SOLIDARIEDADE
Tita
27.06.07
Não tenho tempo. É sempre assim. Sempre assim. Sempre assim quando quero fazer alguma coisa que queria fazer. Mas não queria muito e, de repente já quero imenso. Falta-me imediatamente o tempo. Agora, que me restam apenas 15 minutos de vida neste espaço de edição, é que começo. Preciso de me distrair para que me surjam as vontades. Andei em viagens. Fiz todas as que pude no espaço de uma hora. A maior parte delas foram inúteis, no sentido clássico do termo. A sua utilidade negativa consistiu na perda de tempo que me fez passar. Agora já só tenho 10 minutos, quando comecei com 15, mas que, para ser exacta, eram realmente 13.
Adoro o meu jipe. Mas ando aborrecida de morte com ele. É demasiado exigente. Sempre a pedir extremosos cuidados, quando eu sou assim uma mulher prática. Nunca hei-de compreender porque não posso deixar o tecto aberto em inclinação. Ele fica logo todo constipado se passar uma noite assim. Depois lá vêm os problemas no sistema eléctrico. Coisas no cérebro, portanto. O pior é que ele não tem por hábito queixar-se. Não chora nem nada. Apenas, meses mais tarde, me causa uma surpresa qualquer, do género "AES FAULT ". É assim que ele me diz as coisas. Isto deixa-me ressentida. Agora tenho que sair e só a ideia de o ouvir num leve assobio e dizer "AES FAULT " antes de se por a andar como um carro normal, desmotiva-me para o resto do dia. É claro que vai para a marca tomar uma aspirina. Ainda esta semana tenho que o deixar lá. E pronto. É isto. Um filho não pode dar mais trabalho. Embora, claramente, possa.
Não lido bem com a gratidão. Sinto-me grata com muita gente e não me importo, o que me custa é que me agradeçam. Fico embaraçada até à medula. Tonta. Nem sei o que responder. Não que core, baixe a cabeça ou desvie os olhos. Ninguém me apanha nessa. Apenas existem coisas que seriam muito propositadas dizer e varrem-se-me. É como se me ligassem um aspirador de ideias ao cérebro (o que, bem sei, tecnicamente não existe) quando vem o momento certo. E o momento certo é aquele em que nos dizem muito obrigado. Sinceramente. Muito obrigado". Ainda recentemente passei por uma situação destas. Não tive resposta. Ou melhor respondi: "Pelo Amor de Deus! Isto não é nada. Esquece . Esqueçam". Um disparate. Ou seja, mal. Está mal dito. O que eu devia dizer era o seguinte: Não me agradeças porque eu espero uma coisa em troca. Espero que, logo que tenhas oportunidade, ajudes sentidamente também.
Ajudar é, uma obrigação que, uma vez incumprida, não implica sansão. Pelo menos, na maior parte das situações. É por isso que é tão obrigatoriamente discreta. Todos somos obrigados a ajudar, mas só ajuda quem quer. E quem ajuda porque quer deve fazê-lo com a máxima discrição, como bem observou Jesus Cristo. Fazer assim é sentir sem pensar. A Madre Teresa de Calcutá livrou-se do valor pecuniário a que tinha direito pelo Nobel da Paz. Deve ter sido por ter achado que o prémio foi mal atribuído. O que fez ela pela paz? A Madre fartou-se de ajudar toda a gente. Devia ter recebido o Prémio Nobel da Ajuda. Como este prémio não existe,ela rejeitou imediatamente o dinheiro do outro. Só podia ser assim. Madre Teresa era uma senhora coerente. A propósito, será que ela já foi canonizada? Eu, em pecado me confesso: não sei. Mas eu, se fosse ela, também não queria. Depois do Santo Escribá o ambiente não deve andar bom pelos corredores das santidades celestes.