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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CANALHAS


Tita

11.11.07

  

 

E se uma pessoa tivesse que estar diariamente a desviar-se horas seguidas de objectos lançados na sua direcção? Uns atrás dos outros. Horas a fio. O que poderia acontecer a essa pessoa? Se fossem bolas de ténis, por exemplo.  Uma daquelas máquinas próprias para treinar, disparava as bolas seguidas de uma forma louca. Imensas. A pessoa tinha que fugir. Porque já não podia ir lá de raquete. Já tinha perdido a raquete pelo chão. O Objectivo era realmente evitar que qualquer das bolas lhe tocasse. E se, a máquina que lançava as bolas tivesse uma coisa qualquer incorporada, como os misseis, e conseguisse teleguiar as bolas? O que poderia acontecer? Imaginemos que não podia, por absurdo (ainda maior) sair do campo.

 

Varias coisas podiam suceder. Aquisição de boa forma muscular e cardio-vascular. Melhoria significativa dos reflexos. Aumento da capacidade de concentração. Maior controle do movimento do corporal. E, eventualmente, mais umas tantas coisas que não estou agora capaz de nomear. Mas até chegar aí? O que poderia suceder? Sucumbir por ataque cardíaco. É uma possibilidade.

 

Bem, levar com as bolas todas na cara. Não doi muito. Uma ou duas bolas. Dez bolas. Mas cem bolas! Cem bolas, manda qualquer um para a doença. Uma vez acertei uma bolada em cheio nos seios de alguém. No passa nadie! Mas cem bolas nos seios! Isso já é outra coisa. E duzentas. Bem, duzentas, nem posso imaginar.

 

Portanto, uma pessoa tem que se desviar da máquina que manda violentamente cem ou duzentas bolas teleguiadas. E como se faz uma coisa destas? É ir para o court já com uma forma fisica invejável. É, ainda, entrar com todos os sentidos alerta. É ter nervos de aço. Não mexer até ao último segundo para enganar a máquina. De tudo, o mais difícil é não mexer até ao último segundo. Não reagir. Só no momento certo. Ás primeiras ninguém consegue tal proeza. Porém, quem atravessar o processo sem cair em padecimento, acaba por conseguir.

 

É verdade. Para todos os problemas existem as respectivas soluções. É só identificar muito bem aqueles. As suas causas. Uma vez identificado, um problema perde logo dimensão. Depois, basta ter uma certa frieza para descortinar as soluções. As soluções são sempre mais difíceis do que os problemas. Por isso há pessoas que perferem ficar toda a vida com os problemas. Peferem aquela coisa da morte lenta. Eu perfiro acabar com os problemas. Radicalmente.

 

 Voltando ao court, a solução será, então, estar em grande forma fisica, psicológica e emocional. Portanto, uma tarefa monumental. Uma solução para o problema tremendamente difícil. Mais difícil do que levar com duzentas bolas na cara, e ir parar ao hospital para operar ao maxilar, ao olho ou ao nariz. Ir. Doente e indigno. Para mim, a indignidade é mais difícil do que a dificil solução apontada. Perfiro matar-me a ficar cheia de saúde global, e ir à luta. Aguentar as primeiras boladas. Os impactes.

 

Mas ainda, assim, ninguém pode passar uma vida nisto. Então, é preciso, com todos os riscos inerentes, fazer uma manobra de aproximação ao canhão das bolas. Suavemente. Sem apanhar. Ou apanhando o menos possível, Ir chegando. Na verdade, a máquina tem fragilidades. A maior é que, a partir de um certo raio de proximidade ela não consegue detectar o objecto. Então, cá por mim, chegada aí, é ir direita à merda da máquina e parti-la aos bocados sem dó nem piedade.

 

Não aguento receber sem dar. Há um limite para tudo. Procuro estender o meu limite. Dar a outra face. Mas Jesus Cristo é demasiado importante. Eu sou só eu. Tenho pena. Não estou interessada nos problemas da máquina. Nas razões da sua agressividade gratuita. Não quero saber que ela, afinal, tem uma avaria. Eu só entrei no court para treinar um bocado de ténis. Ultrapassar o limite equilibrado da compreensão, é ser desiquilibrado. Não estou a chamar desiquilibrado a Cristo. Mas ao ser comum. Atrás da máquina há um grande martelo. Ela nada pode fazer e vai apanhar forte e feio. A máquina fica desfeita e eu fico maravilhosamente saudável graças ao que ela me fez passar. É bem feito! Ou não é?

 

Já o disse, compreendo a agressividade instintiva dos animais selvagens. Não aceito, porém, ataques gratuitos das pessoas, para além do meu limite de aceitação. E garanto que é vasto. Era o que mais me faltava agora. Logo eu que adoro leoas.

 

Mas enfim, reconsiderando, talvez depois de passado o tormento de ter de aguentar e fugir. De ter de me aproximar, aguentar e fugir. Chegada lá ao pé. Ver a máquina horrorosa continuando a lançar bolas sem me poder atingir. Eu de martelo na mão atrás dela. Ela a lançar bolas para lá. Aparvalhada. Não sei se não largo o martelo e a empurro apenas para fora do campo, e lhe viro as costas. Talvez. De certeza. Quase de certeza. Bem, mas uma martelada leva. Só uma. Ou duas. É justo. Eu sou uma pessoa justa. Não sou uma leoa.

