É inegável que nos dias de hoje existe um movimento não organizado de pessoas que sabem tudo sobre a alma e o espírito… dos outros. Em geral, são pessoas pouco cultas – porque incapazes de ler um livro que não seja de autoajuda -, pouco introspetivas, um tanto frívolas e - se não são mentalmente perturbadas – pouco inteligentes. Também costumam ser ridiculamente egocêntricas. São as beatas e os beatos “pró new age” (BPNW).
Os BPNW estão em todo o lado e são facilmente reconhecidos pelo discurso. Não há criatura que ainda não tenha “levado” com eles. Um BPNB afirma-se normalmente budista sem, por exemplo, nunca ter ouvido falar do Príncipe Siddhartha, tem a Deusa da fertilidade colocada em cima do móvel de esquina da sala e em princípio não tem filhos, acredita profundamente na astrologia e no tarot, fala com a profundidade dos excertos retirados dos ditos do Dalai Lama que circulam abundantemente pela internet, tem a mania de usar termos que sugerem pro atividade e “pensamento positivo”, adora frases feitas sobre o amor, a amizade, a saúde e a fé e, por fim, adora atirar com a sua auto propalada capacidade psicanalítica de ignorante e irresponsável licenciado sobre as pessoas.
Exemplos práticos do discurso BPNW:
- No dia da morte de Michael Jackson alguém nos diz que afinal quem partiu foi o seu irmão espiritual. Apesar do choque e da náusea do riso sufocado, nós perguntamos: “mas porque dizes isso?” Resposta: “Nascemos no mesmo dia e temos características físicas e um percurso pessoal parecidos. Fiquei muito mal com a notícia”. Reação: “mas tu não és negro (ou negra)” - nem um ícone pop, já agora. Contra reação: olhos franzidos pregados no firmamento. Respiração profunda. Sem fala;
- Uma pessoa que tecnicamente nos quer “saltar para cima” informa: “fui a um astrólogo. Deitou-me as cartas, os búzios e leu a chávena com as borras do café. O resultado foi que ficarei contigo”. Contudo, não nos pergunta se há alguma possibilidade de nós estarmos de acordo com as predições, já que somos parte interessada.
Claro que os BPNW sempre me enervaram solenemente. No entanto, desde que a minha mãe morreu, abomino-os. É que logo na altura recebi a seguinte mensagem de que deixo um pequenino excerto: “Lamento que não estejas em paz. A tua reação… mostra que estás a precisar de canalizar a tua dor pela agressividade, por isso não o tomarei por pessoal (…) Estás como uma criança revoltada a pontapear td e todos, a precisar de ser abraçada com força”.
Para que tudo fique bem claro é muito importante referir que a pessoa que me enviou esta mensagem não me vê há mais de um ano, não fala comigo ao telefone há mais de um ano e desconhece por completo o processo, o que fiz, como estive e como me sinto. Não podia assim saber se eu pontapeava e quem, que odeio abraços apertados que não sejam para efeitos sexuais e que a dor de perder a mãe nunca é canalizada para lado nenhum. Fica dentro de nós, que teremos de aprender a viver com ela.
De facto, não aguento este miserabilismo moral por baixo de tanta fadiga intelectual. São os BPNW. É fugir deles.