CABELEIREIRO DE BAIRRO
Tita
21.03.15
Quando quero dar um corte ao cabelo ou fazer cor vou à Guida da Lúcia Piloto das Amoreiras. Mas quando é só para lavar vou ali ao Namur à Bela. A Bela, tal como as suas colegas, anda na casa dos sessenta. E, tal como as suas colegas, está um bocadinho gorda. Saio sempre de lá super penteada. Pelo que vou imediatamente deitar-me no sofá.
A Bela tem o cabelo cheio de grossas madeixas louras e cobre. E está assim armado em formato redondo. No fim pergunta-me sempre se eu quero um bocadinho de laca. O que eu declino. Quando chego. Dá-me sempre um beijinho num sorriso aberto. "Olá minha querida. Como está?". É diferente da Guida que também me dá um beijinho mas está logo a mexer no meu cabelo para pensar "no que vamos fazer hoje". Quando saio da Guida nem parece que estive a arranjar o cabelo. Estou só gira.
Nestes cabeleireiros de bairro, as funcionárias têm imenso jeito para fazer armações. Para dar aquele ar de cabeleireiro. Depois há o ambiente demasiado descontraído. "Anda cá para ao pé de mim minha querida. És linda, amor". As senhoras, as clientes, são velhas. Mais velhas do que as cabeleireiras. Tenho impressão.
Uma das raparigas que lava cabeças (porque as que lavam cabeças e as que arranjam as mãos são novas) perguntou a uma cliente se ia fazer ondulação. Era uma senhora de cabelo grisalho com uma pelada aqui e ali. "Só faço para a semana. Mas tenho mesmo que fazer". E a outra: "Pois a senhora tem aqui um cabelo que é uma porcaria". Dizia isto enquanto lhe agarrava a cabeça e lhe puxava os poucos cabelos.
Enquanto me penteava, a Bela virou-se para a cliente da colega do lado. Logo eu também me virei. Estava com uma cabeça enorme à conta das dezenas de caracolinhos colados a laca que lhe fizeram. Parecia contente. A cabeleireira dela e a Bela trocaram logo uns mimos e umas piadas entre si, tendo envolvido a senhora. E depois a Bela disse-lhe: "sabe minha querida, nós não estamos cá só para dar beleza. Também passamos muito boa disposição".
Eu, por minha parte, igualmente tenho que estar a sorrir. Para garantir que a "boa disposição" me afeta seriamente. Devo igualmente elogiar o trabalho da Bela. Que dá sempre o seu melhor e espera receber as minhas melhores manifestações de agrado. Muitas vezes tenho vontade de gritar. Mas, como disse, antes pelo contrário, sorrio.
Basicamente são estas coisas que se passam no Namur.