SOU CONTRA FILHOS E A FAVOR DA PRAIA
Tita
26.06.12
Não quero voltar a falar aqui da minha mãe se for para estar a dizer coisas sobre como foi, o que passou, como me sinto, e por aí. Não quero falar da minha dor e sobretudo não quero sequer chegar perto da dor dela. O luto nos blogs devia ser ilegal. Assim como a devassa da vida privada é ilegal se for cometida por terceiros. Quando é o próprio ou outro diretamente interessado a levar a coisa a público, a devassa da vida privada é só chocante. O que não é pouca coisa, de qualquer modo.
A responsável pela Equipa de Cuidados Paliativos do Hospital de St.ª Maria, pessoa que aliás passou a merecer o meu maior respeito e estima, perguntou-me a dada altura se eu tinha filhos. Ao que eu respondi a disparar: "filhos? Não! Eu sou contra filhos".
Para o que agora importa, os pais conhecem os filhos um por um. E dentro de cada um, cada peça daquilo que importa nos filhos: os traços fundamentais do caráter e da forma de estar. Basicamente, sabem sempre se os filhos estão bem ou mal e até têm pressentimentos sobre o tema.
Já os filhos lembram-se pouco de olhar para os pais como indivíduos independentes e por isso pouco têm para dizer sobre eles. À parte, claro dos sempre tocantes traumas infantis que contam a toda a gente e que, bem vistas as coisas, justificam todos os afastamentos e, no fim da linha, a própria inscrição dos pais num lar de terceira idade.
É claro que não me reconheço neste quadro. Mas estava para aqui a pensar nela e dei por mim a ser travada nos pensamentos. Por exemplo, ainda não consegui perceber se, no balanço, a minha mãe foi ou não feliz. Ora isto, além de angustiante, é ridículo. Sempre é a pessoa que eu mais amava nesta vida.
Tema fechado, importa dizer por fim que a minha mãe vivia no convencimento de que tinha uma filha bonita. Não sei se sou tanto como ela parecia achar. Ou se sou exatamente como ele de facto achava. O que sei é que fico infinitamente mais gira quando vou à praia. E ainda não fui este ano. Assim, vou mantendo o meu clássico ar deslavado tipicamente holandês que nem as holandesas chegam a ter, creio. Ou seja, a minha mãe, se estivesse aqui haveria de dizer: "credo, estás tão branca! Não vais à praia?". Sempre preocupadas com os filhos, as mães. Não é?