Passou o Natal e chegou janeiro. Joana regressou do Porto e Madalena de Bragança. Teresa e Clara emergiam também do recolhimento familiar em que tinham estado toda a semana passada e onde foram felizes como sempre na Alameda. Porque estavam sem elas e uma com a outra. Como outrora. A paixão e a mentira colaboram. Por vezes colaboram. E quando assim é as almas andam pesadas, os espíritos confundidos e os corpos ficam demasiado doridos e indolentes. Em janeiro é costume ter esperança de que alguma coisa vá acontecer. De que algo vá mudar para melhor. É sempre assim no começo de um novo ano. Joana compreendia bem que não poderiam viver assim. A fazer amor às tardes e a viver apenas de angústias antes e depois. Teresa reconhecia que não poderiam continuar só a fazer amor. Clara desejava que a mãe a compreendesse e aceitasse. Madalena ansiava pelo dia em que lhe fosse permitido desligar-se de Teresa.
Os reencontros sucederam como o que se aguardava. Embora mais furiosos ainda. Por causa dos afastamentos. As peles rolaram. E rodaram. E colaram. Por fim, as bocas sacrificadas afastaram-se só para respirar um bocadinho e deixar entrar a saudade.
Joana: Até amanhã, amor.
Clara: Até amanhã, meu amor
Madalena: Adeus, querida.
Teresa: Adeus, amor.
E os dias foram passando assim repetidos mas cheios de coisas novas. Como sempre. Tal qual tinha sucedido no ano velho. Costuma ser assim no ano novo. O tempo passa sem que se produzam grandes alterações nas vidas. A menos que se tomem decisões muito sérias.
Teresa: Amanhã é sábado. Quero ir passear contigo amanhã pela tarde. Vamos a Sintra.
Madalena: Vamos a Sintra fazer o quê?
Teresa: Passear de carro. Nunca fomos passear juntas. Tu só queres estar aqui.
Madalena: Sabes bem que eu estou aflita com a tese. E…
Madalena não queria outra vida com Teresa. Basicamente aterrorizava-se com a ideia de serem namoradas.
Teresa: Madalena, não me dês desculpas. Em vez de irmos para a cama amanhã à tarde vamos passear a Sintra.
Madalena: Mas eu prefiro ficar a fazer-te. Não me canso e sinto sempre falta. Tu não? Tu sim. Eu sei que sim. Tu também preferes ficar na cama comigo em vez de ir agora para Sintra.
Teresa: Não.
Madalena: Não? Estou a errar as fórmulas químicas, já vejo.
Teresa: Não. Quero mesmo falar contigo.
Madalena: Então, querias passear e afinal é para termos uma conversa? É assunto sério?
Teresa: Não te armes em parva. Chegou o momento de falarmos sobre nós em termos diferentes do que temos feito. Sem a sombra do passado.
Madalena: O passado está vivo.
Teresa: Não é para discutir esse assunto hoje. É amanhã. Quando formos a Sintra.
Madalena: Vai ser uma conversa igual a mil que já tivemos.
Teresa: Veremos.