VÍCIO
Tita
11.04.12
Sobre os chamados “jogos de sorte e azar” ocorreu-me que é necessário deixarmos de dizer as coisas assim. É que não existem jogos de azar. Uma pessoa que perdeu ao jogo em caso nenhum tem azar. Por causa das probabilidades. Pese embora o malestar, perder tem toda a lógica, é muito natural e por consequência, do ponto de vista do equilíbrio emocional, revela-se muito saudável. Repare-se que o azar corresponde à verificação de um evento desagradável altamente imprevisível. Ora, isto jamais acontece no jogo. Por outro lado, quando alguém ganha nos “jogos de sorte e de azar” está numa situação positiva que desafia toda a lógica. Vive uma SS. Situação de sorte. Um momento de irracionalidade do tipo divino. Conclui-se assim que apenas existem “jogos de sorte”. Dizer que também são de “azar” não é inocente. Vem de quem ganha com o fenómeno. Pretende-se com a designação atribuir as culpas ao jogo pelas perdas do jogador. É uma ajuda para que este se sinta intimamente legitimado a voltar. E tentar a sorte.
Ou seja, um jogador, nem que seja o extraordinário Dostoievski que o era, é sempre, de uma determinada perspetiva de análise um perfeito retardado. É ler "O jogador" para confirmar.