OPTIMISMO
Tita
03.07.07
O copo está meio cheio ou meio vazio? Isto é a questão/asserção/na verdade, chavão mais irritante que eu conheço. Acho que é. Um copo é um copo. Nenhum copo precisa de nada dentro para ser um copo. Aliás, se contiver, seja lá o que for e independentemente da quantidade, deixa de ser um simples copo para passar a ser um copo de qualquer coisa (um copo complexo). É muito importante não confundir as entidades com as suas funções. Não ser utilitarista é um bom princípio de conduta para quem quer evitar problemas de equilibro. Entre outros.
Já dentro da questão do utilitarismo, e falando em concreto dos copos, que é de facto aquilo que de momento falo. Tudo depende do acto. E o acto é encher ou esvaziar? O que estamos a fazer ao copo? Se estamos a encher, independentemente da medida, o copo caminha para cheio. Se estamos a esvaziar, o copo vai para vazio. É assim. Por exemplo, um senhor vai a um bar e pede uma imperial. O barman pega num copo vazio, coloca-o por baixo da torneira da cerveja e puxa o manípulo para baixo. Cai cerveja dentro do copo. Porém, esqueci-me de dizer, o senhor que pediu a imperial afinal só deseja meia imperial. Cumprindo estas instrução, o que fez o barman? Encheu meio copo. É lógico.
Não me digam, esvaziou meio copo? Então se o copo estava vazio. Ninguém esvazia o que está vazio, santo Deus! E quero lá saber das pessoas que só estão a olhar para o copo com liquido até meio e não sabem nada da história do senhor que só pediu meia imperial. Não acredito que pensem enquanto o senhor foi à casa de banho: "olha ali aquele copo de imperial sozinho. Está meio vazio." Ou, antes pelo contrário: olha um copo de imperial meio cheio." A maior parte das pessoas normais não se interessa pelos copos dos outros. Só talvez os sedentos. Mas esses não são normais. São sedentos, claro.
Esta história de que o copo está meio cheio ou meio vazio, dependendo da perspectiva é, quase de certeza, uma invenção de alguém que gosta de pensar que a vida é mais interessante com enigmas especiais. Ou, dito de outro modo, cheia de mistérios para dona de casa desesperada desvendar.
Estamos na presença de um chavão. Um chavão é uma chave grande. Teoricamente, uma chave grande serve para abrir uma grande fechadura. E como não faz sentido uma porta pequena com uma fechadura grande, a porta deve ser enorme. Ora, portas enormes abrem-se (quando se abrem) para espaços fechados grandes. Não se justificaria, igualmente, colocar uma porta de um castelo, por exemplo, numa pequena (relativamente) casa de 2 pisos. Ou, mesmo, na porta de entrada do prédio. Do mesmo modo, não valeria muito a pena instalar uma porta num espaço aberto. Parece-me.
Portanto, um chavão é uma chave grande para uma fechadura grande de uma porta grande para um espaço fechado grande. Um chavão é pois um instrumento de acesso. Aquele de que trato agora dá acesso a quê? À verdade. A uma verdade muito concreta que nos diz que as pessoas optimistas vêm o copo meio cheio e que as pessimistas o vêm meio vazio. Isto devia enriquecer a nossa vida. Se fosse verdade seria um dado importante. Um dado a mais para o nosso património de aprendizes do Como Viver.
Não estou contra nenhuma formula para a simplificação da comunicação entre as pessoas. Apenas não gosto de imagens inadequadas. É evidente que, para além dos deprimidos com carácter de habitualidade, dos bipolares ou dos irresponsáveis-inconscientes, existem umas pessoas mais optimistas do que outras. Mas, pergunta-se, isso não terá a ver fundamentalmente com as situações concretas da vida de cada um? Com cada momento do percurso? O que têm os copos a ver com isto?
Parece-me que ir para os copos é bom. Esvaziá-los se estão cheios (ou meios ou com 1/4, ou com,,, não, com menos do que isso não deve valer muito a pena) de líquidos susceptíveis de alterarem o estado de consciência (ou pelo menos da disposição) em direcção a um qualquer ponto de satisfação pessoal. É para isso que os copos servem. Para serem cheios e esvaziados por desejo e por prazer. E, para responder a um dos o comentários a este post, quem diz copos diz garrafas, canecas ou tupperware, claro.
Os alcoólicos estão naturalmente excluídos das considerações precedentes.