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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

PODER


Tita

23.08.07

 

 

 

 

A política é um campo pleno de potencialidades. Os políticos são, em princípio, M&M. Medícres & Maçadores. Tal mediocridade radica mais na condução das condutas segundo um critério que sustenta a ausência de valores, do que por falta de inteligência ou de capacidades necessárias. Por outro lado, qualquer medíocre é, por definicão um chato.  As possibilidades existem na proporção directa das complicações e esquisitices  que os políticos inventam. Enfim, sabe-se que as politicas são más e que os políticos são piores ainda. Só não se sabe porque razão ninguém faz nada para mudar estas coisas.

 

Parte da explicação do problema M&M pode, segundo o jornal Expresso residir nos baixos salários auferidos pela classe política. Não só em Portugal, como no resto do mundo, os políticos são mal pagos. O Bush, só para citar o exemplo do político mais poderosos do mundo,  ganha cerca de 20.000€ mensais. Qualquer gestor de topo recebe, pelo menos, o dobro. Há aqui qualquer coisa que não bate certo.

 

Diz o Expresso, citando algumas cabeças, que é natural que, assim sendo, só os medícres ou aqueles que já têm um bom pé de meia amealhado (e que também por isso já estão um tanto cansados) é que querem ir para a política. Daí os resultados que se vêm, não diz o Expresso. Outras bocas se abriram ao digno semanário  para dizer que havia também o espirito de missão de gente que se sentia muito honrada por estar na política. É a coisa do mais elevado serviço público e tal. Eu creio firmemente que há gente para tudo. É claro que é preciso não esquecer que existem formas indirectas de receber vencimentos. Na política há imensas. Toda a gente sabe. Mas, como disse, há gente para tudo. E todas as razões para os políticos estarem na política e serem mal pagos foram elencadas no artigo do Expresso. Menos  esta da corrupção e tráfico de influências por, obviamente, ser desnecessária.

 

Mas, e o que o "Expresso" não mencionou. O desejo, a ânsia de poder. Esta motivação não devia ter sido contornada porque é mesmo a principal razão porque um político o quer ser. Poder. Chegar ao poder. Ter poder. Pelo poder se sujeitam a vidas miseráveis dentro de gabinetes ao lado de sandwishes e cafés em copos de plástico. Papeis à frente sobre a secretária em frente a uma porta que os separa dos jornalistas que acabaram de chegar de um almoço fantástico ali no XL. A sair do gabinete e percorrer cuidadosamente um caminho minado. Nem que seja só para ir à casa de banho e voltar. Tanto cuidado! Tanto perigo! E os companheiros. Os comparssas. Os amigos. Não têm. Na verdade, têm mas detestam-se reciprocamente. Não têm amigos. Na verdade, têm mas não são amigos. Não têm mulheres. Na verdade também têm homens, mas o sexo deve ser, em qualquer caso, de muito má qualidade. Não têm filhos. Na verdade, têm, mas quase não se lembram da cara deles. Tudo isto porque não têm tempo e também não chegam a tempo.

 

 O poder de levar um helicópetro do Estado  para o Algarve nas férias vale todos os sacrifícios? Não vale. Esta é um péssimo exemplo, que também não estamos em África ou em Felgueiras. Ora essa. O Ministro (com nome de jogador de futebol) que o fez (em 2000) não sabia que havia uma mina dentro do próprio helicópetro? Não. Não sabia. Era um provinciano. Um político categoria B.

 

A primeira regra para o poder é, quando se chega lá, não ficar deslumbrado. E o pior é que quem aparentemente tem poder não percebe que o poder não se detém. Portanto, julga-se poderoso.

 

 O poder é que tem quem o deseja e tenta possuir,  escravizando o poderoso iludido. E faz vítimas. É como vender a alma ao diabo ou entrar nas drogas. Tudo em troca de um pequeno prazer que parece que é tudo. Um dia, à imagem dos AA, dos NA, entre outros grupos de entreajuda anónimos contra vicios muito sérios, vão ser criados os PA. Os políticos anónimos.

 

Mas aparentemente mudando de assunto, pergunta-se: o que têm em comum The meaning of lifeO Fiel Jardineiro e a Aparição?

 

The meaning of life dos Monty Python. O maior absurdo sobre o sentido da vida. É um filme sobre os absurdo que ocupam a vida das pessoas. Por vezes é hilariante. Por vezes é nojento. Por vezes é deprimente.

 

O Fiel jardineiro fala de pessoas que têm o raro sentido da dignidade, da solidariedade e do amor.

