As coisas quem mais me têm chateado ultimamente aprecem com a cara do Passos Coelho. E não a do Relvas. Compreendo. É instinto de preservação. Uma vez uma médica explicou-me isso. O organismo diz basta quando a dor é excessiva. É por isso que não dói nada quando se bate a 200km por hora. Claro que é quase morte certa. Mas de um certo ponto de vista, do ponto em que não há dor, é uma morte pacífica. De qualquer modo, creio que nunca bati a essa velocidade. Creio porque não sei muito bem qual era a velocidade a que vinham terceiros. Mais propriamente o homem que me abalroou. Seja como for, não doeu nada a bater. Palavra de honra. Depois é que foi o pior. Claro. É sempre assim quando se sobrevive a um grande impacto. A cara do Relvas é something neste aspeto. Assustadora na mesma medida em que parece um paralelepípedo com dois brilhantíssimos olhos minúsculos cravados tipo cabeças de prego. Passe o facto de ter um ar de saloio incrível. Certamente.
Com o Passos Coelho a coisa já não é assim. A dor anestesiada. Não. Dói sentidamente ver a cara do homem. Há mulheres que dizem que ele é bonito. Até a Maria Filomena Mónica. É natural. Mónica parece irremediavelmente fascinada por cores claras. Como as dela. E de muitos meninos da saudosa Oxford, aliás. Embora também tenha dito que o Sócrates “não estava mal, vendo só do ponto de vista da estética”. Bom, se formos a ver, o António Barreto não é propriamente um nórdico “do ponto de vista da estética”. Portanto, tudo faz sentido.
De qualquer forma sinto gratidão para com Maria Filomena. Por várias coisas. Em primeiro lugar por me ter lembrado de uma coisa muito importante. O Zé Povinho do Bordalo Pinheiro. “O povo português gosta do Zé Povinho”, disse. Caraças, pois é! Fiquei totalmente parada porque petrificada sob o peso desta verdade inamovível. Numa frase, nesta frase, Maria Filomena quase conta a história de Portugal. Agradeço-lhe. E também porque explicou porque não vota. Também sentia exatamente o mesmo. Até que votei nas últimas eleições. Mudei de ideias. Mas o que ela diz é exatamente assim. No mais, MFM continua a ser um bocado malcriada. Tanto que chega ao ponto de, a espaços, parecer ou ser uma tonta.
Pois dói ver a cara do Passos Coelho. “As Doce” tinham uma canção chamada “Dói dói”. Não sei se isso teve alguma coisa de premonitório. Pode não ter nada a ver, de facto. Eu é que já estou com pensamentos esquivos e procuro por isso descobrir a causa das coisas em veículos próprios das energias, da astrologia e das adivinhações. Por outro lado, não sei exatamente a razão pela qual o espetáculo das manicures, a que PC (Passos Coelho, não o partido) foi assistir terá a ver com “As Doce”. Mas palpita-me que, naquela cabeça, tudo.
Ver a cara de Passos Coelho dói mesmo. Não estou de acordo com a Clara Ferreira Alves quando diz que ele não é burro. Não? Pelo amor de Deus! O homem mandou os professores desempregados procurar emprego em Angola. Sim mandou. Foi mesmo assim. E só no fim desta conversa é que disse que estava em conversações com o governo angolano para arranjar uns programas de cooperação para o efeito. No dia seguinte, informou pela televisão que o governo tinha muito trabalho para fazer e que não podia perder tempo com manobras de diversão sobre assuntos menores, como o eram as notícias sobre Angola e os professores sem emprego em Portugal. Um tipo inteligente, trataria de fazer os programas e procuraria aliciar as pessoas. No fim, mostrava a coisa com cara de coisa boa. Talvez até ganhasse muitos simpatizantes. Assim, só a falar, arranjou o que se sabe. Igualmente, sobre os números do desemprego disse ao morto-vivo do Seguro que não ia agora discutir o assunto porque o governo não trabalha segundo a agenda mediática. E mais disse, no mesmo encontro na Assembleia da República, que o desemprego ia descer no segundo semestre MAS QUE SE NÃO DESCESSE O GOVERNO VERIA NA ALTURA OS AJUSTAMENTOS QUE FOSSEM NECESSÁRIOS. Ou seja, este homem só não é um refinado burro porque, entre outras coisas, os portugueses votantes são desatentos, mal informados e gostam do Zé Povinho.