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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

O MEU GÉNERO DE INSEGURANÇA


Tita

04.06.07

 

Uma pessoa insegura como eu necessita de referências.  As pessoas inseguras como eu pertencem a um determinado tipo de inseguros. Imaginemos uma estrada. A vida como um caminho a percorrer, desde o mistério do nascimento até ao mistério da morte. Da primeira à ultima grande incógnita há um caminho que as liga. Uma caminhada a fazer. O meu caminho é uma estrada larga e alcatroada. Toca-me em sorte o melhor desenho de engenharia, os melhores materiais, os melhores executores. Uma estrada longa, larga e perfeita por onde, à primeira vista, se pode iniciar um percurso seguro e rápido. E prosseguir cheios de espontaneidade.

 

Sentimos que o primeiro engenheiro de todas as estradas para todas as vidas é Deus. A Ele não se juntam os engenheiros de cá, embora intervenham, também, no processo. Porque tem de ser assim.

 

A minha estrada foi concebida  larga, alcatroada, recta e e bem sinalizada. Como disse, um caminho seguro para andar depressa, à primeira vista. No entanto, por falta de tempo e de verba, como é costume humano, em muitos lados do seu troço havia cortes. Falta de alcatrão com pequenas e grandes pedras por retirar, lamas das chuvas e crateras. De entre estas últimas, umas são estreitas, contornáveis por salto, outras tão largas como o leito de um rio normal. Perante estas, era preciso repensar tudo. O que fazer para continuar, se parar é morrer, e isto é verdade?

 

Fugir constitui a primeira opção fornecida pelo instinto de sobrevivência. Voltar o caminho todo atrás em direcção ao útero. Mesmo sabendo que o regresso ao princípio é deitar o tempo fora. Pior, é correr por um caminho cujo destino há muito que foi fechado e não nos disseram nada. Agora existe outra coisas. O mundo do medo provocado pela ilusão delirante. Nenhuma alma infantil vive dentro de um corpo demasiado grande, ao lado de um espírito atormentado de fraqueza.

 

É preciso ultrapassar as monumentais crateras. É necessário mudar hábitos e expectativas. É imperioso aprender, estudar o obstáculo, desenvolver novos processos para a acção. Pode ser que consigamos construir uma ponte. Pode ser que possamos voltar uns quilómetros para trás e recolher algumas pedras que contornámos sem saber da falta que nos fariam depois.  Pode ser que tenhamos que ir às beiras da estrada recolher terra com as nossas próprias mãos (se outros instrumentos não houverem) para encher o imenso buraco.

 

A minha estrada é destas. Linda, perfeita. Não fossem algumas incompetências humanas, alguns azares límbicos, alguma verba que faltou. É este o meu género de pessoa insegura. Cheia de seguranças e firmezas, Impossibilitada de dar passos certos em frente em específicos passos da vida. De momento, estou perto do fim da minha última grande cratera. Ainda faltam alguns metros. Muitos, na verdade. Contudo, nada que se compare às centenas que já tapei. Tenho as mãos sujas de terra. Os dedos descarnados. Os nervos retesados. As unhas sumidas. Depois mando arranjar isto tudo. Num cirurgião plástico.

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