 

A Aparição. Vou lendo.Tento refrear a minha pressa viciosa de chegar ao fim. Estou no ponto em que o autor declara que decidiu votar a sua vida a descobrir o mistério da ligação incontestável que existe entre a vida e a morte, sendo que o destino da vida é a morte.

 

A política seria potencialmente o campo mais fértil de todos. Para fazer alguma coisa pela vidas de todos. A política é o sítio próprio do poder de fazer e de mudar, de descobrir e de ajudar. Mas, na prática, não é. Por causa dos políticos.

 

Seja como for, seja político, ou não, o poderoso não percebe que não pode olhar o poder de frente. Da mesma forma que olhar o sol nos olhos cega. O poder não de detém por impossibilidade. É perigoso. É uma realidade em si mesma que tem uma função. É um ente independente impossível de manipular. O poder ajuda se não o quisermos dominar. O poder serve só para ajudar e para mais nada. A isto se chama o bom uso do poder. O único viável.

 

A Hstória já nos mostrou isto dezenas de vezes. Mas até parece que não. Olha-se para a história como para um filme americano cheio de ideias de ficção que estão ali só para nos agitar as emoções. O Holocausto talvez nem tenha acontecido. 

 

O inferno não são os outros, como disse Sartre ou Aristóteles (não me lembro). O inferno somos nós. Nós: um ego fedorento!

 

Enfim, mas, para ser sincera, só falei aqui de política porque, na verdade, o que  queria era falar de poder e dizer ainda que o Expresso está a perder qualidade de uma maneira virtiginosa.

PARA QUE SERVEM AS RELAÇÕES AMOROSAS - PARTE II


Tita

18.08.07

 

De novo me sucede. Escrever uma coisa deplorável. O post anterior. Por duas vezes aconteceu o mesmo. Tentei estruturar. Pensar no que escrevia antes de escrever. Escrever só depois de pensar. Não tenho jeito para isso. Não gosto do resultado. Não se escreve assim coisas que não sejam técnicas . É que nem resulta técnico, nem o que se quer. Não resulta

 

Eu não sou escritora. Sei que os escritores escrevem trabalhando. Pensam muito bem naquilo que disseram. Revêem e alteram tudo muitas vezes. Até ficar exactamente como querem. São técnicos com talento. Os escritores. É por isso que conseguem escrever coisas muito bem pensadas, cheias de estrutura e sem sentido técnico nenhum. Que é o que se pretende.

 

Aqui neste blog não há técnica . Nem talento. Não é para isso que serve. Ninguém cria um blog  porque se acha talentoso. Ou, se calhar, cria. Mas isso não me importa. Eu não. Eu não crio um blog porque ache que tenho talento. Eu só preciso de escrever. Eu não crio um blog porque queira partilhar saber técnico. Porque a técnica me aborrece de morte. Eu não sou facilmente adaptável.

 

Eu não, tem sido a minha frase guia. Eu não quero. Eu não sou assim. Eu não vou por aí. Eu não. Eu não estou muito bem. Eu não estou com a esperança toda. Eu não gosto da minha vida agora. Eu não quero ir à praia . Eu não quero namorar. Eu não quero ir ao cinema. Eu não quero escrever. Se eu quisesse tudo o que eu não quero agora, queria escrever.

 

Eu não quero o que sei que não quero. Eu sou uma macaca de imitação. Um dia ouvi, ou li (não recordo) que, para se chegar a saber o que se quer, tem primeiro que descobrir-se o que não se quer. Segui por este rumo. Pois então! Pareceu-me boa a ideia. Assim fiz. Hoje tenho uma pasta bem organizada por temas e respectivos assuntos. Chama-se pasta "Eu não quero".  É de boa qualidade e tem bom aspecto. É enorme e está cheia.

 

A pasta enche na mesma proporção em que eu me esvazio. Das pessoas e das coisas. E me encho de solidão. Porque cada elemento da vida que eu não quero, rejeito para sempre. Sem volta. Sem redenção. E sofro mais do que queria.

 

Para mim. Cada experiência é um teste. Cada teste é uma experiência de vida. Para saber o que não quero, eu testo. Eu testo-me também. Por isso tudo acaba por ter um ar tão dolorosamente passageiro. Em qualquer coisa sempre haverá algo que eu não quero. Porque nada é perfeito. E se é a perfeição que eu quero, então eu não tenho nada a desejar da vida. Porque a vida não é perfeita. E eu também não. E se o digo é porque o desejava ser. Perfeita. Verifico a patologia. Só um louco deseja o impossível.

