UM DIA NA MINHA VIDA
Tita
31.03.15
O meu pai, que está internado no hospital desde domingo, disse ao meu irmão mais novo hoje de manhã: "Podes ir buscar o carro que eu vou ter alta. Só estou à espera que entreguem as minha roupas". Claro que depois de tudo confirmado com a senhora enfermeira chegou-se à conclusão que era mentira. Bem, mentira não era. Segundo o que o meu pai me disse, "eu pedi alta. Só que nunca mais me trazem a roupa". Não. Não está gagá. Está farto de estar ali. E sobretudo está convencido de que os seus pedidos são ordens que devem ser acatadas. Infelizmente as coisas, a maior parte das coisas, já não se passam assim. E portanto, vai lá ficar mais uns dias. Eu, pela minha parte, faltei ao compromisso de publicar aqui um post diário. Fiquei preocupada com ele. E não tive cabeça para mais nada.
Mas estou de volta. Para dizer que D. Amélia foi lá ao gabinete, como é costume, para dois dedos de conversa. Primeiro perguntou se queriamos um café. Ninguém quis porque àquela hora já abarrotávamos de cafeína. Depois pôs-se a falar sobre o papel higiénico. Que a empresa de limpezas, sua entidade patronal, tinha lá ido entregar o papel. "Que não me peçam para carregar o papel. Porque eu não carrego. Tenho aqui uma cicatriz de uma operação à visícula que me dói muito quando muda o tempo". No mais, segundo D. Améllia, é uma questão de princípio. Os homens que trazem o papel é que o devem ir arrumar no local devido. É sempre bom fazer uma pausa com D. Amélia. Então eu, que estou com uma seca pesada de trabalho entre mãos, agradeço sempre uma interrupçãozinha.
Depois de almoço, fui a uma formação sobre classificação de doentes nos hospitais em regime de internamento. Notei que a formadora tinha uma voz demasiado rouca. Como se precisasse de espetorar. Aquilo fazia um bocadinho de impressão. No entanto, expressava-se muito bem e dominava a matéria. Para o que importa, retirei dali o conhecimento que precisava para os meus trabalhos. Foi útil, portanto.
Antes disso fui com a minha colega à Versailles. Porque ela queria comprar um bolo especial de lá. Não se aguenta a Versailles à hora de almoço. Está cheia até à porta. E há imensas pessoas a comer de pé ao balcão. Desde quando é que se paga os preços da Versailles para estar ali assim? Aliás o serviço ao balcão desce ao nível dos snack bares mais rascas. Tudo a gritar. Os empregados a atrirarem com os pratos para a frente dos clientes. Um pandemónio. Mais tarde comemos o bolo a meias. Em mais uma interrupção do tal trabalho que já me pesa na alma.
De fuga da Versailles ainda conseguimos evitar uma cigana que estava a vender óculos de sol. E eu hoje já senti calor nos pés. Estou preocupada porque ainda não troquei a roupa de verão pela de inverno. Daqui a um dia ou dois já não tenho nada para vestir.
Este relato é sobre mais um dia vivido na minha vida. Quase igual a todos os outros. Como se verifica, nada de interessante se passou. Creio que é assim a vida de toda a gente, com as devidas adaptações e salvo as honrosas exceções. Estou farta deste dia. Estou farta deste post.