EIS-ME ENTÃO DE VOLTA AQUI
Tita
13.11.12
Isto é uma tentativa. De regresso. A um espaço que criei para mim. Este. Claro que estou a ser contraditória. Ninguém cria um espaço só para si na Internet. De qualquer modo tento que seja o mais possível. Daí que também deixei de escrever aqui por muito tempo. A ver se muita gente se esquecia que existe. Na verdade, ainda não percebi muito bem porque não escrevo apenas no computador e guardo tudo em ficheiros com acesso reservado. Para quê esta exibição? Hei-de pensar nisto.
Antes de parar, escrevi sobre a política e os políticos. Já estava a parar. O blog já não era eu. E deixei-me ficar assim a servi-lo por algum tempo. Como se fosse obrigada a dar-lhe alimento. Depois percebi que não sou. Obrigada a manter isto. Sem a cor e a característica. E percebi ainda que não era capaz de manter-lhe, além do mais, o tom.
Explicaram-me que o processo de luto tem sintomas. Quando é preciso fazer luto dá-se uma retirada, um recolhimento. A vida corre na mesma. Os assuntos, as questões, os reiterados factos do dia-a-dia mantêm-se. Nós é que não estamos lá. No luto só uma coisa importa. A razão do luto. O resto fica a rolar e nós não temos paciência para o resto.
Nem uma música apetece ouvir. É um desprazer ter prazer. Pequeno ou grande. Há ordens interiores e hierarquias de sentir e pensar. É como se o luto nos suspendesse o direito de viver e quem dá a ordem é o nosso cérebro. Apenas as pessoas que amamos podem estar. E ser amadas. O melhor possível que nos seja possível.
Verifica-se agora que estou aqui a escrever. E que não é de política. Embora me continue a interessar. Sei que, através de algum processo que achei, o meu cérebro reverteu a ordem dada. Chegou o momento de levantar a suspensão. Sinto então o processo de saída do luto a acontecer. Os meus direitos a reintegrarem-se em mim.
Penso que tudo começou no “dia dos finados”. Sentei-me na campa dela e chorei devagar. Depois contei-lhe dos meus problemas. Falava-lhe, olhando-a na fotografia que lá está. A chuva parou de vez e um raio de sol apontava-me com todo o vigor. Doeu-me tanto calor. Eu pedia-lhe desculpas e ela sorria. A certa altura fui arranjar melhor as flores. Ela gostava muito de flores bem arranjadas. Também nos cemitérios. Falava-lhe dos meus medos e ela sorria ainda mais. Tivemos assim esta conversa. Eu falava em silêncio e ela abria o sorriso a cada angústia minha. Ela, na morte, sorria sobre a vida. Creio que eu posso, na vida, sorrir sobre a morte.
Eis-me então de volta aqui.