 

A verdade, porém, não é essa. É pior ainda. Eu não desejo ser perfeita. Desejo um mundo perfeito cheio de pessoas perfeitas à minha volta disposta a me aturarem. A isto não se chama sonhar. A isto chama-se sofrer. Não é por acaso que se chega a um dado momento da vida e se está a sentir assim. Sonhar é ver algo quase impossível de alcançar e querer chegar lá. Porque existe uma possibilidade. O meu sonho é conseguir parar de sofrer. É um objectivo muito respeitável, enquanto sonho.

 

Tenho medo de cada coisa nova na vida. Tenho  medo. Sempre que isso acontece, vou à minha pasta do não quero fazer consultas. Encontro sempre alguma resposta que se adapta . E quando (raramente) não encontro, entro em pânico.

 

Não vou tentar dizer o que é sexo da mesma maneira que o fiz antes. Vou explicar o que eu sinto que é fazer sexo. É despir a roupa e o medo. Fechar os olhos colar o corpo e sentir que há um bom bocado de verdade naquilo tudo. Eu não quero fazer sexo que não seja assim. E não faço. Nunca.

 

Não vou tentar dizer o que é uma relação amorosa. Vou, antes, tentar explicar o que eu gostaria que fosse. Seria dar as mãos e sorrir. E nunca as soltar, mesmo quando não é possível não chorar. As pessoas soltam sempre a mão. Há um momento em que é assim. E eu não quero viver uma relação amorosa com quem, pelo menos, tenha pensado em afrouxar os dedos.

 

Não vou tentar dizer para que serve uma relação amorosa. Vou contar o meu sonho: serve para criar no mundo algo de inteiramente novo, perfeitamente exclusivo e que não é uma obra puramente individual. Eu não quero uma relação como todas as outras.

 

Portanto, eu não quero.

 

Eu não quero. Eu não quero. Eu não quero. Assim já não sei o que posso querer da vida porque o que eu quero NÃO HÁ.

 

ALÉM DE QUE NÃO SUPORTO O PERFUME: AMOR AMOR de Cacharel.

 

 

PARA QUE SERVE UMA RELAÇÃO AMOROSA?


Tita

17.08.07

 

 

 

 

 

Em primeiro lugar, o que é uma relação amorosa? Descubra-se.

 

O que há numa relação amorosa que não existe nas outras relações humanas? Sexo salta logo à cabeça.

 

Então, sexo. Sim.  E o que é?  Fazer uso dos próprios órgãos sexuais,  estabelecendo, com outrem   (outrem  tem plural - outros, penso eu) trocas várias da mesma índole dentro de um determinado contexto. Até parece a definição ciêntifica de ecossistema: qualquer àrea natural, que inclui seres vivos e seres inanimados, que interagem, realizando trocas de matéria e energia.

 

Falo de sexo, e não de fazer amor para evitar a inclusão de factualidades sórdidas, como o incesto. Digo estabelecendo com outrem porque quero partir do pressuposto de que os envolvidos são pessoas, contornando os inenarráveis esquemas da bestialidade. Refiro-me a trocas da mesma índole para deixar claro que não incluo perigosas práticas sadomasoquistas no conceito. Digo pessoas e não seres humanos em geral, para afrontar os pedófilos. 

 

Relembro que a definição dada é construída enquanto componente ou elemento integrante do conceito indeterminado relação amorosa que procuro preencher. Quero dizer que, o sexo existe fora da relação amorosa, se entendermos que nem todas as relações sexuais que se estabelecem entre pessoas têm, elas próprias, uma componente emocional - o que é muito discutível.

 

E eu que até aqui  pensava que fazer sexo era foder. Vejo, agora, como é difícil compreender estas coisas.

 

A sexualidade. A menina dos olhos de Freud! A sexualidade condiciona toda a vida de uma pessoa. Foi ele quem o disse. Intuitivamente acredito que sim. Tudo o que de bem fazemos por nós, em qualquer aspecto da vida (mesmo que seja estudar ou dar comida aos pobres) é um contributo para a nossa melhoria pessoal de forma a estarmos e parecermos  melhores para os outros. Parecer melhor aos outros (a qualquer um) é um desejo comum a todas as pessoas e têm a sua raiz na sexualidade. Não importa a força ou a debilidade de tal desejo, desde que ele exista.

 

Claro que, vistas as coisas deste modo, não é possível excluir o incesto. A nossa sexualidade é decisivamente montada por ele. Ou, de outro modo, o primeiro prazer puramente sexual e afectivo é incestuoso. E, já agora, segundo a "teoria do sexo indiferenciado", homossexual. Quer para rapazes ou raparigas porque os bebés têm orgasmos e acreditam que a criatura que lhos dá é do seu sexo.

