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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

HOJE PODEMOS FALAR


Tita

25.04.17

 

Resultado de imagem para 25 de abril de 1974

 

Andava eu no 10.º ano quando a professora de Filosofia nos informou que uma das grandes reações logo após a Revolução do 25 de abril foi a corrida aos cinemas onde eram exibidos filmes pornográficos. Com efeito, segundo a senhora, viam-se filas intermináveis na zona da Avenida da Liberdade junto ao hoje desativado Cinema Olympia. Também havia muitos senhores a vender na rua revistas pornográficas (que até as crianças podiam comprar) e a prostituição entrou em alta, espalhando-se sobretudo pela zona da Baixa. Portanto, com a liberdade política surgiu imediatamente a democratização sexual (masculina), uma vez que, antes, a pornografia e a prostituição estariam apenas ao alcance de algumas bolsas, segundo a mesma fonte.

 

Até aqui nada de novo, pensei na altura. A “liberdade sexual” dos homens era total e apreciada na ditadura. Só não era democrática, como referi. No mais, por décadas mantiveram-se as desigualdades quanto ao género, as quais teimam em perdurar. De facto, na escola onde eu andava, as meninas não eram muito bem vistas se faziam sexo, sendo certo que os meninos continuavam a ser uns heróis em função das mesmas práticas.

 

Não obstante os importantes factos que antecedem, hoje não quero ir por aí. Hoje só me apetece sublinhar que o que mais importa do discurso da minha professora de Filosofia é o facto de ela o ter podido proferir. Contar uma estória da história aos seus alunos e alunas.

 

Embora não saiba sentir o que isso é, acredito que o que mais mal fazia à alma das pessoas subjugadas pela ditadura era não poderem falar sem medo. Na verdade, não sei o que significa falar com medo. Desconfiar de um e de todos. Construir muros de solidão individual com reflexos profundos no tecido social. Obliterar o amor e a solidariedade entre os homens e mulheres deste país. Não. De facto não sei como não se falava na ditadura.

 

SOBRE O 25 DE ABRIL


Tita

25.04.16

 

Sobre o 25 de abril, o que mais me marca é o facto de o meu pai ser contra. Foi toda a vida e nunca mudou de opinião. Como o meu pai me marcou a vida toda (e ainda marca, felizmente), o meu processo de compreensão do fenómeno foi um tanto complexo.

 

Lembro-me de estar na escola no próprio dia dos acontecimentos. Era muito pequenina. Fui lá deixada pelo meu pai. À porta do colégio. Tiveram que mandar chamar alguém para me remeter a casa. À noite, quando ele chegou, ficou histérico com o facto.

 

Mais tarde, já na escola preparatória, uma professora qualquer mandou-nos fazer um trabalho sobre o 25 de abril. Fui questionar o meu pai. Fui entrevista-lo para o trabalho. “O 25 de abril foi a pior coisa que aconteceu ao nosso país!”. Foi assim lapidar. Recordo que foi aí que comecei a discordar dele. Todos os meus entrevistados tinham dito que o 25 de abril “foi o melhor que nos aconteceu”. Aquela professora qualquer também achava o mesmo e os meus coleguinhas estavam convencidos. Comecei aí a tentar pensar pela minha cabeça.

 

Não me lembro de nada da ditadura. Só sei o que li nos livros e vi na televisão. O que me basta. Não sei se atualmente somos livres para ser e dizer. Mas somos mais livres. Não sei se existe a democracia a que se refere o princípio constitucionalmente consagrado. Mas existe mais do que antes. Há muitas coisas mal enquadradas, mal encaixadas, mal estruturadas. Existe uma liberdade e uma democracia que não bastam. Mas antes era bem pior. Por isso eu agradeço que o fenómeno tenha acontecido.

 

Sinto que estou para aqui a falar como se estivesse a tratar de um acontecimento pessoal. Mas não sei se está mal assim. O 25 de abril, como acontecimento coletivo de índole político-social, respeita à nossa coletividade de cidadãos mas projeta-se inelutavelmente na esfera de cada um de nós. O 25 de abril é por isso um fenómeno individual. Se não fosse pelo 25 de abril, eu nem sequer tinha este blog.

 

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