EU SOU UM FLOP
Tita
15.05.07
Há uns dias eu era perfeita. Hoje sou um flop ou a imperfeição deprimente. Ainda bem que não sou a Flappy . A Flappy era um esquilinho fêmea. Não que não goste de esquilos. Na verdade, aqueles que aparecem nos desenhos animados são sempre criaturas com um ar muito terno. Porém, acho que não quero ser um esquilo fêmea dos desenhos animados, ou a Flappy . É assim. Gosto da vida difícil. Se fosse a Flappy tinha uma vida fácil. Rejeito. Mesmo que não fosse a Flappy, mas um outro esquilo qualquer, até um esquilo real, teria uma vida mais fácil.
Não quero. Não gosto, mas a minha vida é andar na luta. Tudo se passa entre mim e comigo mesma. Ou não teria este blog.
Pensei ser melhor do que sou em coisas que achava que tinha a certeza que era. Estou sempre a ser surpreendida. Sou perfeita onde não sei. Sou uma desilusão pessoal em campos onde não podia imaginar.
Pelos vistos 6 anos de terapia não representam mais do que a infância da arte de me perceber. Quantas décadas terei de lá andar? E sobreviveremos os dois ao tempo? Eu e o meu terapeuta? Podemos ambos morrer sem resolver absolutamente nada. Porque o tempo passa e ninguém é eterno. Mas, mesmo que tudo se resolva antes do fim, mas perto do fim. Que vantagens virão disso? Talvez a descoberta de alguma verdade.
Eu, de facto, não sei viver. E, também de facto, não se pode dizer que sou imatura e esta é a causa. Sou diferente. Isto é tão verdade como é certo que há diferenças entre todas e cada pessoa. De qualquer modo, eu noto que me comporto de um modo diferente. Sou diferente no meu comportamento, portanto. É o que posso justamente dizer sem me precipitar em fantasiosas percepções.
Na verdade, embora tenha pretensões, eu não conheço as pessoas. Com efeito, embora goste de pensar que sou melhor do que os outros, a verdade é que acredito em super poderes alheios. De todos os alheios. Cada pessoa tem super poderes . Menos eu. Eu sou humana e frágil. É por isso que sou diferente. Os outros são humanos e fortes. Por isso são melhores do que eu. E podem sempre superiorizar-se naquilo que quiserem. Receio isto.
Eu dou o flanco. Porque tenho flanco para dar. Os outros têm flancos, mas não dão. Os flancos dos outros não são para dar. São para proteger. São flancos melhores que os meus. Merecem ser protegidos, enquanto os meus não.
Eu acredito no erro e no pedido de perdão. Assumo os meus erros, os meus equívocos e as minhas mentiras com candura, franqueza e frontalidade automáticas. Creio na redenção e na possibilidade de melhorar aprendendo. Acredito que os outros são melhores do que eu e estão aqui para me ensinar. Mostro o flanco para me verem as feridas, ou os castigos pelos males anteriormente praticados. Mostro o flanco para se ver o desenho das minhas costelas de criança. Espero protecção. Mostro o flanco porque não levo a minha pele tão a sério que considere que tenho que a esconder permanentemente. Exibo as cicatrizes doas meus defeitos, fraquezas e debilidades. Espero ver a humanidade nos outros.
Não vejo nada. Também sou cega.