Eu não tomava café por causa da ansiedade. Agora tomo 2 ou 3 por dia. Há dias em que são 4. E sinto-me melhor do que nunca. Nada de ansiedade extra. O nome deste blog para mim só fazia sentido para os outros. "Café Expresso - black". Agora já tenho o prazer depois de acordar. Aquele prazer que se tem por ter os olhos bem abertos e a cabeça a carburar. O prazer de estar viva. Durante anos vivi em esforço. As manhãs eram infernais. Vivia convencida que não estava formatada para ter um emprego 9 to 5. Agora continuo convencida do mesmo. Mas já não é porque passo as manhãs de rastos. O que obviamente é uma felicidade.
Quando tinha 19 anos tive uma série consecutiva de ataques de pânico. Houve razões para isso que não me apetece agora mencionar. Para o que importa, os meus níveis de ansiedade subiram em flecha a partir daí, pelo que meti na cabeça que café, por ser um estimulante, nunca mais. Entretanto os anos passaram e os problemas foram ultrapassados. Mas esta crença de que o café me podia causar um novo ataque de pânico ficou.
Tudo isto a propósito do medo. As más experiências que vivenciamos, se sobrevivemos a elas, não nos deixam apenas ensinamentos nem nos dão apenas a possibilidade de crescer. Também deixam marcas. E é destas marcas que nasce o medo. O medo nasce das nossas marcas e marca-nos a vida a partir daí. O meu medo de tomar café era importante. Para além das coisas que referi atrás, obrigava-me a carregar comigo um sentimento de inferioridade. A generalidade das pessoas comuns não tem medo de tomar café. Eu tinha. Eu tinha medo do café. E no entanto adorava o aroma e o sabor. Observe-se o ridículo. O meu orgulho era ferido com isto.
Ontem o meu melhor amigo tinha medo de ir buscar um gato. Até ao último minuto, eu, que combinei ir com ele, ainda não sabia se o gato viria ou não. Afinal, o gato veio. Mas foi preciso combinar com a criadora que se as coisas não corressem bem durante um mês, o gato deveria ser devolvido `procedência. Foi ridículo. Tanto que entre ele o o gato, já em casa, se estabeleceu logo uma ligação de princípio de afeto. Tanto que o meu amigo revelou que comprar aquele gato foi o melhor que fez na vida nos últimos tempos. No entanto, como disse, umas horas antes, ele tinha medo de ir buscar o gato. O medo dele era o de não ser capaz de tomar conta de um gato sozinho. Isto é uma humilhação para um homem adulto. E ele sofreu muito entre o desejo de ter o gato e o medo de não ser capaz. Felizmente conseguiu tomar o primeiro café e verificar que, ao invés de lhe provocar um ataque de pânico, afinal até lhe fazia muito bem.
Uma das conclusões que se pode tirar é que o medo nos ridiculariza e espezinha perante nós próprios. E que por isso nos inferioriza perante os outros. Mesmo que eles nem desconfiem.