PODER
Tita
23.08.07
A política é um campo pleno de potencialidades. Os políticos são, em princípio, M&M. Medícres & Maçadores. Tal mediocridade radica mais na condução das condutas segundo um critério que sustenta a ausência de valores, do que por falta de inteligência ou de capacidades necessárias. Por outro lado, qualquer medíocre é, por definicão um chato. As possibilidades existem na proporção directa das complicações e esquisitices que os políticos inventam. Enfim, sabe-se que as politicas são más e que os políticos são piores ainda. Só não se sabe porque razão ninguém faz nada para mudar estas coisas.
Parte da explicação do problema M&M pode, segundo o jornal Expresso residir nos baixos salários auferidos pela classe política. Não só em Portugal, como no resto do mundo, os políticos são mal pagos. O Bush, só para citar o exemplo do político mais poderosos do mundo, ganha cerca de 20.000€ mensais. Qualquer gestor de topo recebe, pelo menos, o dobro. Há aqui qualquer coisa que não bate certo.
Diz o Expresso, citando algumas cabeças, que é natural que, assim sendo, só os medícres ou aqueles que já têm um bom pé de meia amealhado (e que também por isso já estão um tanto cansados) é que querem ir para a política. Daí os resultados que se vêm, não diz o Expresso. Outras bocas se abriram ao digno semanário para dizer que havia também o espirito de missão de gente que se sentia muito honrada por estar na política. É a coisa do mais elevado serviço público e tal. Eu creio firmemente que há gente para tudo. É claro que é preciso não esquecer que existem formas indirectas de receber vencimentos. Na política há imensas. Toda a gente sabe. Mas, como disse, há gente para tudo. E todas as razões para os políticos estarem na política e serem mal pagos foram elencadas no artigo do Expresso. Menos esta da corrupção e tráfico de influências por, obviamente, ser desnecessária.
Mas, e o que o "Expresso" não mencionou. O desejo, a ânsia de poder. Esta motivação não devia ter sido contornada porque é mesmo a principal razão porque um político o quer ser. Poder. Chegar ao poder. Ter poder. Pelo poder se sujeitam a vidas miseráveis dentro de gabinetes ao lado de sandwishes e cafés em copos de plástico. Papeis à frente sobre a secretária em frente a uma porta que os separa dos jornalistas que acabaram de chegar de um almoço fantástico ali no XL. A sair do gabinete e percorrer cuidadosamente um caminho minado. Nem que seja só para ir à casa de banho e voltar. Tanto cuidado! Tanto perigo! E os companheiros. Os comparssas. Os amigos. Não têm. Na verdade, têm mas detestam-se reciprocamente. Não têm amigos. Na verdade, têm mas não são amigos. Não têm mulheres. Na verdade também têm homens, mas o sexo deve ser, em qualquer caso, de muito má qualidade. Não têm filhos. Na verdade, têm, mas quase não se lembram da cara deles. Tudo isto porque não têm tempo e também não chegam a tempo.
O poder de levar um helicópetro do Estado para o Algarve nas férias vale todos os sacrifícios? Não vale. Esta é um péssimo exemplo, que também não estamos em África ou em Felgueiras. Ora essa. O Ministro (com nome de jogador de futebol) que o fez (em 2000) não sabia que havia uma mina dentro do próprio helicópetro? Não. Não sabia. Era um provinciano. Um político categoria B.
A primeira regra para o poder é, quando se chega lá, não ficar deslumbrado. E o pior é que quem aparentemente tem poder não percebe que o poder não se detém. Portanto, julga-se poderoso.
O poder é que tem quem o deseja e tenta possuir, escravizando o poderoso iludido. E faz vítimas. É como vender a alma ao diabo ou entrar nas drogas. Tudo em troca de um pequeno prazer que parece que é tudo. Um dia, à imagem dos AA, dos NA, entre outros grupos de entreajuda anónimos contra vicios muito sérios, vão ser criados os PA. Os políticos anónimos.
Mas aparentemente mudando de assunto, pergunta-se: o que têm em comum The meaning of life, O Fiel Jardineiro e a Aparição?
The meaning of life dos Monty Python. O maior absurdo sobre o sentido da vida. É um filme sobre os absurdo que ocupam a vida das pessoas. Por vezes é hilariante. Por vezes é nojento. Por vezes é deprimente.
O Fiel jardineiro fala de pessoas que têm o raro sentido da dignidade, da solidariedade e do amor.
A Aparição. Vou lendo.Tento refrear a minha pressa viciosa de chegar ao fim. Estou no ponto em que o autor declara que decidiu votar a sua vida a descobrir o mistério da ligação incontestável que existe entre a vida e a morte, sendo que o destino da vida é a morte.
A política seria potencialmente o campo mais fértil de todos. Para fazer alguma coisa pela vidas de todos. A política é o sítio próprio do poder de fazer e de mudar, de descobrir e de ajudar. Mas, na prática, não é. Por causa dos políticos.
Seja como for, seja político, ou não, o poderoso não percebe que não pode olhar o poder de frente. Da mesma forma que olhar o sol nos olhos cega. O poder não de detém por impossibilidade. É perigoso. É uma realidade em si mesma que tem uma função. É um ente independente impossível de manipular. O poder ajuda se não o quisermos dominar. O poder serve só para ajudar e para mais nada. A isto se chama o bom uso do poder. O único viável.
A Hstória já nos mostrou isto dezenas de vezes. Mas até parece que não. Olha-se para a história como para um filme americano cheio de ideias de ficção que estão ali só para nos agitar as emoções. O Holocausto talvez nem tenha acontecido.
O inferno não são os outros, como disse Sartre ou Aristóteles (não me lembro). O inferno somos nós. Nós: um ego fedorento!
Enfim, mas, para ser sincera, só falei aqui de política porque, na verdade, o que queria era falar de poder e dizer ainda que o Expresso está a perder qualidade de uma maneira virtiginosa.