 

FAREJAR


Tita

11.11.07

 

 

 

Imagino que os cães de  caça poderiam ficar tontos se as lebres ou as raposas, ao fugir,  começassem a correr em círculos intermináveis. Talvez isso não aconteça.

 

Não sei. O meu cão era um teckel. Um pequeno cão de caça, portanto. Tinha um temperamento absolutamente obsessivo . Era capaz de ficar horas com a cabeça dentro de um buraco, desde que lá dentro estivesse uma criatura perseguida acoitada. Depois, eu ía lá, já louca de o ouvir ladrar, e mandava-o entrar para casa. Ele vinha à minha frente porque não tinha alternativa. Demonstrava-me isso claramente. Porém, como tinha respeito, mas não tinha vergonha, e porque a coisa era mais forte do que ele, se eu, distraída, abrisse a porta do jardim ele saia disparado. Para meter novamente a cabeça no buraco. Só regressava se já não estivesse lá o perseguido. De outro modo, passava lá a noite. Isto é, passaria lá a noite ou o dia, se eu deixasse. Isto enervava-me um bocado. Como é evidente.

 

Outra manifestação do temperamento obsessivo do meu cão verificava-se nas grandes viagens de carro no Inverno. Ora, no Inverno, ninguém normal abre a janela do carro. Especialmente se estiver frio ou a chover. Ainda menos numa auto-estrada (aliás, aqui, nem no Verão). Pois ele queria sempre ir de pé no banco da frente com a cabeça de fora e orelhas ao vento. Parecia um aviador! Fui eu quem, de início lhe mostrou como isso era bom. O que ele nunca aceitou é que só o podia fazer em percursos mais ou menos curtos e com temperatura amena. Também não entendia que nem sempre podia ir à frente. Enfim, havia gente estranha que não tinha disposição de ir com ele ao colo. O Belchior era menino para chorar durante várias horas seguidas. Ininterruptamente! Fazia um som tipo chaleira, quando a água está quase no ponto. Nunca saia deste tom. Água quase no ponto. Durante 2, 3, 6 horas! O tempo que fosse. Desde que ele não estivesse onde queria. Não se cansava. Nada o demovia. Nem ameaças. Nem umas palmadas. Nada! Era aguentar.

 

Portanto, o meu cão metia uma ideia na cabeça, e seguia tal ideia para onde quer que fosse. Sem desistir jamais. A cabeça dele ficava ali. Centrada naquela ideia. Para onde fosse a ideia a cabeça dele ia atrás da ideia. Não comia. Não dormia. Nada. Só aquilo.

 

Identifico-me, de algum modo. Por vezes, a minha cabeça cola, como papel à gordura, em certas coisas. Tenho o hábito de seguir os percursos mentais. Não as palavras. Mas o que está por trás. Procuro. Procuro. Meto a cabeça no buraco. E espero com os olhos esbugalhados. Por um movimento. Por um detalhe. Ladro. Provoco uma reacção qualquer. Fico à espera dela. Da reacção. Sou obcecada pelo fundo dos raciocínios dos outros. Portanto sou viciada na actividade de investigação das emoções. As emoções que estão por baixo das palavras e dos gestos. As emoções que residem na base dos olhares.

 

Nunca soube o que o meu cão faria se apanhasse o gato,  o rato, a raposa ou o coelho escondido. Já eu, eu não faço nada, para além da descoberta. Ganho em ficar a saber o que não sabia. Porque era isso que eu queria. Saber mais alguma coisa daquela pessoa concreta. E, em concreto, a generalidade das pessoas interessam-me . Porquê? Não tenho paciência para explicar agora. Teria de pensar nisso. Não é coisa que me saia facilmente para explicação por escrito. Exige paragens. Eu não faço pausas enquanto escrevo. Sei que preciso de compreender. Tudo. Sobre as pessoas que me ficam por certo tempo à frente.

 

Ora, isto é bom e é mau. As descobertas são boas e más. Como é evidente. E eu até já sei disto previamente. Acho, até, que é um desperdício de tempo e de energia andar sempre nestes exercícios.

 

Há pessoas cujo raciocínio é mais tortuosos do que um caminho de cabras cheio de curvas, se houvesse um caminho de cabras tão emaranhado como um novelo de lá previamente desenrolado. Como se nas curvas houvesse arbustos cheios de silvas.

 

Se seguimos o percurso de um raciocínio parecido com um caminho de cabras cheio de curvas que poderia ser parecido com um novelo de lã emaranhado, e também com arbustos de silvas, se tal caminho existisse, podemos ficar mais obsessivos do que já somos. Podemos aprender a raciocinar assim. E podemos ficar doentes. Há coisas de que nunca nos lembraríamos de pensar, e que, agora, já nos lembramos. Coisas que não servem para nada. Coisas negativas. Que emergem na nossa cabeça.

 

 Se eu não gostasse de percorrer os percursos é que era bom. Talvez não seja necessário fazer isso para chegar às descobertas. Mas eu faço-o. Eu sigo fielmente o trilho, desprezando atalhos. Quero mesmo ver por onde é. Portanto, eu gosto ainda mais do processo do que do fim do processo. Mas também gosto de chegar à conclusão. Porém, ainda assim, prefiro as descobertas do percurso. A porcaria dos arbustos silvados. A canseira das subidas e descidas. Torcer os pés nas pedras. A irritação de fazer espirais no quase retorno. Eu sou uma ovelha sem nenhum sentido prático.

 

Aparentemente, o que vou dizer nada tem a ver com o que deixei dito, mas o meu cão... Ainda é o meu cão.

 

 

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