PARA QUE NOS SERVE A FÉ
Tita
31.07.12
Na História, até à instalação nas consciências das filosofias liberais e positivistas, Deus estava no centro do Universo. Uma bela fórmula para alimentar a crença no poder nos não eleitos eleitos pelo nascimento. Assim, verificou-se uma mudança de olhar do Homem. De Deus para a Humanidade. Pelo meio ficou a Fé. O conceito de Fé. Ou seja, o desenraizamento do sentimento de Fé. Já não em Deus mas dificilmente na Humanidade. A confusão espiritual que vai perdurando até aos nossos dias.
Não sei já se foi Rousseau que explicava esta metafisica da existência de Deus e por consequência do ser humano, dizendo que Deus se alojava em pequenas doses dentro de cada ser. E que, deste modo, o conjunto da Humanidade consubstanciava Deus. A ser assim, não haveria que desviar o olhar de uma realidade para outra. E a fé poderia ser uma especial energia que animasse a cabeça, desviando-a do Céu para a Terra.
Isto é complicado. Não recordo de facto o que vieram dizer os críticos desta teoria do ser. Eu penso nos mortos. Será que dentro de cada falecido há um pouco de Deus, sendo que o desiderato propalado se compõe da soma das almas dos vivos e dos mortos? A resposta é sim desde que os mortos não sejam mortos. Se o corpo não interessa para a vida latu sensu, os mortos não estão mortos. Assim, não estão no Céu ou no Inferno mas na Terra. A animar a Natureza. Pode ser? Não sabemos. É evidente que também se admite aqui a possibilidade da reencarnação. Ou seja, de os mortos não existirem porque a falência do corpo implicaria a transferência concomitante para o interior de outro. É uma ideia estranha esta. Se a vida começa com a nidação (o momento em que o embrião se cola às paredes do útero) é quase bizarro imaginar uma velha alma dentro de uma célula incipientíssima.
Seja como for, mesmo para os grandes pragmáticos, a negação da existência de Deus e da possibilidade da vida para além da morte custa a engolir. Tanto que até dói.
Reitero pois as imensas saudades que tenho da minha mãe. E que linda que ela era. Se estiver viva, espero que mantenha aquele sorriso inimitável.