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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

MUDAR DE ASSUNTO


Tita

03.06.16

 

Preciso de mudar de assunto. Quando estou muito tempo dedicada a uma coisa, preciso de mudar de assunto. Uma vez tive uma grande paixão. Mais do que uma vez tive uma grande paixão. Só que agora quero falar desta. Porque quero contar um episódio que tem a ver com mudar de assunto. Claro que alguém se vai chatear. Uma paixão não gosta de se lembrar que que outrora existiram outras.

 

Então, recomeçando. Uma vez tive uma grande paixão. Em que era tudo muito urgente (logo, nada era adiável) e consumidor (de consumo e consumição em regime permanente). Se eu chegava um bocadinho atrasada, chorava... Se eu chegava, havia flores e cartas de amor. Enfim, era um inferno grogue. O mundo ficava do lado de fora. E em qualquer lado era bom e apropriado. É de propósito que digo inferno e não paraíso.

 

E houve um dia que eu senti que os meus pulmões podiam rebentar pela falta de oxigénio. E os meus olhos podiam cegar de tanta penumbra e média luz. Senti a falta do mundo com a pessoa integrada nele. Senti necessidade de alongar distâncias só para a ver. Precisava de mudar de assunto.

 

Não valia a pena dizer-lhe que era melhor não nos vermos durante dois ou três dias. Porque ia chorar. Ou fazer qualquer coisa para me impedir. Simplesmente disse até amanhã e não voltei. E andei dois dias feliz. A viver a banalidade. E a sentir o convencimento de que a minha vida afinal era especial. Porque ela existia. Foram dois dias em que me ri muito. Me disponibilizei muito. Falei muito. Fiz muito. Porque ela existia.

 

Ao terceiro dia telefonei-lhe. E voltei naturalmente. Como se nunca tivesse saído dali. Mas com os pulmões cheios de ar e os olhos mais brilhantes do que nunca. Não me fez perguntas. Teve medo. Aceitou-me de volta sem fazer perguntas. E nosso mundo, que não era o mundo, voltou a rodopiar como era dantes. Até que um dia se instalou o inferno lúcido. E depois, mais tarde, foi o fim. E o fim teve o seu início quando eu precisei de mudar de assunto.

 

Tudo isto para dizer que eu preciso de mudar de assunto. Senão desfoco. Agora ando a fazer coisas. Que não tem nada a ver com amor. Ou tem tudo a ver com amor. Porque o amor está lá para me sustentar. Mas o tema das coisas que ando a fazer não é o amor. É outra coisa. Estou tão focada que já estou a desfocar. Mas não posso desaparecer por dois dias. Se o fizesse, talvez me metesse noutro inferno lúcido. Embora de dimensão diferente. No entanto, um inferno.

 

Apetece-me levar o amor para a praia.

 

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