LITERACIA
Tita
23.07.12
Passos Coelho diz que não contratou o Relvas por ele ter um curso superior mas por ser um “fazedor” que “faz bem”. Bem, só a cara e a postura dele já fazem mal. Mas adiante.
Como é evidente não é obrigatório que um ministro tenha um curso superior (embora se exijam naturalmente outras coisas que Relvas também não parece ter). Não é obrigatório legal ou moralmente. O que é ilegal e imoral é dizer que se tem um quando na verdade não se cumpriram os preceitos legais e morais, bem como os procedimentos devidos para o concluir. E quando na prática se “compra” o “canudo”. Não sei se foi com dinheiro, favores ou pressão. Nas trocas há muitas moedas de troca. Portanto, é claro para toda a gente que Miguel Relvas não estudou como e o que devia para se licenciar. Tinha experiência de cargos. E vivência dos mesmos. Isto permitiu-lhe beneficiar de equivalências académicas. Foi assim.
Não sabíamos que o sistema de ensino superior funcionava nestes termos. Até agora, já duas universidades privadas foram apanhadas nesta teia obscura que envolve ligações estreitas com agentes do poder político. É caso para perguntar o que raio se passa com as universidades privadas. Por outro lado, não sabemos se há públicas igualmente metidas em situações semelhantes. O que, a suceder, nem seria já para admirar.
Um homem e uma licenciatura. Dois factos distintos que não se unem no caso concreto pela falta do principal “link”. Um “link” que se consubstancia na presença nas aulas, na comparência aos exames e na obtenção justa de aproveitamento em todas as disciplinas do curso. É assim para toda a gente. Terá sido assim para os seus colegas de curso. Não foi assim para Miguel Relvas. Nestes termos, o Ministro mente, aceita e patrocina favorecimentos. É pois falso, desleal e desonesto.
O que importa se um ser falso, desleal e desonesto é um “bom fazedor”? Para quem importa? Não importa certamente às pessoas honestas, leais e verdadeiras. Ninguém quer um competente fazedor viciado no engano, na trafulha, no passo de trampolim para saltar mais à frente do que os outros. Um homem destes só importa a quem não se importa de ser enganado e/ou preterido. E quem não se importa de ser enganado e/ou preterido é porque engana ou pretere. Há uma falta de consciência que assim não corrói estes espíritos.
Como sabemos, Passos Coelho andou tanto tempo pela Jota que só terminou o curso muito depois dos trinta. Uma Idade difícil para ingressar pela primeira vez no mercado de trabalho se não se está metido na política até ao pescoço. Daqui se conclui que uma intensa vivência política prejudica gravemente os estudos. Tal qual o desporto de alta competição. Muitos treinos, muitos estágios, muitas provas. Não dá.
De volta ao problema da não licenciatura de Relvas, e ao princípio do texto, Passos é, como foi referido, reconhecido, reconhecendo logo à partida que assim é. Uma não licenciatura. No entanto, também diz que isso não tem importância nenhuma porque não foi por causa disso que o “contratou”. Até parece que, sem surpresa, Passos Coelho está na estatística da literacia em lugar de destaque. Recorde-se, literacia é “a capacidade de cada indivíduo compreender e usar a informação escrita contida em vários materiais impressos… [e inclui] um conjunto de capacidades de processamento de informação que os adultos usam na resolução de tarefas associadas com o trabalho, a vida pessoal e os contextos sociais.” (definição retirada de: http://literaciadainformacao.web.simplesnet.pt/Literacia_da_informacao.htm).