A ILUSÃO DEMOCRÁTICA
Tita
22.11.07
Estou perto da conclusão de que a democracia constitui uma outra forma de despotismo, ou a sua formulação moderna. Os poderes do déspota iluminado, do déspota anterior a este e dos déspotas comunistas-fascistas mais recentes transferiram-se para a sociedade. O déspota da democracia é a colectividade. Como a colectividade se confunde com o Estado, o déspota é o Estado. Nos modernos sistemas político-económicos-democráticos o Estado procura demitir-se da responsabilidade directa pelo desempenho do maior número de tarefas possível, delegando tudo o que pode o mais que pode em entidades particulares. No entanto, e para tanto, necessita de regular. Regular a actuação privada. Portanto, aumenta a necessidade de regulação por parte do Estado. Se aumenta a necessidade de regulação, aumentam as regras e os espartilhos, a máquina que os produz e os respectivos mecanismos de controlo. Aumenta o Estado. Portanto, quanto maior o espaço para a iniciativa privada, mais se agiganta o Estado. O espaço da iniciativa privada é um espaço de lei. O monopólio da produção legislativa pertence ao Estado.
Neste contexto, a distância entre o indivíduo e o Estado é praticamente inexistente. Não existe verdadeiramente sociedade civil. Por isto eu disse que a colectividade se confunde com o Estado. Mas não é apenas por isto. Há que acrescentar, ainda, para completar o quadro que se apresenta, a consideração dos interesses individuais, os quais são apenas considerados porque os cidadãos têm direito ao voto. Assim, os interesses individuais têm de ser considerados colectivamente. Colectivamente, quer dizer, maioritariamente. Maioritariamente, quer dizer, pela maioria.
Por definição, o interesse maioritário opõe-se ao interesse individual, quando não se dá o caso de o esmagar, mesmo. No jogo democrático joga-se às concessões e aos ajustamentos. Como democracia implica liberdade e igualdade, procura-se atender aos interesses de todos, respeitando todos os direitos. Os mecanismos pelos quais se procura chegar a este desiderato implicam constrangimentos sobre as liberdades individuais e atropelos ao princípio da igualdade e da justiça aplicados individualmente.
Em democracia não há liberdade real. Esta conscientemente concedida com a consciência que se contribui para o bem de todos, respeitando o sistema que nos serve, mas nos descontenta, e que, ainda assim, é o menos mau de todos. Simplesmente porque vivemos juntos.
A palavra mais importante em democracia é: “correcto”. Politicamente correcto. Socialmente correcto. Fisicamente correcto. Intelectualmente correcto. …mente correcto. E eteceteramente correcto. Etc. É incorrecto ser estúpido, mal informado, mal disposto, feio, preguiçoso, desinteressado, talentoso…etecetera. É incorrecto ser assistematizado.