A inteligência emocional de um indivíduo traduz-se na capacidade de gestão das suas próprias emoções. Como não é possível gerir o que não se entende, a inteligência emocional pressupõe a compreensão de o universo interior do sujeito em causa pelo mesmo.
Mas o universo interior, como universo que é, revela-se uma realidade de grande e complexa dimensão. Por outro lado, se os fenómenos se agitassem apenas a um nível interno a partir de proveniências puramente interiores, talvez fosse mais fácil a apreensão. Acontece que a configuração emocional dos sujeitos depende de uma série de elementos de várias proveniências, embora não de diferentes raças e credos (sendo, no entanto verdade que a raça e o credo são também para aqui muito propriamente chamados). Com efeito, a genética, a assimilação das regras sócio-culturais e religiosas e o que se passou lá por casa, contam. Assim, antes de se compreender, o individuo tem de construir noções preliminares sobre estas circunstâncias. Depois, olhará para dentro e tentará ver como se deu a síntese. Acredito que, apesar de tudo, existe, ainda, um factor individual distintivo. Ainda que possa ser um mero ponto residual.
A inteligência emocional revela-se no posicionamento do sujeito perante os outros e o mundo. Espera-se que quanto menor for o grau de conflitualidade relacional maior será a inteligência emocional.
O conceito de inteligência emocional é dos nossos dias porque hoje todos queremos acreditar somos seres civilizados. E tudo começou com as revoluções liberais e, posteriormente, com a Declaração Universal dos Direitos do Homem e, posteriormente, por aí fora com mais actos e factos de grande relevância para a imagem do homem enquanto ser humano.
Pois eu acho que os papeis, a revoluções e as guerras e o grandes compromissos internacionais, tenham eles a dignidade e a dimensão espacial que tiverem, não querem dizer nada para o que aqui importa. Pois eu acho que a história, com as suas grandes mudanças no sentido da humanização para a humanidade não se consubstancia em actos direccionados por isso e para isso. Foi sempre a economia, com a política a servir de base de apoio que tratou de tudo, tendo-se aproveitado, ainda, o desenvolvimento tecnológico e das ciências, bem como o medo internacional na óptica do olhar do Leviathan. A implementação dos ditos sistemas democráticos, a abolição da escravatura, o voto das mulheres, o trabalho (fora de casa) das mulheres, a pilulesca revolução sexual, o Protocolo de Quioto...
O ser humano colectivamente nunca faz o bem pelo bem. Porque colectivamente é apenas isso. Um colectivo formado por pessoas em busca das suas próprias realizações. E isto não tem nada de civilizado. Isto corresponde ao instinto básico de sobrevivência que nos coloca, em termos do ser, ao mesmo nível de qualquer animal selvagem. Mais especialmente junto dos predadores por assim o podermos. E que importância teríamos se o nosso instinto de sobrevivência fosse equiparado ao dos insectos? Em termos de sobrevivência, a nossa esperança de vida podia situar-se entre as 24 e as 48 horas, como sucede com alguns insectos. Por outro lado, havendo insectos assassinos, não sei se o são por questões relacionadas com a sobrevivência.
Ora o princípio da Humanidade consiste precisamente no contrário. Em não matar por necessidade, entendendo-se aqui o acto de matar no seu sentido mais amplo. Hoje, como somos cada vez mais confusos (falta de tempo para actividades do género introspectivo), superficiais e hipócritas, gostamos de pensar e agir como se fossemos civilizados ou mais humanos. Também porque cada vez nos encontramos mais sós, estamos mais desconfiados. Logo mais medrosos. Logo, mais agressivos.
Mas, como disse, acreditamos que estamos mais humanos. Até pela ilusão do conforto e pelas disponibilidades materiais (ainda que o endividamento particular esteja atingir níveis espantosos). Por isso, falamos e propalamos e achamos que, afinal, a inteligência emocional é atributo crucial.
A inteligência emocional consiste na capacidade de o individuo saber quem é e, ao mesmo tempo perceber as motivações emocionais dos outros de uma forma lúcida. É bonito, porém extremamente difícil. Ninguém quer ser emocionalmente inteligente se isso o fizer aparecer ao mundo como uma ovelhinha. Porque as ovelhinhas são dar lã, queijo, para abater e para comer. Porque ninguém se interessa pela bondade das ovelhinhas brancas. Ou ninguém quer ser emocionalmente inteligente se isso implica andar constantemente a fingir que tem sentimentos de ovelhinha, mas, na verdade, não é. É desgastante!
Assim, talvez seja preferível cada um guardar a sua inteligência emocional para si e usá-la quando está metido em sarilhos. Porque todos andamos constantemente metidos em sarilhos, como é bom de observar. Então, é ser um misto de ovelhinha e guerreiro. Um bocado esquizofrénico, portanto. Por isso os anti-depressivos para estes “esquizofrénicos” e existência de pessoas estúpidas que não têm meios nem muitas razões para deixarem de o ser.