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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

AUSTERIDADE


Tita

18.05.12

 

 

Todos os dias 85 desempregados saem de Portugal para tentar emprego no estrangeiro. Isto hoje é notícia.

 

A austeridade violenta a que estamos submetidos é responsável por isto. Já todos sabemos. O governo alemão não perdoa aos Gregos a mentira sobre os critérios de convergência para o Euro. Todos sabemos que o controlo do défice era um deles. De facto, não se entende como é que a Grécia vai fazer uma coisa destas. No entanto, a falta de compreensão e de confiança da Alemanha é neurótica. E assim o exagero que está por trás das medidas impostas aos países intervencionados só pode ser fruto de uma cena muito fraek control. Na verdade, ainda não acredito que o segundo pacote de ajuda à Grécia, que é um pacote de suicídio assistido, só tenha sido concebido para isso. Matar definitivamente a economia Grega.

 

Claro que ainda há dois dias vi na televisão Pedro Santana Lopes a defender a saída dos gregos do Euro. “Porque assim talvez as coisas ficassem mais clarificadas”. Sem comentários.

 

PERCEBER POBRE


Tita

16.05.12

 

 

 

 

A Terra é um planeta de pobres. Não obstante,

parece que todos os pobres se recusam a aceitar este facto. 

E nenhum rico o reconhece.

 

O instinto de sobrevivência nas crianças está sempre a postos. Não admira. São demasiado frágeis. Precisam de quem as proteja. Há uma consciência do significado do “estar por baixo” em cada criança. Nestas condições, aproximam-se dos que lhes parecem fortes e desprezam os que lhes soam a fracos.

 

Henry é um míudo imigrante (naturalmente) pobre de um bairro (obviamente) pobre. Frequenta pois uma escola de míudos como ele. Pobres. Muitos também produtos do vómito de países europeus caídos em desgraça na altura (da Primeira e Segunda Gerras Mundiais). Os outros são americanos da gema igualmente pobres. Na verdade, estes por seu lado são como crostas caídas das feridas saradas da Europa colonialista. Pobres americanos não emigrantes da época. Tão pobres como milhões de americanos são hoje em dia. E serão. Na maior potência económica, tecnológica e militar do mundo. Um mundo onde os pobres existem por todo lado. E são em número assombroso. Pois. A Terra é um planeta de pobres. Não obstante, parece que todos os pobres se recusam a aceitar este facto. E nenhum rico o reconhece.

 

 Henry e o resto das crianças referidas eram espancados quase diariamente nas suas próprias casas pelos seus próprios pais. Adultos frustrados que, por designadamente lhes terem roubado algures na vida os sonhos de criança, esmagavam sem razão e sem desígnio aparentes o corpo e a alma dos seus próprios filhos pequenos. 

 

Henry não levava guarda-chuva para a escola. “Havia quase sempre porrada. Os professores pareciam não saber de nada. E havia sempre problemas quando chovia. Qualquer rapaz que trouxesse um guarda-chuva para a escola ou usasse uma gabardine era logo posto de parte. A maior parte dos pais era demasiado pobre para comprar essas coisas. E quando o faziam, nós escondíamo-las nos arbustos. Se alguém era visto com um guarda-chuva ou com uma gabardine era logo considerado um mariquinhas pé-de-salsa. Levavam porrada depois das aulas”.

 

Pois. A pobreza é difícil de engolir e não é bonita de se ver. A consciência do ser pobre é pessoal e envergonhada. O esforço vai todo no sentido da inconsciência. Se fosse possível não comparar, se não existissem ricos, esta espécie de inveja sem esperança talvez nem chegasse a doer. Os pobres têm nojo dos pobres. E, quando ainda não chegaram ao ponto em que já estão passados da cabeça e desatam a fazer (inevitáveis?) disparates, têm muita consideração pelos ricos. Subserviente e invejosa, como é natural.

 

Charles Bukowsky. O escritor americano filho de imigrantes alemães nascido no tempo de uma Alemanha desfeita que vomitava sem opção gente para o “Novo Mundo”. É a vida. “Ham on Rye”, o livro de onde venho de citar. É de ler. Apanha-se pelo menos uma náusea no mínimo enriquecedora. Um outro modo de ficar menos pobre. Lá está.

