corpo derretido em líquidos de várias qualidades. Lambeu-lhe as zonas doridas. Engoliu-lhe as lágrimas. Uma por uma. O sal fez-lhe sede. Foi beber à fonte de água corrente. Ao lugar que, no momento, era o centro do seu universo. O seu mundo provisório. Ana enfiou os dedos nos cabelos dela e respirou fundo. Nobody does it better.../Nobody does it half as good as you/Babe your the best!

 

 

Maria: Querida, querida.

Ana: Diz, minha querida.

Maria: Querida!

Ana: Minha querida.

 

Apertaram-se muito. Como de costume. When you wish upon a star/Makes no difference who you are/Anything your heart desired/Will come to you/If your heart is in a dream/No request is too extreme/When you wish upon a star/ As dreamers do.

 

 

 

 

Davam as mãos com os corpos adormecidos. Há um bocadinho que nada diziam. Cada uma tinha-se retirado para uma tomada de consciência individual. Estavam a regressar cheias dos momentos ainda há pouco vividos. Principiavam, agora, a querer saboreá-los. Depois de os terem consumido.

 

Foi então que Maria, num gesto amplo alterou o cenário. E deu novas falas ao texto. Ficou repentinamente muito séria.

 

Maria: Tu tiraste-me a virgindade.

 

Ana olhou-a ardentemente. Não sabia falar.

 

Maria: Percebeste que eu te dei tudo, para além disso?

 

Pegou na mão dela e exibiu-lhe os dedos com réstias de sangue. Mesmo em frente aos olhos. Ana tocou-lhe o canto da boca com eles.

 

Ana: Eu sou tua.

Maria: Sem dúvida.

 

Ana franziu um pouco a testa.

 

Ana: Doeu?

Maria: Nada. Só no peito.

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