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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

AMEAÇAS


Tita

22.10.07

 

 

Um dia destes assisti na televisão a um programa sobre leões e hienas. Não foi o primeiro que vi sobre o assunto. Certamente, não será o último. E continuo sem perceber o que fazem os leões machos na vida. Esta história era sobre leões assim, e por esta razão,  tratava da vida e dos problemas das leoas.

 

Tratava-se de uma leoa que  tinha acabado de ter bebés e que foi azaradamente mordida por uma cobra. Ficou fraca e, gradualmente, indefesa. O seu grupo de sociabilização, onde se encontrava perfeitamente integrada, deixou-a entregue à sua sorte, prosseguindo tranquilamente o trilho colectivamente traçado. A leoa ficou ferida e com as crias para alimentar e proteger. À medida de que o veneno ia penetrando no seu sangue, misturando-se na corrente sanguínea, a leoa  ia decaindo. Tinha 48h para esconder os filhotes, arranjar-lhes comida suficiente e afastar-se deles. Assim fez. Depois, depois foi para um local dentro do possível protegido para esperar. Esperar que o veneno a matasse ou que o seu  organismo vencesse o veneno. O prazo era de 48 horas.

 

Os leões e as hienas não se suportam. Percebe-se o lado dos leões. As hienas estão sempre à espera dos seus restos. Dos restos das caças e dos restos mortais dos próprios leões. Aquela leoa estava certa de que as hienas viriam. Primeiramente, para lhe devorar os filhotes.

 

Posteriormente, apareceram. Em grupo, naturalmente. Formaram círculos de riso em volta da leoa ferida. De dia e de noite. Esta não se conseguia mover. As hienas aproximavam-se, fechando o cerco, apertando o circulo . A leoa não resistiria a um ataque. Mas rugia. E as hienas, porque são assim, porque são cobardes, ainda assim, temiam. E não se decidiam a atacar. Giravam e riam. Aguardavam agitadas que o veneno fizesse. O que elas não tinham coragem de fazer. Durante 48 horas esta leoa lutou contra a morte.

 

Venceu. É verdade. Venceu o veneno. E as hienas. Ao fim de dois dias levantou-se. Acto suficiente para as hienas partirem provisoriamente em debandada. Procurou os filhos. Foi ao esconderijo. estavam mortos, semi-devorados . As hienas são espertas. A mãe não pôde fazer nada. Podia ter sofrido uma recaída. Podia ter parado por ali. As hienas voltaram. Ela iniciou a sua caminhada. O seu objectivo era encontrar o grupo. Estava esfomeada, fraca  e só. As hienas acompanharam-na. Nunca a atacaram. Esperavam em movimento de perseguição. Mas a leoa encontrou o grupo. As hienas partiram de vez. A leoa salvou-se.

 

Não é por acaso que se formam grupos. A necessidade de pertença e o desejo de integração são componentes fundamentais do instinto de sobrevivência. O instinto de sobrevivência é um INTERESSE. O maior de todos.

 

Não sei bem o que esta  história tem a ver com a informação seguinte. Mas intuo alguma ligação por isso vou dizer que alguém de crédito disse que a mentalidade não muda antes de mudarem os processos de vida. Ou seja, as pessoas só mudam de mentalidade se forem obrigadas a isso. Se as coisas, as circunstâncias, mudarem de tal forma que não reste outra alternativa senão o comportamento correcto para chegar à ideia certa consentânea com a correcção daquele. Assim, e por fim, pela repetição imposta de um determinado comportamento, o indivíduo começa a acreditar que o que tem de ser deve efectivamente ser. E já nem se lembra que, certa vez, o obrigaram a agir daquele modo, pensando que sempre pensou assim. Creio que já sabia isto, mas não deixei de me embasbacar. Sabe-se lá porquê.

 

Mais de metade da energia das pessoas perde-se em cálculos. Cálculos sobre métodos de antecipação aos actos dos outros. Para tirar partido ou, sobretudo, para evitar golpes. Golpes que se imagina virão porque sim - aliás esta é a síntese da razão de ser dos loucos investimentos em defesa militar que os Estados fazem. Não existe a necessidade de necessariamente existir uma ameaça. Basta a possibilidade de se poder vir a ser ameaçado. O Estado somos nós.

 

Uma rapariga foi contratada para desempenhar as funções de criada pessoal de outra rapariga. Partiu de Londres para o campo. A casa para onde foi era chocantemente diferente de tudo ao que estava habituada. Diferente em tudo, daí o choque. Não sabia que era obrigação da criada de sala servir-lhe chá à hora do chá. Assim, pensou que havia engano. Porém, como não havia engano agradeceu. A partir daí a criada de sala passou a ser muito hostil, embora lhe servisse sempre o chá devidamente. Mas ela agradecia sempre. Até que se fartou e deixou de agradecer o chá, bem como suprimiu uma série de outras considerações e delicadezas. Isto em relação à dita criada de sala, como também com o restante pessoal doméstico, mordomo incluído. E a partir daqui passou a ser bem tratada, acabando-se as desconfianças. Aquela gente estava habituada a um sistema que funcionava dentro de um mundo particular que era o seu. Tudo o que de diferente lhes surgia pela frente era visto como uma afronta. Quem se julgava a tal que veio de Londres para agradecer o chá ou dizer bom dia ao moço da estrebaria? Só a dona da casa é que agradecia. Porque era dona da casa. Os criados não agradecem uns aos outros. É assim que estão habituados a ser tratados. É assim que querem que as coisas continuem. É assim que se sentem seguros e a ameaça desvanece-se.

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