 

ALEMÃES, MAS QUEM OS PODE OUVIR?


Tita

13.05.12

 

 

 

 

Na sexta passada desci para jantar na esplanada aqui à porta do prédio. Como moro no centro da cidade é muito comum ver turistas sentados à mesa. Ainda não tinha andado um par de metros quando já ouvia aquele sotaque especial de quem parece rosnar enquanto fala descontraidamente. Pois eram alemães. Vários amigos sentados ao lado uns dos outros num jantar de amigos. Parei a linha normal do pensamento por uns segundos para tomar um novo tipo de noção sobre o raio do casaco e dos ténis que levava. ADIDAS!!! Senti-me mal na minha pele. E percebi que a xenofobia poderia estar a tomar conta de mim. Sim, a aversão ou a profunda antipatia em relação aos alemães.

 

Sentei-me logo numa fila de mesas longe dos referidos germânicos. Só pensava em tirar o casaco azul-turquesa com aquelas listas pretas enormes. Mas não era possível. Por baixo só tinha o bra. E, de qualquer forma, estava ainda com os ténis prateados. Senti imenso calor nos pés. Porém, dado o atual contexto, conclui que era melhor não estar descalça ao pé daquela gente.

 

Os tipos falavam e falavam. Alto. Parecia que estavam a rasgar folhas de papel. É aquele sotaque agressivo. Devo sublinhar o alto. De facto falavam bastante alto. O que não é suposto. Na Alemanha não se fala com tal volume nos restaurantes. Só nas casas de pasto dos países do sul é que se levanta a voz para conviver. Assim, os herr e as frau vêm até ao sul para estarem mais à vontade. Like PIGS.

 

O pior foi quando o empregado nos pediu delicadamente para mudar de mesa. Se não nos importávamos íamos ali para aquela mesa para duas pessoas. Colada à dos alemães. Havia um grupo de quatro para sentar. Dava jeito que fosse onde estávamos. Mudámos. Não podíamos usar o argumento anti-alemão. Não seria correto. Até porque a ideia ainda era nova. Pelo menos em mim.

 

Tipos feios e mal vestidos com uma postura inenarrável. Decidiram olhar para nós. Enquanto se mantinham a sobrepor a voz à de toda a gente. Um deles levantou-se para entrar no restaurante e eu decidi imediatamente que parecia um drogado velho. A mulher que estava  à minha frente em diagonal era feia como um desmaio. Todos eles ficaram a observar-nos para ver se tínhamos maneiras à mesa. Também estavam interessados nas nossas escolhas. Talvez tenham ficado à espera que pagássemos a conta com cartão de crédito. Enganaram-se!

 

Segundo o embaixador alemão em Portugal, o seu país tem muita simpatia pelos portugueses. Agora, isso não significa que possamos continuar a viver acima das nossas possibilidades, produzindo pouco e gastando muito. Isso já foi tempo, uma vez que a imperial paciência se esgotou. E agora ou trabalhamos muito, ganhamos pouco e não gastamos nada ou levamos uns puxões de orelhas e umas palmadas no rabo. Se insistirmos, vamos para a cama sem jantar.

 

Vinha hoje no “Expresso” que a dívida alemã representa 85% do PIB. Quer dizer. Os alemães devem o equivalente a 85% do que produzem (o PIB representa a soma monetária de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada economia durante um período de tempo, normalmente um ano). Não obstante, financiam-se no mercado a juros baixíssimos, conforme determinam as avaliações das agências de rating. A Alemanha é uma economia sólida que não apresenta riscos. Os investidores têm expetativas sossegadas. Ou seja, é normal que os Estados se endividem. Aliás, que não possam viver de outro modo e que as suas dívidas não sejam para saldar, garantindo-se apenas a liquidez necessária para pagar os respetivos juros ao longo do tempo.