 

É estranho pensar que os bebés acreditam e pensam em género sexual. Não é? Porém, parece que é isso mesmo. Mas não.  Antes pelo contrário, os bebés sentem as coisas desse modo e sabem lá eles disso. Não as pensam assim.  Daí não terem sentimentos de culpa. Mas deixemos isto de lado agora. Porque, de qualquer modo, o Freud tinha ou não tinha  ar de tarado sexual?

 

Para que serve uma relação amorosa? E, antes disso, o que é uma relação amorosa. Uma das suas componente é o sexo. Este, porém,  em nada a distingue de outras relações que não são amorosas (de um certo tipo amoroso, que é do que estou a falar). Porque, além do mais, há relações amorosas sem sexo. Contam a esmagadora maioria das relações que têm mais de 2 anos? Contam.

 

Nestas coisas é como no âmbito de um contrato de trabalho. A pessoa pode não estar a trabalhar, desde que esteja em condições e tenha bem interiorizado que pode e deve começar a fazê-lo a todo o momento. Tem de estar preparada, portanto. Veja-se, como exemplo, um médico nos serviços de urgências que só vai ali um minutinho ao bar tomar café. É um exemplo ilustrativo. Mas é um mau exemplo porque ele vai ao bar com urgência e volta já se houver um caso urgente para tratar. Mas há aquelas profissões em que as pessoas estão dias inteiros sem fazer nada,  mas têm que estar ali, carregando a obrigação de estarem a postos para fazer. Ainda que, em casos graves, se saiba que a empresa vai falir. Enfim, é aguentar o posto.

 

Se incluir, sexo a relação amorosa serve para dar prazer e aliviar algumas tensões. No entanto, há muitas relações que têm sexo deplorável, miudinho, medíocre, breve, individual. Porque, nestes casos, só um é que quer e o outro quer fugir. Mas, por diversas razões,  não foge e aguenta muito mais do que o posto. O primeiro também anda triste com a situação, mas um nadinha mais satisfeito. E insiste sempre. São as necessidades.

 

Mas para que serve uma relação amorosa, se se pode ter sexo e não a ter? Talvez porque seja potencialmente mais fácil tê-lo porque a coisa está mais ali à mão. E o que é uma relação amorosa? É uma relação onde quem lá está metido sente amor? A  maior parte das relações de amor profundo não são amorosas. Veja, por exemplo, as dos pais com os filhos ou a dos cães com os respectivos donos. Segundo as estatísticas, a maioria das relações amorosas não contém amor.

 

Ainda de acordo com as estatísticas, grande parte das relações amorosas permanecem porque são integradas por bens materiais (mesmo que não sejam muitos), pela comodidade de as pessoas não se darem a incómodos e por uma série de relações cruzadas (e seus interesses conexos) da mais diversa espécie com terceiras pessoas. E, no entanto, uma ou o conjunto destas coisas não é dado exclusivo de uma relação amorosa. Note-se como funciona uma sociedade comercial.

 

Parece que tudo o que uma relação amorosa tem, igualmente, outras detêm. Sexo. Amor. Dinheiro (para simplificar), Estabilidade. Relações sociais. Muitas podem ter mais do que uma dastas coisas. Outras apenas uma. O que não podem é ter todas ao mesmo tempo. Isso, só as relações amorosas. Ainda que efectivamente não tenham  Basta potencialmente, como disse já.

 

Parece que uma relação amorosa é composta por um conjunto de banalidades que a tranforma num sistema especial. Banalidades, ou seja, coisas comuns. Não há nada mais comum do que o afecto, por exemplo. O amor. Existe imenso amor no mundo.  E as bananas são banais.

 

E é possível amar mais alguém do que a um filho? É um tipo de amor diferente? Depois de Freud quem pode assegurar isto com honestidade? Depois de Freud e logo a seguir à nossa própria  consciência de que existem  tantas  (imensas) relações amorosas que, de algum ângulo, são mesmo assim.

 

Por exemplo, eu tenho uma tia que se apaixonou por um homem. Pagou-lhe as dívidas para ele se casar com ela. E ele jurou casar-se com ela. Porém, nunca antes de a mãe morrer. Amava mais a mãe, está claro. E não amava a minha tia. Pois. Mas tambémnão amava outra mulher, senão a mãe.Até à morte dela, claro. Como podia ele estabelecer comparaçõers entre realidades incomparáveis, não é?

 

Mas teve tanto azar que a mãe (pessoa aparentemente saudável e ainda jovem) morreu nem um ano depois. O senhor transformou-se no meu tio. E, realmente, viveram juntos até que a morte dele os separou, após 40 anos de casamento. Sei de fonte segura que o sexo não era nada mau.

 

E mais, só as relações parentais podem potencialmente, como não podem as outras, enrrugar e cegar a liberdade do indivíduo,  obstaculizando o seu  desenvolvimento individual precisamente pleno.

