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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

SER HUMANO


Tita

10.06.07

 

Em princípio, uma pessoa honesta é aquela que pauta as suas condutas de acordo com determinadas regras. Estas regras aplicam-se a todas as outras. Familiares ou terceiros. Conhecidos ou estranhos. Amigos ou inimigos. Existem somente um peso e uma medida. Uma pessoa honesta actua com transparência, fala com verdade e pensa com correcção. Ser honesto, em suma, é ser capaz de viver sem enganar os outros. Um pessoa honesta nunca tirar partido da boa fé, da ingenuidade ou, e muito menos, de uma posição de fragilidade alheia. As vantagens que se tiram da vida só podem ser os resultados das conquistas de cada um a partir dos seus actos meritórios, da solidariedade  do outro (embora, neste caso, o mérito próprio, em algum campo seja, igualmente, quase sempre a sua causa primeira) e, também, da sorte. Mais nada.

 

A lealdade também é uma regra de aplicação geral. E, ao contrário do que, eventualmente se pensa, não tem a referida aplicação geral apenas em termos potenciais . É certo que ela é devida por alguém para com  determinado individuo ou individuos. No entanto, à partida, e em primeiro lugar, qualquer um de nós tem o dever de se predispor para ser leal em relação a qualquer um. Por outro lado, mas no mesmo sentido, a lealdade é algo que tem de ser conquistado pelo beneficiário. Depende dos relacionamentos entre as pessoas, surgindo em determinadas circunstâncias da vida. Porém, e por isso, a lealdade, ao contrário da honestidade, é de diferentes tipos, conforme o género de relação que se estabelece entre os sujeitos. Na verdade, nós devemos lealdade à mãe, ao pai, ao irmão, à irmã, ao porteiro, ao vizinho, ao colega de trabalho, ao chefe, ao subordinado, ao nosso animal de estimação, ao clube do coração, ao país. É proibido trair a confiança depositada em nós. Seja por que razão for, independentemente das circunstâncias.

 

Ser solidário é estar aberto para as necessidades, desejos, alegrias, expectativas , dores, sorrisos, medos, forças e fraquezas dos outros (de todos), agindo com respeito pela sua individualidade. Não é ser bombeiro. Soldado da paz, sempre de mangueira em riste pronto para apagar qualquer fogo. É que há fogos que são para arder porque a vida assim concebe e faz todo o sentido. Não passa pela cabeça de ninguém, por exemplo, capturar todas as leoas da Savana a fim de evitar que elas predem os animais desprovidos de presas. Existe uma lei natural que comanda o instinto leonino. Há uma lei social de força idêntica que decide dos fogos que não são para apagar. De resto, os bombeiros a sério só papagam os fogos que têm que apagar. Neste sentido eles são solidários. No entanto, olhando as coisas do prisma eminentemente factual, até podem não o ser. Se o sentido com que actuam for apenas o sentido do dever. Do cumprimento de um dever profissional (quer se trate de bombeiros sapadores ou de bombeiros voluntários). O que importa, na verdade é o sentimento universalista de solidariedade que tem de estar dentro de cada um de nós. A nossa solidariedade deve estar pronta a servir a todos e deve ser capaz de ser  humilde para aguardar um sinal. Não é bonito andarmos a ajudar quem não deseja a nossa ajuda. Na verdade, parece mal. Até parece que queremos qualquer coisa. Talvez uma medalha?

 

Um ser  honesto, leal e solidário é, para mim, um ser perfeito. No mais, nenhum outro defeito me incomoda. Gosto de pessoas cheias de defeitos que são honestas leais e solidárias. São perfeitas. Não mentem, não enganam, não roubam, não se põem de costas, não nos encharcam a cara com uma mangueirada enquanto estamos a dormir ou apenas distraídos. Em princípio uma pessoa assim tem respeito por nós. E, o melhor, tem respeito por todos. Conhece o sentido do sentido da palavra liberdade e também daquela que se chama fé. Uma pessoa destas ajuda-nos a viver porque nos ajuda. E ensina-nos a crescer

porque se dipõe a ser ajudada.

  

 Não nos equivoquemos, a vida tem um sentido que é formado por todos os sentidos que têm os pedaços da nossa vida, em relação aos quais lho conseguimos dar. O sentido da  vida é um somatório de todos estes sentidos, cuja soma apresenta um resultado  maior que a adição de cada um deles aos outros. Pode ser uma  Luz. Um pedaço de transcendência . Uma gota da Verdade. Uma participação sentida no Algo que é Divino. O Bem. Ou o Poder que importa. Deve ser uma, ou todas, destas coisas boas que nos falta.

 

Talvez por acreditar assim me sinta a lutar constantemente. Comigo. Mas isso não é o pior. O pior é a raiva que me dá a cegueira leitosa de alguns indignos de serem comparados às leoas na Savana, que matam para comer e para dar de comer. Quem dera à maioria de nós poder gozar do orgulho das leoas viventes fora de cativeiro! Quem nos dera desempenhar a nossa função na natureza, no meio em que vivemos, com coragem e competência permanentes!

 

Sem querer comparar-me com elas, mas comparando de facto (numa declaração de total falta de humildade, da qual me penitencio humildemente), quando me encontro com gente a quem falta algum dos pedaços essenciais de humanidade (seja a honestidade, seja a lealdade, seja a solidariedade), sinto a mesma fúria instintiva que uma leoa ameaçada, e só me apetece saltar para a jugular do agressor. Não é matar para comer. É liquidar por conta do instinto de preservação.

  

Como é que a consciência de Roskolnikov não afecta certas pessoas? Percebo-as tão mal como julgo  compreendê-lo bem. Não faz sentido o crime sem castigo. O acto universalmente desvalioso deve ser punido. E se outros meios não funcionam, que seja a nossa consciência a conduzir-nos à Sibéria. Se assim não for, a nossa vida está perdida porque não poderemos aceitar e sentir  sinceramente o AMOR. Como no fim do livro.

 

 

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