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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

IMPACIÊNCIA


Tita

24.05.11

 

 

Noto que tenho uma preocupação permanente quando estou ao pé de estranhos. É a preocupação de estar sempre com a cabeça distraída e as mãos ocupadas. Isto sucede-me na fila da caixa do supermercado, por exemplo. É claro que estou sempre a dizer que detesto ir ao supermercado. Não é só por causa disto. Mas tenho a certeza que é muito por causa disto. Desta má sensação de não saber o que fazer enquanto estou ali à espera com uma pessoa à frente e outra atrás.

 

Também não gosto de estar parada à espera de qualquer coisa. Este é o outro motivo porque não quero mesmo ir ao supermercado. Sim, já existem as caixas self service ou lá o que é. Mas também estas não servem. Agora toda a gente já sabe “andar” naquilo. Estão sempre ocupadas. Se os supermercados não tivessem caixa, eu não teria problemas. Teria outros. De qualquer modo, vou imensas vezes ao supermercado.

 

Não gosto de falar com estranhos. Só com crianças. Talvez ainda não me tenha passado. O respeito por uma das orientações cruciais da infância: Nunca falar com adultos que não conheço. Isto leva-me de volta ao supermercado e à menina ou menino da caixa ou à operadora das caixas self service. Tenho de falar com eles. Nunca consegui finalizar uma operação self service sem incidentes. E esforço-me tanto! Porque detesto falar com estranhos, como disse.

 

De repente este incómodo de me incomodar com o contacto com os outros começou a incomodar-me um bocadinho. Daí que, sendo eu uma psicoanalisada, entrei imediatamente no processo de perceber. Ao meu melhor estilo, comecei por imaginar que estava a desenvolver uma neurose com raízes profundas noutro facto qualquer da minha vida ocorrido por alturas da vivência do complexo de Electra. Desafio, aliás, que eu não perdi nem ganhei. O que me custou anos de terapia.

 

Mas não. Afinal a explicação é simples. Vejamos. Quando uma pessoa passa grande parte do seu tempo a treinar a cabeça e os gestos para pôr um ar alheado só para ocupar o tempo estupidamente morto, acontece o que me acontece. Sente-se totalmente “fora”. E é assim que eu me sinto desenquadrada da cena simples que estou a vivenciar em cada momento. Dizer que quero sacos e pagar.

 

Pois para me distrair. Já dei por mim algumas vezes a olhar para as coisas que as pessoas compram. E a tecer mudas considerações críticas. Porém, interrompo sempre estes raciocínios. Afinal que tenho eu a ver com isso? Penso. Nada. Pois. Afinal irrita-me estar a deliberar em pensamento sobre o que não me diz respeito. Sobretudo se não me interessa. E de facto não me interessa se há gente a comprar iogurtes de maracujá. Por outro lado, lembro-me imediatamente que os outros também podem estar a olhar para aquilo que eu levo. E chateia-me que haja gente a pensar que eu estou a tentar o suicídio dadas as quantidades astronómicas de Coca-Cola Zero que tenho sempre no carrinho.

 

Claro que é uma ilusão isto de achar que se nós não fizermos os outros também não fazem. De qualquer modo, a minha consciência fica mais tranquila. E eu fico mais coerente comigo própria. Na verdade só quero sair da fila. Tanto que desejo ardentemente que todas as pessoas que estão à minha frente cedam de imediato a um ataque cardíaco. E guardo também um ressentimento inconfessável pela menina ou menino da caixa ou pela operadora de pagamentos self service. Podiam ser mais despachados, não!? É por achar tudo isto que me sinto nada confortável quando chega a minha vez na caixa.

 

Não. Não ando mal fodida, não.

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