 

Essas e as relações amorosas. Exactamente.

 

A COISA EM SI


Tita

15.08.07

 

Os inadaptados é de longe a pior coisa que escrevi. Apenas não o apago porque  é necessário saber perder com classe, como dizia o Chaplin. E ganhar com ousadia. Como dizia, igualmente, o Chaplin.  Evidentemente, aqui não se trata de perder ou de ganhar mas apenas de uma coisa mal feita. Os Inadaptados. Bom, talvez tenha havido aqui algo a perder. Tempo. O meu. Se a cabeça não está leve, as mãos não devem descer sobre as teclas. Do teclado. Do piano. Do telefone. Veja-se a importância das teclas. É preciso cuidado quando se faz descer as mãos sobre elas. Até podem suceder coisas com a gravidade que o texto de Os Inadaptados não tem.

 

Estou sempre a falar em coisas. Quero dizer, estou sempre a chamar coisa ou coisas às coisas. Se falo de sentimentos, são coisas. Se falo de objectos, são coisas. Se falo de pessoas, falo das coisas delas. Coisas. Acho que o conceito da coisa em si me ficou das aulas de filosofia. Quase todos os filósofos falam assim das coisas. Chamando-lhes coisas. Embora seja verdade que igualmente adorem chamar às coisas objectos. Mesmo que estejam a falar de gente ou de ideias.

 

Bem, não era preciso escrever uma quantidade de coisas só para dizer uma coisa simples. Que os inadapatados são aqueles que não se safam. Que a consciência conta pouco para a aceitação social. Que, em suma, ser uma coisa bem adaptada significa não ser uma coisa que justifique muitas queixas ou reparos por parte dos outros. E que, por fim, um dos grande segredos para a boa adaptação é não ter uma consciência muito exigente. Exemplo: Mr Ripley. Resolvi dar este novo exemplo e esquecer o Jimmy. Por ter mais "pinta". O Malckovitch, principalmente.

 

Ontem o Oscar Wilde dizia que "fechar os olhos a todas as coisas que não são perfeitas pode fazer-nos cair num abismo". Porque estamos de olhos fechados, claro. Não que o abismo não seja em si uma coisa perfeita. Trata-se, mais uma vez, de um discurso sobre consciência. Ou melhor, de que o melhor é não ter muita. E tudo isto por causa do direito de propriedade sobre um leque. Leque este que não devia ter sido vendido porque era um objecto de grande valor estimativo. A verdade é que o seu vendedor o vendeu por um preço exorbitante. No confronto entre o dinheiro e a estima venceu o dinheiro, e sejamos práticos e. Estejamos pois in side.

 

Quando escrevi Os Inadaptados não estava boa da cabeça. As ideias simplesmente não me saíam com simplicidade. E eu devia ter parado. Não o fiz porque tenho um certo prazer em me autoflagelar sem chicote. Não apago o post porque tenho um sentido de justiça muito apurado. No mais, sou uma pessoa muito arrogante, infantil e pouco esperta. Três coisas que fazem todas parte do mesmo. De um conceito maior ao qual eu não sei dar o nome. Não sei dar o nome ao conceito englobante. Só às suas componentes integrantes. Repetindo, arrogância, infantilidade e falta de esperteza. Ou mesmo estupidez.

 

Lembor-me agora que quem se preocupava um bocado com a forma como aparecia a si próprio era o Virgílio Ferreira. Estava sempre a pensar nesta coisa. Ora, isso conduzia-o a outras. Com efeito, aproveitava imenso para ver a forma como os outros se viam a si próprios e apareciam aos demais. Foi então que ele disse que ter muito apetite e, pior, demonstrar o facto é uma vergonha. É uma vergonha porque está ligado à pobreza ou à animalidade, segundo os conceitos da aldeia. Fartei-me de rir.  

OS INADAPTADOS


Tita

14.08.07

 

O inadaptado não se pode confundir com os inadaptáveis. Estes não cabem, pura e simplesmente, no sítio concretamente objectivado. Há incompatibilidade de formas. O bico de um fogão não se adapta ao rotor de uma bilha de gás. E é tudo. O inadaptado é potencialmente adaptável a tudo e qualquer uma coisa. Só que não consegue. O inadaptado já foi testado e não serviu. O inadaptado não serve na maior parte das configurações porque não sabe tomar-se do molde adequado para o efeito. Não é capaz de fazer o que todos sabem com naturalidade. Neste aspecto, é igualzinho ao inadaptável. Tal como este, o inadaptado , se tem de se integrar porque tem que ser, tem sempre o aspecto de improvisado. Improvisado. Inseguro. Anti-séptico . Incómodo nem que seja só ao ver.

