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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

AZUL - Cap LXXIV


Tita

25.10.16

Olharam-se com os olhos a lampejar. Aproximaram-se muito lentamente. E, de súbito, caíram nos braços uma da outra num abraço vigoroso. Depois afastaram-se devagar e ficaram frente a frente com as duas mãos dadas e aquele brilho no olhar.

Clara: Meu Deus, estou morta de cansaço!

Riu-se para ela.

Joana: Este dia foram vários dias.

Suspirou um sorriso.

Clara: Dói-me o corpo todo.

Joana: Vem cá.

Voltaram a abraçar-se de corpo inteiro. Ficaram por uns momentos assim. A descansar uma na outra.

Joana: Estalaste-me as costas com esse teu aperto.

Clara: E não te sentes melhor?

Joana: Sim.

Joana pousou a cabeça sobre o ombro de Clara e fechou os olhos. Clara afagava-lhe os séricos cabelos louros.

Joana: A tua mãe é uma mulher infernal. Como é que ela foi inventar este jantar?

Clara: Ou melhor, como é que ela foi convencer toda a gente a embarcar num jantar destes?

Foram para a casa de banho.

Joana: Sim, ninguém ignorava que se podia passar o que se passou.

Clara. Ninguém ignorava. E a minha mãe tinha a certeza de que as coisas iam correr mesmo assim.

Joana: Toda a gente se pôs a exorcizar os seus espectros. A amostrar os seus afetos. A destilar amor e raiva, ressentimento e dor.

Estavam já na cama. Integralmente nuas. Viradas uma para a outra com as pernas intercruzadas.

Clara: Pois foi. Por isso a nossa relação também esteve na liça.

Joana: Isso foi só no fim. E valeu a pena, meu anjo.

Clara: Já não tens mais pequenas travelas a picar-te?

Joana sorriu-lhe com meiguice. E tocou-lhe levemente nos seios com a ponta de um dedo como quem está a desenhar figuras.

Clara: Que bom.

Joana: Gostas, querida?

Clara: Não sejas atrevida. Estava a falar dos teus sentimentos.

Joana: Está tudo resolvido, amor. Foste eloquente e convenceste-me.

Sorriu-lhe.

Joana: Mas tu sabes.

Clara: Sei. E também sei que me amas. Eu amo-te sem reservas.

Apertou-lhe o ombro nu. Puxou-a para si e beijou-a na boca. Estreitaram os corpos um no outro.

Joana: Só tenho forças para fazer amor muito devagarinho. Toca-me muito devagarinho.

Clara: Muito devagarinho, querida.

Joana: Assim.

E Clara ficou a tocar-lhe assim e a beijá-la suavemente com intermitências regulares. Porque tinha que mergulhar de vez em quando para dentro do mar azul dos olhos dela.

Clara: E agora, querida, posso entrar?

Joana: Sim. Muito devagarinho.

Clara entrou muito devagarinho. E saiu muito devagarinho. E entrou devagar. E saiu devagar. E entrou. E saiu. E entrou. E saiu. E saiu. E entrou. E entrou mais. E mais um pouco. E saiu e entrou. E saiu e entrou. E ficou. Rodou. Saiu. E entrou. Joana esmagava a cara nos seis dela e de punhos cerrados dava-lhe pequenas pancadas no peito.

Joana: Não acredito que tu me estás a fazer isto. Eu não aguento.

Clara entrou. E ficou. E investiu. E saiu. Rodou-lhe o corpo e ficou em cima dela. Puxou os joelhos acima e precipitou-se num beijo estendido. Depois foi beijando devagar. Tudo o que sentia pelo corpo de Joana abaixo. Incessantemente. O corpo de Joana correspondia com o versejo adequado ao ritmo que aqueles beijos obcecados imprimiam. Até que, a dado momento, ao fim de um tempo, Joana explodiu. Foi um gemido dilacerante o que se ouviu. E, por fim, Joana ficou inerte como se tivesse perdido a vida.

Clara: Meu grande amor.

Joana: Cala-te, minha vadia desgraçada. Estou a morrer. Devias pagar por isto. Pensei que te doía o corpo todo.

Sorriu-lhe.

Clara: A tua pele, o teu cheiro e a tua voz são anestesiantes. Tu sabes.

Joana: Sei.

Clara: Como achas que está a correr a conversa delas?

Joana: Acho que está a correr mal.

Clara: Porquê?

Joana: Porque o quarto da tua mãe é aqui ao lado e eu não as ouvi chegar ainda.

Clara: Pois não, tens razão. Mas achas que elas se vão entender?

Joana. Acho que vai ser muito difícil. Porque têm uma herança muito tormentosa. Penso que isso vai pesar, como tem pesado, decisivamente.

Clara: Mas não vês nada ali que as ajude?

Joana: Vejo. O amor que existe e o perdão que já foi concedido.

Clara: Então têm uma hipótese.

Joana: Sim. Uma. Creio eu.

PÉROLAS A PORCOS


Tita

25.10.16

 

Hoje estou alterada porque, como dizem os brasileiros, “passaram a perna em mim”. Ou seja, alguém me ludibriou. A questão é a seguinte: passei a alguém, uma coisa feita por mim. Assim, como se esperava, pessoa arrogou-se da autoria do que eu fiz e, como não se esperava, tratou de fazer alterações ridículas mas importantes sobre o sentido final. E foi isto que me deixou quase desvairada. Mas a que propósito vão mexer nas minhas coisas?

 

Bem, a propósito de já não serem minhas porque eu as dei. Os novos proprietários têm o direito de usar, fruir ou mesmo abusar da coisa apropriada. Portanto, como eu doei sem cláusula modal que impedisse o abuso, ou evitasse o desprezo, tenho agora que me sujeitar.

 

Creio que mereço que estas situações me aconteçam. Ninguém me manda andar a desbaratar as minhas propriedades. Já Jesus Cristo, aconselhava a não dar pérolas a porcos - "Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, para que não suceda de que eles as pisem com os pés e que, voltando-se contra vós, vos dilacerem." - Eu é que não aprendo.

 

Seja como for, a coisa, com as alterações referidas, não foi aceite.

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