HUMOR e HOMOFOBIA
Tita
07.03.07
A homofobia é uma fobia. Logo, um medo irracional. No caso, é um medo irracional aos homossexuais. Conheço algumas pessoas, poucas, que têm aracnofobia. O que consiste num medo irracional às aranhas. Bom, se o medo é irracional, é porque não está razoavelmente fundado. Daí as reacções irracionais que o medo irracional despoleta. Por causa das aranhas já vi pessoas a pular e a gritar,como se houvesse incêndio na sua própria roupa do corpo. Outras ficam muito caladas, com o olhar fixo no abstracto e o corpo rígido. Percebe-se a aceleração cardíaca. Não dizem nada. Estão mortas. De medo. Ainda um terceiro tipo: estas reagem. Pisam a aranha num assomo de agressividade sem precedentes. São impulsionados pela tensão nervosa extrema incontrolável. Mesmo depois do esmagamento da carcaça do bicho não descansam. A ideia é fazer eclipsar também os seus restos mortais.
Não me lembro de algumas vez assistir a uma crise de homofobia ao vivo. Mas já li nos livros e já vi nos filmes, na televisão e na internet. Por vezes, o homofóbico salta sobre a aranha e desata a pontapeá-la. A ver se a mata de vez. Noutras circunstâncias, o homofóbico sai a correr. Há, ainda casos, em que é dominado por uma crise de catatonia. Fica tenso e calado, repetindo sempre o mesmo gesto reiteradamente. Este gesto é tipicamente o do "saltinho para o lado e enxotar", "saltinho para o lado e enxotar", "saltinho para o lado e enxotar", "saltinho para o lado e...".
Obviamente, há qualquer coisa de neurótico na homofobia. Como na aracnofobia. Como em qualquer fobia. A neura é tanto maior quanto menos razoáveis e desporpocionadas são as respectivas reacções. A visita a um médico é a melhor solução para quem abriga uma fobia já demasiado insustentável, com graves reprecussões na sua vida quotidiana.
Poderia pensar-se que há aqui alguma coisa de homofóbico. Nisto que vou fazer em seguida. Mas não há. A matéria não é minha. E para o que importa tem graça. Não posso deixar de mostrá-la e comentá-la. Só porque possa parecer politicamente incorrecta. O que tem graça é para rir. Se é para rir, vamos rir. Com certeza que há limites. O mais importante é o da dignidade das pessoas. Nunca vi ninguém sentir-se menos digno só porque teve esta ou aquela atitude ridícula. O ridículo é humor porque faz rir. A noção do próprio ridículo é muito difícil de apreender. Falta-me muitas vezes. Conforta-me o facto de saber que não estou só.
Segue-se, em reprodução, uma matéria riquíssima. Tão rica que podem sem dificuldade retirar-se meia duzia de valiosos outputs. Porém, para mim basta o nome do personagem principal. Mardoqueu. Isto, este nome, estou certa, é o resultado do hábito que todos os brasileiros têm de evitar dar nomes portugueses aos filhos. Preferencialmente, escolhem nomes americanos. Como Maicon, por exemplo. Escreve-se Michael. Mas eles ouvem Maicon. Logo, Maicon é. No caso em análise, a origem tem de ser Murddock. Os pais decidiram que haveria de ser Murddock. Não sabiam escrever, logo seria como soava: Mardoque. Quem colocou ali o u final e criou um Mardoqueu, não sei. De qualquer modo, o nome da criança está à altura do destino do homem: deputado e pastor da IURD. Um predestinado.
"Deputado sergipano condena criação da "Igreja Gay"
O deputado estadual e pastor Mardoqueu Bodano (PL-SE) se posicionou contra a criação da Igreja Gay, que está sendo organizada há pelo menos três semanas por homossexuais sergipanos.
Para ele, "o homossexualismo vai de encontro à palavra de Deus, que criou o homem sendo a sua imagem e semelhança e fez a mulher para ser a sua companheira". Bodano lembrou que a igreja é uma congregação religiosa que abriga todos os que se sentirem oprimidos ou desejarem orar a Deus sem objeto de discriminação e não é uma instituição segmentada e apenas voltada para os gays.
"A igreja é uma instituição para se redimir dos pecados e uma boa oportunidade dessas pessoas tirarem o diabo de suas vidas, este espírito maligno que gera toda essa situação de homossexualismo", disse Mardoqueu, ressaltando que se o ser humano pensar um pouco mais em Deus não há espaço para este tipo de discussão.
Segundo o parlamentar, que é pastor da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), Deus criou a mulher para poder ajudar o homem, principalmente nos momentos mais difíceis de nossas vidas. Para ele, o ser humano não pode ir de encontro à natureza e o homossexualismo, até que se prove o contrário, não atende os princípios regidos pela bíblia sagrada.
Por outro lado, não é que as paradas gays me incomodem. Na essência das coisas, não são muito diferentes de quaisquer outras manifestações pelos direitos de pessoas a coisas. São tão populosas e ruidosas como qualquer passeata da CGTP, por exemplo. Também, são tão coloridas e musicais como a Festa do Avante. E é bem verdade que são muito mais divertidas do que os eventos exemplificativos indicados. Quer dizer, não há dúvida que, ali, o pessoal diverte-se imenso. Aliás gay quer dizer... isso mesmo: alegre.
No entanto, confesso, estranho a ideia de misturar pão com circo. Quem costuma dar o circo dá o pão também. Neste caso, não. O povo pedinte é que faz o circo. Não entendo. Não entendo, sobretudo porque, parece-me, no meio de tanta palhaçada alguém se vai recusar a entregar as bolas de padaria. Provavelmente, estou a ser reaccionária. Porque não se há-de misturar assuntos sérios com diversão? Sim. Estou a ser reaccionária. Tal como os governos e a generalidade dos indivíduos que integram as sociedades modernas.
As imagens e os excertos jornalísticos que se seguem foram publicados em meios de comunicação social de grande divulgação. Reportam-se a factos ridículos. Exibem aparências e comportamentos ridículos. Toda a gente percebe que os gays que vão às paradas gays não são todos assim. Provavelmente, nem, sequer, a maioria. Contudo, os que aparecem são estes. Os chocantemente ridículos. Pelo excesso de liberdadade coartada. Como é evidente, a Reuters e os outros agentes da notícia não trabalham em cima da normalidade. Será que os gays não percebem isto? Ou, se percebem, não se importam?