 

Há um sítio para o inadaptado. Um lugar onde ele cabe na perfeição. Um espaço onde ele se transforma em parte integrante, em motor e em cérebro. E é este o drama do inadaptado. Não tem escolha . Ou é aquilo ou nada. Ou é aquilo ou a angústia.

 

Mistic River . Que raio de personagem é aquele Jimmy Sean Penn )? O homem é uma espécie de justiceiro selvagem desprovido da dose de consciência básica necessára para o poder ser. Perde a filha. Coisas que acontecem também e especialmente no cinema. Sofre imensamente com o facto. Mata um inocente por engano. E está vingado. Nada lhe acontece porque, de algum modo, se sente que foi feita a devida justiça. O homem aplacou a ira. Exerceu vingança (acto altamente contributivo para a necessária leveza do ser - de qualquer ser, ao que parece). Enganou-se por bem. Matou um débil emocional. Ao que parece alguém sem esperança de se tornar um adpatado . Um homem que, ainda por cima, matou um pedófilo. Morreu porque teria que ser julgado (e enforcado?) pelo caso ouporque , em qualquer caso era um pobre infeliz. O Jimmy não foi punido. Nem por isto, nem por um marginal que também matou. É que, para além de ser um escroque, este segundo morto impediu o Jimmy de acompanhar os últimos momentos da sua mulher doente, mãe da filha posteriormente morta.

 

A polícia, a família e a Miramax estiveram com Jimmy. Para além disso Jimmy é muito bem aceite por todos os demais. Sem dúvida, é um adaptado. Valha-nos Deus!

 

URGÊNCIAS!


Tita

13.08.07

 

 

 

Comigo quase tudo é urgente. Quero saber como acaba. O livro. O Filme. A peça. A história. O caso. A casa em construção. Não gosto de fases ou de etapas. O livro só me faz sentido total quando o leio pela segunda vez. Por isso retive tão pouco das centenas que já li. Apenas repeti uns quantos. A ansiedade impede-me de olhar os detalhes. Só gosto de detalhes depois de saber onde me vão eles levar. Sobretudo, depois de saber que não me levarão a nenhum lugar desagradável. A isto se chama desconfiar de tudo. Ter um traço marcante na personalidade que faz doer.

 

Viver sem confiança na vida tem várias implicações, também elas, negativas. Dúvida. Receio. Pessimismo. Porém, espantosamente, diria, tudo isto se dilui no momento do acto mau que  acontece. Que acaba por acontecer porque é impossível não acontecerem coisas negativas. Aquelas que, precisamente, mantêm a referida insegurança, e que são temidas em abstracto. No momento em que elas se dão, a desconfiança esvai-se. Não há como desconfiar de um facto consumado. A dúvida desfaz-se. Não faz sentido desacreditar os cinco sentidos e a remanescente actividade cerebral. O receio autoliquida-se . Não pode manter-se sobre algo que está para vir porque isso é, então, um acontecimento presente. O pessimismo deixa de ter lugar. Não há mais expectativas. Em face da situação, o teste. Da força. Do carácter. Da coragem. Do optimismo. Em geral, verifica-se a passagem com distinção.

 

Ter urgência em saber o fim significa ter medo dele. É este medo que não permite a paz para viver cada pedaço pequeno, grande, médio ou mais ou menos das coisas que fazem parte da vida.

 

Por outro lado, que interesse terá olhar para as coisas como elas são? Para a casa como ela é. Para o carro como ele está. Para o emprego como ele se mostra. Para a namorada ou namorado como se revela. Para as limitações actuais próprias da relação amorosa. Qual é o interesse em olhar para estas coisas como se elas fossem apenas realidades sem dinâmica que preste? Para quem tem pressa em ver o fim, esta abordagem seria aproveitável. Estancar tudo, olhar e concluir. Que estável!

 

Porém, a ansiedade não reside apenas no medo do que virá. Ela monta um determinado tipo de desejo. O desejo de mudança. Mudança permanente. Mudança na evolução, de preferência. Ou mudança por destruição para começar outra coisa diferente, se assim tem de ser, mas esperando que não.

 

O que fazer quando não se gosta do quadro cuja moldura nos enquadra, para além da primeira opção, ou a hipótese fácil (estourar com a porcaria da madeira)? Esperar o momento certo para mudar. Enquanto isso, ir recolhendo todos os dados e objectos que serão necessários  quando esse momento chegar. E se o momento certo não chegar? O que fazemos aos dados e objectos recolhidos? Queimamos juntamente com a moldura? Ou esquecemo-los e penduramos a moldura bêbados de frustração? Pessoalmente, acredito na existência do momento certo. Porque a sua vinda também depende um pouco de nós que o esperamos.

