O CINEMA, O EXPRESSO E O DISCURSO POLÍTICO
Tita
06.06.07
Está um calor de forno! Hoje, muito proactivamente procurei casa para comprar, fui ao banco, tive a minha consulta de terapia e entreguei os documentos na DG . Está quase tudo tratado. Só falta ir conversar com o gerente do meu banco. Depois, para a semana, vou de férias por 10 dias. Consegui fazer isto tudo entre as 11h e as 16h. Cinco horas! Magnifico! Agora estou com um sono de morte. O que devia era ir jogar ténis. Porém, tenho uma boa desculpa. Ando a emprestar o carro ao meu irmão mais novo, que vendeu o dele. É, de facto, uma boa desculpa. Estou mais descansada.
Este blog está cada vez mais parecido com um diário. Notei agora. A ideia de ter um diário deprime-me. Faz-me pensar naquelas adolescentes quase-histéricas que só pensam em namorar. Iludidas pela força das sucessivas paixões que lhes queimam o peito e subjugam o respirar , têm um diário. Nele escrevem estas coisas inconfessáveis. O que sentem. Sentem-se sós. Ninguém sente nada assim. Ninguém pode compreender sentimentos únicos. Só quem os sente. Só o diário.
Estou cheia de sono. O Diário de Bridget Jones (uma reprodução adaptada de Sensibilidade e Bom senso) recebeu críticas péssimas do Expresso. Eu, por mim, gostei muito. Acho que foi uma adaptação feliz. A coisa saiu muito divertida e cheia de leveza. Há algum mal no facto de uma pessoa desejar divertir-se no cinema? Claro que, dentro do estilo, há bem melhor. Mas também há bem pior, género Love is all around " - uma agonia. Porém, não é bom método andar por aí a dizer, ou, pelo menos, a pensar "já vi melhor", "já tive melhor", "já foi melhor" ´What's the point ? Não ver, não ter, não ser mais nada para além do que já foi? O presente promete o melhor, o pior, o mais ou menos. Todos os dias é assim. Não perceber isto é acreditar que o passado e o futuro estão sentados numa cadeira ao nosso lado. Absurdo!
Não me lembro de ver um filme bem cotado pelo Expresso de que tenha gostado. Certamente aconteceu, no entanto, nas vezes em que assim foi, eu esqueci-me de ler a crítica do Expresso. Existirá, de resto, alguma pessoa, com o mínimo de autenticidade, que se guie seriamente pelas críticas de cinema do Expresso? Em tempos fui ao King ver um filme de cinco estrelas do Expresso. Chamava-se "A Bíblia de Néon". Tudo me foi recomendado por uma amiga corrente (as que não são grandes amigas, apenas correntes). Ela também veio. Sessão da meia noite e eu quis começar a gritar no meio do filme. Só me lembro de um grande plano eterno sobre um lençol estendido num varal. Sei, ainda, que se abordava a questão das novas igrejas evangélicas, mas não sei ao certo o que foi abordado. Havia também uma criança, um rapazinho que andava de comboio. Talvez por lá andassem duas senhoras, uma delas prostituta, creio eu. Não sei. Talvez tudo isto não passe de um pesadelo que eu tive uma noite qualquer e agora venho aqui culpar o Expresso. E culpo o Expresso porque, enfim, não era próprio esbofetear a Mónica por ser tão idiota. É que, se foi um pesadelo, ela também lá estava.
Um querido amigo meu confessou-me que os críticos do Expresso eram todos uma espécie de realizadores de cinema frustrados. A partir daí tudo me pareceu mais claro. Mesmo que seja mentira. Não importa. Fiquei muito mais descansada. Acalma compreender as coisas.
No entanto, para imprimir aqui alguma justiça ao que digo, é preciso acrescentar que não é só no Expresso que se têm coisas incompreensíveis, tais como ideias e opiniões. Se notarmos bem, se formos por exemplo ao Jornal de Letras, percebemos imediatamente que há ali uma série de candidatos envergonhados ao Nobel da Literatura. É claro que, primeiro é preciso ter coragem para escrever um livro.
Mas os discursos políticos é que são o fenómeno mais intrigante. Pelo menos em Portugal. É quase impossível compreender o que um político pretende. Portugal é um país demasiado pequeno, onde cada ciclo é uma aldeia. O controle dos membros é apertadíssimo. Todos sabem que ora estarão em baixo, ora estarão em cima porque são poucos mas bons (no sentido de que são únicos e construíram fortíssimas barreiras à entrada. Com efeito, não têm necessidade de falar para o povo. O que precisam é de dar explicações uns aos outros. É por isso que ninguém percebe nada. Falar às pessoas só vale a pena em época de campanha eleitoral. Aí, é vê-los no meio do peixe e da fruta. Há pessoas na política excelentes, competentes, humanas, sinceras, honestas. Onde andam elas, tão arredias que parecem?
Claro que existe, ainda, aquela ideia geral, aplicável a todos, políticos ou não, de que as coisas incompreensíveis são, em princípio, de excelentes para boas. Cá por mim acho que tudo aquilo que não chega aos receptores é de muito má qualidade. Então onde fica o sentido útil das coisas, se estamos vivos e gostamos de viver?