TIMIDEZ
Tita
17.08.12
Não me iludo. Se me esqueço frequentemente de pôr creme nas mãos é porque não olho para as mãos das pessoas. Tenho ideia de que já ouvi muita gente dizer que as mãos são muito importantes, ou o que mais lhes atrai nos outros (assim como se fossem olhos) ou qualquer outra coisa assim do género. No dia em que achar as minhas mãos feias ou estragadas ponho o bendito creme e pronto. Até lá não quero sentir aquela impressão escorregadia que até parece que é nos pés. Não gosto e não me dá jeito nenhum. Preciso muito das mãos para tudo e para nada. Porque nunca as páro quietas. Assim, é melhor que estejam secas para não andar a brincar com o atrito. Não posso perder o atrito nas mãos. Evidentemente.
Por outro lado, uma coisa para onde olho imenso é para os rabos. E fico chocada se forem descaidos. A imagem de perfil, frente ou costas de um homem ou de uma mulher depende totalmente da firmeza de um rabo. É que a sua ausência denuncia-se de qualquer ângulo de visão. Intimamente não perdoo um traseiro flácido a ninguém. E não quero saber da idade (ele há métodos para resolver o problema). É por isso que passo diariamente as mãos no meu para ver se continua firme. E faço-o sempre com um expetativa ansiosa. Desde sempre.
Pois toda esta conversa tem a ver com a timidez. Como se sabe, a timidez concretiza-se numa certa sensação de embaraço que ocorre quando estamos na presença de estranhos ou ao pé de menos estranhos mas com quem não temos muita confiança. No meu caso,na minha timidez, o embaraço tem a ver com a ideia de que os meus interlocutores possam estar a fazer de mim. Juízos de valor sobre a minha aparência física e psicológica.
Por vezes, fico tão à rasca que digo coisas absurdas ou confusas só para ver se os distraio. O que só me angustia ainda mais. Um inferno. Se não tivesse esta mania exagerada de me pôr intimamente a criticar os outros, o meu grau de timidez não seria o que é.
Resta-me ir descansando o que posso sentada em frente ao espelho sobre o meu rabo firme enquanto admiro meu nariz pequeno praticamente perfeito.