TRANSEXUAIS
Tita
01.10.07
Ontem, num livro de um amigo que ando a ler, Tubarão 2000, vi uma passagem sobre um diplomata imbecil que se queixava da lagosta servida em primeira classe na British Arways. Ele disse à hospedeira de bordo que se aquilo era lagosta, ele era o principe de Edimburgo, ao que ela respondeu: "Sim, Alteza".
No mais, coloca-se-me a seguinte questão: mesmo em primeira classe, as companhias aéreas ainda servem lagosta? Enfim, ainda estou em choque com a falência da SWISSAIR. Seja como for, o que importa realmente é que a classe política portuguesas (e seus ramificados) já não pode viajar em primeira classe a expensas do Estado. E muito menos na TAP.
Ainda sobre viagens, a não perder é mesmo o filme "20 Centímetros", do Salazar. Realizador espanhol quase desconhecido do grande público, porém, maravilhoso. Pois o assunto é a transexualidade, vidas de putas, anões marginais e machões que adoram ser sodomizados. E, porém, a sensibilidade e os bons sentimentos imperam ali. Além do bom humor. Atributo crucial de qualquer pessoa inteligente. E digo mais, Madrid é Lisboa, com as necessária adaptações.
Pois é. Marietta é uma mulher num corpo de homem. Á conta disso tem de se prostituir. Porque, com aspecto de mulher e identidade de homem, ninguém lhe dá um emprego decente em horário diurno (ou, mesmo, noturno). Tem de cortar os 20 cm (20 cm!!!!!!) que lhe sobram ali perto da zona do baixo ventre. Entretanto, enquanto vai juntando dinheiro para a operação, faz as delicías (ela não, o membro dela) de muitos insuspeitos. Um deles até se apaixona por ela. Mas é um amor impossível que o homem é um grande macho passivo e não quer, por nada do mundo que ela, a mulher dele, se vá castrar.
A verdade é que Marietta, que é realmente uma mulher, e não um homem, cumpre o objectivo de se livrar do seu próprio pénis, tendo, por incompatibilidade de feitios, mandado o seu machão embora. Depois da operação ela vem feliz e uma mulher bonita. Normal, sem excessos de make-up ou decotes ladeados de lantejoulas.
Segundo pude entender, depois da cirurgia de mudança de sexo foi-lhe possível alterar os documentos e assumir legalmente a identidade própria, ou seja, de mulher.
Bom, então se for assim, Madrid está a anos de luz de Lisboa e as aparências iludem. Realmente os espanhóis! Aqui tão perto. Nossos ascendentes históricos (gostemos, ou não)... Primeiro inventam a legalização do aborto na península Ibérica. Depois, constroem uma legislação sobre reprodução assistida das mais liberais que há. Têm a "lata" de legalizar o casamento entre homossexuais. E agora isto: deram um passo de gigante no sentido da dignidade das pessoas que precissam de mudar de sexo. Ou melhor, da dignidade das pessoas.
Eu amo Lisboa e tenho muita vergonha!