AS FORMIGAS
Tita
29.01.16
Quando nos agridem devemos “dar a outra face”? O que quer isto dizer? Assim numa primeira abordagem parece significar que devemos aceitar uma agressão. E, além do mais, incentivar o agressor a agredir-nos novamente. Virar as costas não está aqui contemplado.
Por outro lado, talvez não seja assim. “Dar a outra face” é, eventualmente, antes pelo contrário, dizer “olha, não tens cacife para me abalar. Deste-me nesta face e nada de grave me aconteceu. Posso dar-te a outra para comprovarmos que não és capaz de me ferir severamente”. Assim, “damos a outra face”.
É preciso responder a uma agressão. E, sobretudo, é necessário saber responder. Temos que estar conscientes do tamanho da nossa dignidade. Uma formiga pode picar o dedo a uma pessoa. E dói um bocadinho. Se for daquelas com cabeça encarnada, acho eu. Mas, pelo amor de Deus, é uma formiga. Não vamos reagir contra ela para a esmagar. Basta um chega para lá no raio do inseto.
As pessoas precisam de agredir. Certas pessoas. Nos filmes sobre “serial killers” sempre me interessaram as motivações. Até que percebi que, na verdade, isso não interessa. Um “serial killer” é um sociopata. Um doente mental, portanto. As suas motivações são as de um louco. Não interessa saber porque é que ele ficou louco. Provavelmente já nasceu assim.
Os agressores do nosso dia-a-dia têm as suas motivações. Que não se fundamentam em atos diretos nossos. Podemos ser agredidos por inveja ou por frustração de coisas da vida. Ou pelas duas razões. O que interessa é saber responder à agressão, dando a outra face, afastando a formiga com uma sapatada. Para tanto, é necessário enfrentar. Se eu quero dar uma sapatada numa formiga, tenho de olhar para ela. Senão não sei onde estará. E depois ir lá com o outro dedo para lhe dar o piparote. Isto tudo sem sentir raiva. Porque não se sente raiva de uma formiga. A raiva provoca o sistema nervoso, fazendo as mãos tremer. Ninguém treme por causa de uma formiga.