CARÊNCIA
Tita
14.11.16
Salvaguardados os mínimos de dignidade e conforto a que todo o ser humano legitimamente aspira, tudo o que as pessoas querem na vida é afeto. Mesmo que imaginem que só andam à procura de dinheiro ou de poder. É que com dinheiro ou poder (ou com as duas coisas) pode criar-se uma aparência para o próprio eu. De que se é amado. Em casa e na rua. Assim, as pessoas tornam-se demasiado ambiciosas. Porque são muito carentes.
É de assinalar que o grande problema das pessoas mais carentes, aquelas que procuram mais afeto, portanto as que mais buscam dinheiro e poder, é que não sabem dar afeto - é por esta razão que oferecem bens matérias ou jobs (for the boys and girls).
Vem a propósito falar de sexo. E a propósito de sexo, lembro um livro do Daniel Sampaio onde estava explanada, sob a forma de depoimento, a história dos afetos de um homem. Este homem, por hábito (que depois se transformou num vício) fazia muito sexo com parceiros diversos. Sobretudo em casas de banho públicas. Segundo o mesmo, o ato sexual, cada ato sexual, era um ato de amor. Era amor vivido infinitas vezes por cada uma das vezes que era praticado. Só uma pessoa extremamente carente vê e sente as coisas assim. Portanto, quanto mais viciado em sexo é um ser humano, mais carente ele se revela.
Mas hoje está a lua grande. Assim, é apropriado falar de amor. Amar é uma dependência. Amar é uma independência. Amar é uma dependência porque simplesmente não se concebe viver sem viver ao lado do ser amado. Se ele nos falta, ocorre como que uma ablação na alma. E é muito difícil viver com a alma incompleta. Nos casos mais graves pode-se morrer. Ou, nas situações quase tão graves, pode-se querer sinceramente morrer, o que deixa um ser humanos num estado semelhante a estar morto. Amar é uma independência apenas porque o ser humano fundido noutro ser vai para o mundo sem grandes necessidades. De afeto. Naturalmente.