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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

O TRABALHO QUE NÃO ME APETECE FREQUENTAR


Tita

17.03.15

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Posso falar do trabalho. Que não me apetece frequentar. E não é não me apetece. É um desejo sólido. Tão sólido como uma casa sólida. Por vezes, sou agarrada pela sensação de que vou perder o que me resta da juventude aqui. A trabalhar oito horas por dia cinco dias por semana. A fazer coisas que realmente não me importam. A falar daquilo que eu verdadeiramente não quero saber. São dois terços de uma vida ocupados a trabalhar. É demasiado tempo que eu não tenho na alma. Porém, não vejo outra solução. E sinto claustrofobia. Porque é como se estivesse num sítio pequeno fechado. Sem espaço para respirar e para o movimento. E falo apenas da parte técnica e logística. Levantar cedo. Escolher a roupa. Dirigir-me ao local. Fazer os trabalhos propostos.

 

Falta o resto. Passar por entre as auras. As auras carregam energia, como se sabe. É duro atravessar tantas energias diferentes. Nem que seja só por um bocadinho junto à máquina do café. Existem duas mulheres que andam sempre juntas. Cada uma é mais pequena do que a outra. Parece que caminham sempre três degraus abaixo. Creio que dizem coisas desagradáveis sobre as pessoas. Tenho a certeza que já disseram coisas desagradáveis sobre mim. Porque eu, como todos os demais, sou comentável. De qualquer forma, o que me incomoda verdadeiramente nelas é a altura. É, portanto, a energia que emanam.

 

Por outro lado, no trabalho fazem-se muito as chamadas amizades laborais. Não temos muitas razões para estabelecer vínculos. A não ser o facto de sermos obrigados a encontra-las cinco dias por semana oito horas por dia. Nas amizades laborais somos mais amigos de uns do que de outros. Assim, temos os nossos melhores amigos laborais. Eu tenho uma melhor amiga laboral. Todos os dias ela me preenche o espaço disponível com os seus problemas. As suas amizades não laborais não são de cá. Por isso está sozinha em Lisboa. Não tem com quem partilhar as dificuldades emocionais provenientes das questões materiais que não consegue resolver facilmente. Está a separar-se do marido. É duro. Por isso eu oiço tudo. E respondo como sei, quando o detalhe é novo. E como posso, quando o detalhe é repetido. O que sucede imenso. Às vezes trato de não ouvir nada. Sinto-a a abarrotar. Tenho que deixar esvaziar. Por tudo isto não me ocorre dizer-lhe nada sobre mim. Ela não pode ouvir. Pode rebentar. Seja como for, é verdade que das amizades laborais podem surgir amizades das outras. Das boas. Quentinhas. Digo isto porque já me sucedeu.

 

 

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