 

Agora imagine-se o inimaginável. Por qualquer razão absurda as agências resolviam descer a notação da dívida alemã até ao nível do lixo. Não sei porquê. Argumentavam com o incremento dos movimentos de extrema-direita no Norte da Europa, com o crescimento negativo da procura interna na Alemanha, com a obesidade da chanceler, com a cadeira de rodas do ministro das finanças, com a irritabilidade do sotaque, o qual, poderia ser alegado, põe os nervos em franja a todos os interolocutores internacionais. Não sei. Qualquer razão. Os juros da dívida subiam à loucura e os alemães simplesmente deixavam de dever 85% do que produzem para passarem a uma situação em que poderiam até ficar a dever o dobro. Então o país haveria de precisar de ajuda externa. Ou seja, a Alemanha entraria para o grupo dos PIGS, o qual se passaria e chamar PIGAS. E eu voltaria a sentir-me bem com o meu casaco Adidas, entre tantos outros produtos alemães que estou habituada a consumir.

 

Resta-me lembrar que Portugal, ao contrário da Grécia, não “aldrabou” os números, tendo cumprido os critérios exigidos para entrar no euro. Que, malgrado as nossos fragilidades e parvoíces (incompetência, más classes dirigentes e má cultura incluídas), a nossa dívida em percentagem do PIB era inferior à alemã na altura em que as queridas agências de Merkel nos baixaram a notação. Só porque talvez eventualmente fossemos como os gregos, embora ninguém apresentasse até hoje provas disso, antes pelo contrário.

QUEM PAGA O ESTADO AO ESTADO?


Tita

08.05.12

 

 


 

As famílias que têm rendimentos para mandar os filhos estudar para colégios caros e que frequentam quase exclusivamente os serviços de saúde privados não deviam poder deduzir as respetivas despesas no IRS. Mais, quem pode comportar este tipo de despesas, caso pretendesse aceder aos serviços públicos de saúde e de educação, deveria pagar de acordo com os preços do mercado.

 

Era nisto que eu andava a pensar nos últimos tempos. Reflexões que têm obviamente a ver com a atualíssima questão da necessidade de emagrecer o Estado, reduzindo drasticamente os seus gastos. Um problema que já não é novo. Começou a ser grave aquando do primeiro choque petrolífero dos anos setenta do século XX, ficou pior com o segundo choque nos anos oitenta e agora está na sua fase mais aguda por virtude das crises orçamentais dos países da zona euro.

 

Pois, dá ideia que estamos a falar da evolução de um cancro. E até parece que o Estado Providência está definitivamente condenado. Não duvido nada que esteja no seu modelo tradicional. Aquele a que nos habituámos. Em que o Estado dá para todos e paga a todos. Ricos, pobres e remediados. Basicamente com as receitas provenientes dos impostos o Estado constrói estradas, caminhos-de-ferro e aeroportos, escolas, hospitais, lares e jardins-de-infância, além de que assume os custos de formação dos profissionais e as despesas com a saúde das populações. É assim desde que, em meados do século passado, foram reconhecidos a todos os cidadãos os chamados direitos sociais e económicos.

 

Creio que resulta óbvia a irracionalidade do sistema. Qualquer um compreende a insustentabilidade do modelo. Desde quando é que as receitas dos impostos cobrem responsabilidades desta dimensão? Exato. Não cobrem, pelo que os défices orçamentais se vão expandindo. Assim, creio que os direitos sociais têm de ser comprimidos. Não na sua dimensão interna mas nos limites da sua abrangência.

 

Os direitos sociais, entre os quais se destacam a saúde e a educação, são direitos de proteção económica. Por definição devem, então ser reconhecidos a quem tem de ser protegido. A questão está pois em saber quem tem de ser economicamente protegido. Certamente não são os mais ricos. Mas também não serão apenas os mais pobres, sobretudo se a providência for essencialmente misericordiosa, caritativa e deficiente, como em grande parte dos casos tem sido. A sociedade está obrigada a descobrir o ponto certo do conceito de dignidade humana, o qual corresponderá ao conjunto das condições materiais suficientes que propiciam uma vida digna. E até este ponto o Estado tem de continuar a dar. E a partir deste ponto o Estado tem que tirar. Pelo menos e para já benefícios fiscais.

