O MEU DIA DE HOJE FOI ASSIM
Tita
02.03.12
Afinal existe um livro sobre Inteligência Emocional. Foi escrito por um psiquiatra. Não sei porque fui imaginar que não havia. Não, não é autoajuda. E também não, não é um manual. É um livro cientifico. Ando a ler e já vou a meio. As coisas importantes que eu aprendi sobre os processos que têm a ver com pensar e sentir são já algumas. Por exemplo, a preocupação. Mais propriamente, aquele tipo de preocupação dos pensamentos "mágicos". Do género: "será que isto vai correr bem? Não. Não vai correr bem. De certeza que não vai. Tudo será decidido contra mim. É melhor pensar nestes termos para ficar preocupada. Se ficar muito preocupada, fazendo muitas figas, tudo se há-de resolver. Talvez".
Não sei se me fiz entender. De qualquer forma, fiquei a saber que há imensa gente com esta espécie de vício péssimo para a saúde. E, mais importante, que não resulta. De facto, a preocupação não resolve os problemas. Nada acontece porque uma pessoa se preocupa. Acho que isto é um alívio. E a sério que deixei de me preocupar. Agora já sei que não tenho nada que me sentir culpada por não me preocupar com as coisas. No mais, o alívio é um estado saudável. E a saúde dá autoconfiança.
A propósito, hoje é dia de Benfica-Porto e estou um bocado preocupada, lá está. Assim como se esta tensãozinha ajudasse a equipa a ganhar. A minha. O Benfica, como é evidente. No outro dia alguém disse que todos os portugueses nascem do Benfica, havendo alguns que mudam por uma qualquer circunstância da vida. Na maior parte dos casos, por distração. Achei este pensamento divertido. Dai estar agora a reproduzi-lo. Mas note-se, ainda sobre a preocupação. É aquela que não serve para nada, conforme consta do livro. Estou portanto a lutar contra ela. Devo ser uma boa aluna. Uma aluna esforçada, pelo menos.
Não entrava num tribunal desde que deixei de advogar. Hoje fui lá de testemunha. Era a única para hoje. Coisa importante. Porque não há mais ninguém que tenha visto o meu acidente de há 12 anos atrás. Sim, 12 anos. Foi em Setembro de 2000. Dia 9. Ás 9. Da noite. Uma pessoas morreram no facto. E as restantes perderam os sentidos. Já eu, a mais insuportável control freak que pode haver, tratei de não morrer ou, pelo menos, desmaiar.
Sei tudo. Lembro-me de tudo. Podem perguntar-me o que quiserem. Eram seis advogados. Seis ex-colegas de profissão. Todos perguntaram coisas, assim como a juiza. Respondi a tudo sem contradiçoes e ainda pedi desculpas por ter um discurso tão articulado. "É ridiculo lembrar-me destes detalhes. Mas é que ficou tudo gravado na memória emocional. Peço desculpa", desabafei.
Já estavam todos a acreditar em mim. No entanto, houve ali dois muito espertos e experientes que tentaram o impossivel. Que eu metesse os pés pelas mãos. Era um ele e uma ela. Ela foi pior. Às tantas, a propósito da altura em que um camião me ultrapassou e o momento da colisão, disse-lhe: "ó sotoura vamos lá a ver, o que está a fazer é um raciocinio do tipo cartesiano. Parte do facto consumado, Deus existe, para chegar aos fundamentos das suas constatações, Deus existe, ora como sabemos..." E ela: "bem, se entrarmos agora aqui pela filosofia, não vamos a lado nenhum".
Compreendi que não leu o "Discurso do Método". E, mais importante, que não há método que permita apanhar numa mentira uma pessoa que está a falar a verdade. Meteu a viola no saco.
Realmente é um absurdo este julgamento estar a correr só agora. Como disse, 12 anos depois. Se bem que o processo crime já esteja decidido, sempre é certo que alguns lesados ainda não foram civilmente reparados. Estamos pois no âmbito do processo cível. Entretanto, um interessado direto já morreu de morte natural. Se não houver para aqui uma transação judicial, com os mais que prováveis recursos, ao fim de cerca de 20 anos virão as indeminizações. É assustador!
Ora, muito ciente das descritas complexidades eu resolvi logo o assunto em 2001. Fiz um bom acordo com a seguradora. Pronto. Mais duas pessoas fizeram o mesmo. Um acordo. Não sei se tão bom. Porém, outras não puderam porque os danos não estavam todos apurados até há quatro anos atrás e ainda outras também não puderam porque o advogado é péssimo.
É lixado ter um advogado assim. Péssimo. Calha que são as pessoas mais humildes. As que têm este advogado. Ao que pude perceber, é provável que venham a perder imenso dinheiro. Quem me dera poder explicar o que se passa e dizer o que penso. Não posso evidentemente.
Bom, agora que já falei um bocadinho, não posso continuar. O meu pai está aqui ao telefone. Há imenso tempo que não converso com ele como deve ser. Vou então aproveitar agora. Estou com saudades.