TEATRO
Tita
08.09.09
Gostava tanto de voltar à minha vida. A que vivia há apenas quatro ou cinco meses atrás. Tinha a rotina de um amor seguro, estável e feliz. Tudo aparentemente. Se não fosse tudo aparente não tinha terminado. A segurança, a estabilidade e a felicidade. Hoje, transito não sei por onde, desconhecendo para onde. Apenas sei porquê. O que, nem por momentos, me basta. Estou num rumo que vejo, mas não sinto. Só me sinto mal. Estou presa á vida por arames.
Não gosto de frases feitas. Mas tenho uma grande simpatia por lugares comuns. As frases feitas são vazias de sentido útil porque significam nada para cada ser considerado na sua individualidade. Que é como deve ser considerado cada ser. Os lugares comuns são outra coisa. São formas de falar fácil para produzirem entendimentos rápidos e precisos. Têm a maior utilidade. Toda a gente consegue compreender o que é ter a vida presa por arames. Ninguém percebe o que significa, por exemplo, levantar a cabeça e seguir em frente. É que isto não tem nada de pessoal. É tipo uma aspirina, que serve para aliviar momentaneamente quase todas as dores, mas não cura doença nenhuma.
Cada vez me sinto mais alérgica a pessoas que utilizam frases feitas. Nos jornais, na televisão, nos filmes, nas revistas e, principalmente, na sua vivência diária. Se há gente que usa frases feitas em livros, não sei. Não leio livros desses. Digo-o com uma certa arrogância.
E por falar em arrogância, lembrei-me do orgulho, que tem alguma ligação. Sou tão orgulhosa! Nem sei para quê. Talvez me tenha servido em muitas alturas da vida. Actualmente só tem a função de me angustiar. Além de que não me parece que tenha muito de me orgulhar hoje em dia. Falo das minhas produções próprias actuais.
Gostava de ir ao teatro ver uma peça com significado. Mas nem me dei ao trabalho de ir ver o cartaz. Não me apetece nada de especial, na verdade. Só gostava que me viessem parar à mão algumas coisas. Podiam vir trazidas pelo vento. Gostava de ter a vida de há seis meses atrás. E que ela me viesse cair em cima trazida pelo vento. Provavelmente, porque tem sido costume, gostava de ter aquilo que não é bom para mim.
Suspeito que já devia ter passado por esta fase há alguns bons anos atrás. Mas estou atrasada. Logo eu, que só queria ser a primeira em tudo. Eu já me habituei à ideia de ficar para trás no tempo.
Por fim pergunto: estou com alguma depressão? Não. Estou a sofrer e não sei como resolver o assunto. É simples.