SAIR DO ARMÁRIO
Tita
08.02.17
Estou para aqui a tentar escrever por tentativas. Já tentei por três vezes e três vezes apaguei. É que não me apetece aprofundar estruturando na escrita o que me vai no pensamento. Quando eu andava no estágio de advocacia, foi-me dito que eu escrevia bem e que isso era sinal de cabeça limpa. Intimamente, não concordei com isso. Escrever é um exercício de construção de um texto. O texto é composto de ideias e, se é Direito, basta organizar o saber. E assim se obtém uma peça jurídica. Portanto, cabeça limpa só se for quanto aos conceitos jurídicos. Aliás, quem me disse isso foi uma excelente advogada. Que, por sinal tinha a cabeça bastante confusa, à parte do Direito.
O meu problema, o meu problema em escrever agora, tem a ver com a necessidade sempre atual de dar corpo ao texto, conferindo-lhe alguma profundidade e um senso moral e sintético. Creio que não vou conseguir fazer isto se pegar num tema.
Por acaso tentei, das vezes em que apaguei, falar sobre o fenómeno de sair do armário mas não fui bem-sucedida. Só me saía que concordo com os gays e lésbicas que não querem sair do armário. Porque ninguém é obrigado a assumir para o mundo que é homossexual. Assim como também é certo que ninguém é obrigado a fica dentro do armário. Creio que toda a gente é livre de fazer o que muito bem entende nesta matéria, se não vive nos USA nos dias de hoje, que é como quem diz de Trump.
A questão é que não tenho vontade de prosseguir com o assunto. Até ia falar de uma lésbica que interrompeu o chá da mãe com as tias para (re)afirmar isso mesmo, que era lésbica. Ora, se as senhoras estavam a falar de outros assuntos, a que propósito se interrompe as pessoas para fazer uma declaração destas? A verdade é que, como ninguém deu muita importância ao facto, a afirmadora veio então declarar que era budista. E foi aí que a mãe lhe perguntou porque razão “não era de uma religião aqui mais perto por causa do exercício do culto."
Enfim, não estou capaz de escrever nada de jeito.