PARA QUE SERVEM AS RELAÇÕES AMOROSAS - PARTE II
Tita
18.08.07
De novo me sucede. Escrever uma coisa deplorável. O post anterior. Por duas vezes aconteceu o mesmo. Tentei estruturar. Pensar no que escrevia antes de escrever. Escrever só depois de pensar. Não tenho jeito para isso. Não gosto do resultado. Não se escreve assim coisas que não sejam técnicas . É que nem resulta técnico, nem o que se quer. Não resulta
Eu não sou escritora. Sei que os escritores escrevem trabalhando. Pensam muito bem naquilo que disseram. Revêem e alteram tudo muitas vezes. Até ficar exactamente como querem. São técnicos com talento. Os escritores. É por isso que conseguem escrever coisas muito bem pensadas, cheias de estrutura e sem sentido técnico nenhum. Que é o que se pretende.
Aqui neste blog não há técnica . Nem talento. Não é para isso que serve. Ninguém cria um blog porque se acha talentoso. Ou, se calhar, cria. Mas isso não me importa. Eu não. Eu não crio um blog porque ache que tenho talento. Eu só preciso de escrever. Eu não crio um blog porque queira partilhar saber técnico. Porque a técnica me aborrece de morte. Eu não sou facilmente adaptável.
Eu não, tem sido a minha frase guia. Eu não quero. Eu não sou assim. Eu não vou por aí. Eu não. Eu não estou muito bem. Eu não estou com a esperança toda. Eu não gosto da minha vida agora. Eu não quero ir à praia . Eu não quero namorar. Eu não quero ir ao cinema. Eu não quero escrever. Se eu quisesse tudo o que eu não quero agora, queria escrever.
Eu não quero o que sei que não quero. Eu sou uma macaca de imitação. Um dia ouvi, ou li (não recordo) que, para se chegar a saber o que se quer, tem primeiro que descobrir-se o que não se quer. Segui por este rumo. Pois então! Pareceu-me boa a ideia. Assim fiz. Hoje tenho uma pasta bem organizada por temas e respectivos assuntos. Chama-se pasta "Eu não quero". É de boa qualidade e tem bom aspecto. É enorme e está cheia.
A pasta enche na mesma proporção em que eu me esvazio. Das pessoas e das coisas. E me encho de solidão. Porque cada elemento da vida que eu não quero, rejeito para sempre. Sem volta. Sem redenção. E sofro mais do que queria.
Para mim. Cada experiência é um teste. Cada teste é uma experiência de vida. Para saber o que não quero, eu testo. Eu testo-me também. Por isso tudo acaba por ter um ar tão dolorosamente passageiro. Em qualquer coisa sempre haverá algo que eu não quero. Porque nada é perfeito. E se é a perfeição que eu quero, então eu não tenho nada a desejar da vida. Porque a vida não é perfeita. E eu também não. E se o digo é porque o desejava ser. Perfeita. Verifico a patologia. Só um louco deseja o impossível.
A verdade, porém, não é essa. É pior ainda. Eu não desejo ser perfeita. Desejo um mundo perfeito cheio de pessoas perfeitas à minha volta disposta a me aturarem. A isto não se chama sonhar. A isto chama-se sofrer. Não é por acaso que se chega a um dado momento da vida e se está a sentir assim. Sonhar é ver algo quase impossível de alcançar e querer chegar lá. Porque existe uma possibilidade. O meu sonho é conseguir parar de sofrer. É um objectivo muito respeitável, enquanto sonho.
Tenho medo de cada coisa nova na vida. Tenho medo. Sempre que isso acontece, vou à minha pasta do não quero fazer consultas. Encontro sempre alguma resposta que se adapta . E quando (raramente) não encontro, entro em pânico.
Não vou tentar dizer o que é sexo da mesma maneira que o fiz antes. Vou explicar o que eu sinto que é fazer sexo. É despir a roupa e o medo. Fechar os olhos colar o corpo e sentir que há um bom bocado de verdade naquilo tudo. Eu não quero fazer sexo que não seja assim. E não faço. Nunca.
Não vou tentar dizer o que é uma relação amorosa. Vou, antes, tentar explicar o que eu gostaria que fosse. Seria dar as mãos e sorrir. E nunca as soltar, mesmo quando não é possível não chorar. As pessoas soltam sempre a mão. Há um momento em que é assim. E eu não quero viver uma relação amorosa com quem, pelo menos, tenha pensado em afrouxar os dedos.
Não vou tentar dizer para que serve uma relação amorosa. Vou contar o meu sonho: serve para criar no mundo algo de inteiramente novo, perfeitamente exclusivo e que não é uma obra puramente individual. Eu não quero uma relação como todas as outras.
Portanto, eu não quero.
Eu não quero. Eu não quero. Eu não quero. Assim já não sei o que posso querer da vida porque o que eu quero NÃO HÁ.
ALÉM DE QUE NÃO SUPORTO O PERFUME: AMOR AMOR de Cacharel.