 

Mas recolher dados e objectos não é coisa que ocupe o tempo de uma pessoa com a dignidade que sempre se impõe. Necessariamente, o individuo deve procurar outras fontes de desenvolvimento físico e emocional. E esta obrigatoriedade é que é o mais difícil de tudo. É que a falta de entusiasmo numa ou duas áreas da vida de um ser humano é infecto-contagiosa em relação à outras. Eis aqui um grande desafio. Pelo menos, para mim.

 

A PAIXÃO PELAS COISAS QUE NÃO TêM PELE


Tita

09.08.07


 

Há uns tempos não há muito tempo ouvi o José Mourinho dizer que não considerava a hipótese de acumular as funções de seleccionador inglês e de treinador do Chelsea. Agora, neste preciso instante, me recordo quando foi isso. Estava o Eriksson para sair do comando técnico da selecção de Sua Majestade. Mas, mesmo assim (com este dado), não consigo lembrar-me em que mês foi isso. Pior, nem o ano. 2006 ou 2007? E, afinal, quando se deu a troca de treinadores? Aliás quem é o novo "Mister" da equipa de Inglaterra? Não sei. Basta ir pesquisar. Eu não vou porque se estivesse interessada nos factos não os tinha esquecido. Memória e emoções. É assim. O interesse do cérebro enviado em estímulos que se reflectem no pulsar do coração.

 

Mas porque não podia o José Mourinho acumular funções? Ah! Disto eu lembro-me bem. Porque não se sentia capaz de desenvolver muito bem dois projectos distintos, ainda que na mesma área de actividade. Que admirava alguns colegas que o conseguiam fazer. Mas ele não. Identifiquei-me. Não com o futebol. Com a ideia. Também sou assim. Se ele for também assim como eu penso que é porque eu sou, então, tudo tem a ver com a capacidade de entrega.

 

O amor não é eterno. Porém confere uma sensação extraordinária de eternidade. O amor tem um termo final aposto no compromisso assumido para sempre. Não é eterno, mas é exclusivo. Estou a falar daquele que é especial. Que agita as hormonas. Que remexe as ideias. Que inventa projectos. Que nos transforma o espírito no sentido do optimismo. Que nos perfura a alma todos os dias mais um bocadinho com o objectivo de chegar ao âmago da nossa própria vida. Que rejeita a pele e o cheiro de outra pele que não tenha senão aquele cheiro. Este amor, sim, este amor é exclusivo por imposição, independentemente da vontade. Há entrega porque se está definitivamente entregue a algo para que se foi voluntariamente, mas já não se fica nessa condição.

 

E se o caso não é de amor entendido no sentido clássico-habitual do termo? Se é apenas paixão sem a componente da pele com odores e fluidos ? O José Mourinho não ama todos e cada um dos seus jogadores. É um dado praticamente certo . Nem faz amor com o Estádio do Chelsea . É um facto incontornável. Nem tem devaneios de índole equivoca com as camisolas do clube. É mais que provável. Não pensa na multidão que lhe enche o Estádio em termos inconfessáveis. É cientificamente comprovável.

 

O caso é de paixão pela obra pessoal. Paixão por algo que tem de acontecer para que o possamos ver como um espelho onde nos viremos a mirar. Olhar para algo que é nosso e é brilhante reflecte em nós essa imagem. Isto justifica o empenho de uma vida em cada momento dela. Para alguns.

 

A maior parte de nós que é assim, pode morrer em vida de angustia, duvida, medo, dor. Ou seja, de frustração. A entrega é total perante a miragem da obra que há-de vir. Por isso não há disponibilidade para mais nada. E é certo que o reflexo, que se deseja tão dolorosamente nunca,  pode nunca vir  a brilhar. Porque o que alguém consegue produzir, dar vida, construir, fazer crescer, e se possa considerar brilhante, nunca depende unicamente de si. A obra tem inúmeros autores. Os outros são os que não vêm o tal reflexo. Mas estiveram lá. Para o bem e/ou para o mal. Estou certa de que, se o José Mourinho é como eu imagino que é porque eu sou assim, passou por muitos maus momentos e esteve quase a deixar de acreditar, tendo, até, pensado que isso lhe acontecia. E depois de tudo, será que ele gosta de ser como é? 

 

 

A MANSÃO


Tita

05.08.07

  

 

Descobri que a minha avó era doente mental. Não a verdadeira mã  da mã nem a verdadeira mã  do pa. Mas a outra. A Bubu . Tinha olhos azuis e o cabelo todo branco. Neste aspecto, nas cores, era do género da avó verdadeira, mã  do meu pa.