 

Que me digam: “Não é justo. Os meus filhos estão na escola privada e eu não entro, a não ser em caso de emergência, nas instituições e serviços do SNS. No entanto, pago 10.000 em impostos, contribuindo assim para sustentar serviços que eu não uso”. Eu respondo. Está bem. O que andamos agora a pagar de impostos serve também para saldar as dívidas contraídas para a construção dos heliportos da Madeira, o que, de um certo ponto de vista, é capaz de ser bem pior. E então? São assim os imperativos de justiça social. Ou pretendia-se que o povo da região autónoma assumisse a coisa sozinho?

 

Bem sei que me meti aqui por caminhos onde impera a complexidade das tecnicidades da economia, finanças e ciência fiscal onde os problemas são sempre dificeis de resolver e as soluções óbvias quase nunca são contempladas. Porque, afinal, acaba sempre por se provar de um modo ou de outro, que não são boas ou então que não valem a pena do ponto de vista económico-finaceiro. A verdade é que, independentemente de tudo o mais, estas soluções são é muito dificeis de implementar, requerendo muito trabalho, competência, honestidade e humanidade. 

 

 

PINGO DOCE: TAMBÉM POSSO DIZER UMA COISINHA?


Tita

06.05.12

 

 

Foi estranha a sensação de ir na sexta ao Pingo Doce. Acabei por trazer mais coisas do que queria. Esqueci-me em casa do carrinho com rodas que eles lá me venderam há uns meses e tive que atravessar a rua cheia de sacos na mão. Ia pesadíssima quando me dei conta que estava a sentir-me vexada. De facto, notei a sensação de que tinha ido comprar a mais por metade do preço, o que, forçava-me a recordar a todo instante, não era verdade. Nestas circunstâncias, parece-me que talvez o Pingo Doce se tenha metido numa má campanha de imagem. Agora está conotado como o supermercado dos pobres esfomeados e ordinários. Com aqueles que lá foram aproveitar a promoção do 1 de Maio. Agora talvez o Pingo Doce tenha menos caché do que o próprio Mini Preço. E agora? Não sei se isto é bom ou mau para a organização. Sei apenas que me parece que é assim.

 

Quem ler o que antecede há-de pensar que me sinto muito superior aos outros. Os que, como eu, querem comprar o que puderem com 50% de desconto, desde que tenham no mínimo 100€ para gastar. Quem no dia 1 de um mês tem 100€ para gastar num dia de supermercado, ainda que esteja a pensar comprar para o mês, pertence à classe média portuguesa. À parte dela estão alguns, uns poucos milhares, muito bem instalados na vida e outros, que correspondem a cerca de 26% da população, que estão no limiar da pobreza. Nem estes nem aqueles se incomodaram sequer a pensar na promoção do Dia do Trabalhador. Só a classe média. Aquele grupo de pessoas a quem dava muito jeito comprar tudo por metade. E dentro desta classe média nem todos lá foram. Não foram mas queriam.

 

Não foram porque não puderam. E muitos não puderam nem que seja pelo pudor de evidenciar a necessidade. Se tivessem ido também tinham perdido as estribeiras. Porque costumam ser assim as reações individuais quando integradas em certo tipo de eventos coletivos desordenados.  

 

Eu não fui porque não poderia enfrentar tantas pessoas, tanto barrulho, tanta energia (negativa) consumista. Tanta humanidade. Não fui porque talvez nem conseguisse  entrar. Não fui porque não fui. Porque dentro da classe média ainda vão subsistindo alguns degraus. Mas tenho muita pena de não ter podido comprar por metade o que na sexta me custou afinal o dobro da terça anterior. E é isto que me faz ver porque me impressionam tanto aquelas imagens. Porque de alguma forma me revejo nas pessoas que foram protagonistas do evento e serviram de carne para canhão nos noticiários em prime time. E revendo-me não gosto do que vejo. Quem na classe média onde me incluo mais despudoradamente demonstrou vergonha alheia pelas “cenas que os outros fizeram” é quem mais e melhor se identifica com eles. E tem horror do que é. Ora disto é que eu tenho muita vergonha.

 

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