 

A Bubu foi mais minha avó do que as outras duas porque viveu mais tempo próxima de mim do que elas. E a culpa não é de ninguém.

 

Sempre soube que a Bubu estava  internada na psiquiatria. Este facto significava para mim que existia uma organização na "Mansão" no que diz respeito ao lugares onde se deviam acomodar as pessoas que lá viviam. Os critérios subjacentes a tais definições, desconhecia e não me importava com isso. Porque não me era importante saber.

 

Eu própria também vivia na "Mansão" com os meus pais num local próprio. Neste caso, porém, compreendia intuitivamente a razão. Em princípio, existia uma separação clara entre quem cuidava e quem recebia cuidados.

 

Sucedia-me, porém, por vezes cuidar de mim e, outras vezes, ser cuidada. As pessoas internadas eram, em geral, cuidadas, mas também se cuidavam entre si. Por vezes, até, cuidavam das pessoas que cuidavam delas. Era tudo muito promíscuo, bem vejo. Indisciplina nos afectos. Era o que isto significava tudo. Está correcto. A organização deve ser organizada para os afectos poderem fluir sem dsiciplina.

 

Nunca falámos sobre isso muito profundamente, mas estou convencida que foi a minha mãe  quem me convenceu a ser netinha da Bubu. Quer dizer, preparou o clima, deu calor ao contexto.

 

Em nada estranho o facto de a minha mãe me ter confiado a alguém com problemas mentais. Porque nunca me aconteceu nada de mal, mas só coisas de bem. De qualquer modo, a minha mãe arrisca muito no que respeita às emoções. Não me lembro de tê-la visto perder alguma vez na "Mansão".

 

Hoje soube que a Bubu tomava muitos medicamentos e injecções, sendo certo que isso explicava a sua calma infinita. Fazer isto à Bubu, era organizá-la para a libertar para os afectos. Talvez. E que vivam as boas drogas. Se elas existem e o sofrimento se esvai.

 

Lembro-me de entrar pelo espaço do internamento psiquiátrico e ouvir gritos estridentes, corpos catatónicos ou baba no queijo das mulheres que gemiam. Aconteciam estas coisas com algumas, diariamente. Nunca vi a Bubu assim. Não sei porquê. Diariamente eu entrava por ali sozinha. Podia procurar a minha mãe, a Bubu ou andar a ver outra coisa qualquer. Tudo (estas vulgares viagens) começou com cerca de 3 anos.

 

Penso que a vida cá fora não é tão grata a nós, que lhe damos o nome. Vida. Nem nós lhe mostramos gratidão por ser o que é. A nossa vida, Na vida normal, a minha mãe mostrava-se muito menos mágica e pouco sorria. Vi-a perder muias vezes. Até comigo. Embora eu tenha perdido muito mais com ela. O melhor era nunca ter havido um jogo.

 

O meu pai só sentia para dentro e queria mandar em tudo de toda a gente. Sobretudo nos pensamentos. Nos actos, mandava mesmo. Creio que tenho dificuldades em perdoar-lhe. E eu tento muito. Talvez o ideal fosse libertar-me dele. Também tento muito. 

 

Sobre tudo o que pode, ele decide sozinho e arrasta os outros pelos cabelos. Ele espera afecto sobre o que constrói a partir dessas decisões, enquanto tenta arrastar-nos pelos cabelos em direcção àquilo que nem ele próprio já tem a certeza que está certo (e será que, no passado, sempre teve?). Isto enche-me de uma raiva! E respondo violentamente através de golpes na ligação emocional. Naturalmente. Tento cortá-lo a todo o custo. Cada reacção minha é mais uma tentativa. Materialmente débil, talvez. Ainda não sei.

  

Muito estará perdoado, porém, nada está esquecido. Eu previa isto no passado enquanto o assistia. Sabia que o futuro seria assim. Hoje o meu pai tem 79 anos e quer, do mesmo modo odioso  que sempre quis, viver um projecto, exclusivo seu, recentemente inventado. E estica a mão em direcção aos nossoas cabelos. Soferá imenso se não os conseguir agarrar firmemente. Dou um passo rápido para trás. Não me apanha!

 

Hoje recuso-me.  Já posso. Recuso-me com a dor de saber que está certo recusar. E com a culpa de quem não tem bem a noção do que está a fazer.  Talvez eu não volte a ver o meu pai. Ele foi-se embora, estando  presentemente a arriscar-se a morrer sozinho. A culpa ocupa uma parte de mim. Não me parece justo.

 

Nós, todos nós, temos a impressionante capacidade de tirar sentido à vida. Não me parece certo.

 

 

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