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CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

CAFÉ EXPRESSO

"A minha frase favorita é a minha quando me sai bem"

MARIA-RAPAZ


Tita

31.03.17

 

Quando era pequena havia uma agitação sorridente que me impelia. A vontade de me mexer. De me entreter. De experimentar. De conviver. De me divertir. Gostava de usar sempre calças ou calções - porque, no meu entender isso tinha pinta e dava jeito - e muito de brincar com os rapazes.

 

Com eles jogava futebol, à macaca, ao peão, ao berlinde, trocava cromos de coleções - que nunca terminava por não ter paciência para isso -, subia às árvores, metia-me nas obras dos prédios e andava à chapada.

 

Era uma vez… em que eu esperava pelos meus amiguinhos junto às obras de um prédio em construção. Mesmo ao lado do meu. Estava, pois, distraída a mexer com um pau a lama que tinha colocado dentro de uma latinha. Foi então que apareceu e se aproximou uma menina com um vestido imaculadamente branco. Esta menina começou a conversar comigo. De pé. Enquanto eu, de cócoras, continuava a mexer a minha latinha. Não me lembro das coisas que ela disse. Mas sei que não tinham interesse para mim. Talvez ela estivesse a fazer observações sobre o modo como eu me estava a sujar. A verdade é que ela não se podia baixar por causa do vestido. E sei que foi isto que decidiu tudo. Na verdade, assim não era possível estabelecer um contacto como deve ser. A certa altura, levantei-me e despejei a minha latinha sobre ela. Reagiu muito mal. Disse-me coisas nada simpáticas e foi-se embora a chorar histericamente. Eu, pessoalmente, senti-me realizada.

 

Eu era, portanto, no conceito das pessoas adultas que me observavam, uma maria-rapaz. E disso me davam conta tais pessoas, que eram sobretudo mulheres, fazendo-me discursos críticos diretos (nas costas dos meus pais) sempre que me apanhavam a jeito na rua - nos poucos momentos em que era possível “caçar-me” por estar alguns breves minutos parada entre as minhas referidas atividades. Diziam-me coisas. Diziam-me o seguinte género de coisas: “uma menina não é assim, repara na menina X. Tão bonita e bem comportada. Tu não gostas de bonecas? Todas as meninas gostam de bonecas. Tu tens que te modificar”. Tudo como se eu não fosse uma menina. Claro que estas mulheres que me abordavam não trabalhavam fora de casa, ao contrário da minha mãe, por exemplo. Por isso tinham horários de sair à rua parecidos com os meus. Assim, tinham oportunidade de falar. E por isso não eram surpreendidas por outros adultos com diverso tipo de consciência.

 

Apesar de ficar muito magoada com o que me diziam, o certo é que tive sempre uma certa consciência de que, por alguma razão, aquelas mulheres eram infelizes. Não obstante, não tinha pena delas. Tinha raiva. Raiva por perceber que haveria de crescer. E que, crescendo, talvez não pudesse continuar a ser a mesma pessoa. Talvez me estivesse destinado um futuro equivalente ao então presente delas. Porque “uma menina não é assim”. E uma mulher não tem que ser feliz, como elas me faziam constantemente notar.

 

O PRINCÍPIO E O FIM DE UM AFFAIR


Tita

30.03.17

 
 

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Tive uma espécie de affair que aconteceu há alguns anos. A coisa durou cerca de três meses. Apenas. Depois eu saí para voltar à relação que tinha antes. Para quem eu, na altura, amava.

 

Volvidos oito anos, a pessoa do affair reapareceu a dizer que não me tinha esquecido. Mostrou-me uma carta de Tarot que era o Mundo. Creio que significava que um dia eu haveria de ser sua. A carta saiu no fim de uma tirada que alguém lhe fez, creio. Tinha-a guardado até ali.

 

Pela minha parte, e por razões que se prendiam com a total impossibilidade de corresponder à coisa, tive que desaparecer.

 

Passaram mais três anos e a pessoa voltou à minha vida basicamente para me mostrar a carta do Mundo, que ainda guardava, e pedir-me em casamento.

 

Considerei aquela uma atitude tão absolutamente deslocada que não tive coragem de oferecer um redondo “Não”. Pus-me a falar. Disse que não tinha maturidade para compromissos de tal monta, blá, blá, blá e ofereci a minha amizade.

 

Em resposta, quem transportava a carta do Mundo foi para a cama com a pessoa com quem eu vivia. E creio que com isso se curou de mim.

 

Portanto, eu tinha toda a razão.

AS PESSOAS QUE FINGEM SER BOAS PESSOAS


Tita

28.03.17

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Eu acho que as pessoas que se fazem de boas pessoas sem o serem deviam estar obrigadas a seguir as regras dos desenhos animados. Assim, deviam ser feias, antipáticas e ter cara de más. Se notarmos, relativamente aos vilões dos desenhos animados, por causa do seu aspeto e comportamento pouco sociáveis, podemos esperar sempre o pior. Creio que existe ética nisto. Porque é terrível sofrer um golpe inesperado. É que não temos tempo de nos preparar, sendo que, por isso, os danos podem ser, e serão, mais graves.

 

O que antecede leva-me a questionar se as pessoas que fingem ser boas pessoas são felizes. Conheço um caso em que definitivamente não. Mas é um caso. Aliás, conheço outro caso. E definitivamente também não. Mas são dois casos. Penso que não tenho amostra suficiente para concluir. Mas gostava que não fossem. Gostava que fossem como o Narciso. Estúpidas ao ponto de se afogarem no rio que reflete a sua própria imagem.

 

Seja como for, sempre considerei que “o inferno é aqui”. Assim, as pessoas que não são boas pessoas porque só fingem que o são, deverão pagar com juros o mal que forem infligindo aos outros no seu percurso de vida. Creio que isto é acreditar em Deus e, por consequência, na justiça Divina.

 

No entanto, não acredito, por outro lado, no crime e castigo direto. Assim, é muito natural que não vejamos os “maus da fita” a pagarem pelas maldades que nos vão fazendo. O crime e castigo direto pode ler-se no “Crime e Castigo” de Dostoievsky onde o criminoso tem uma consciência. E é por causa desta consciência que ele vai deixando pistas para ser apanhado. O que sucede.

 

É, enfim, muito chato que não aconteça nada de mal a quem nos faz mal. Os maus deviam pagar por cada maldade no momento imediatamente posterior à sua prática. Lá está, como nos desenhos animados. Porque, senão, ficamos com um sentimento de injustiça e a acreditar na impunidade. O que é desanimador.

 

"A BRASILEIRA" DO CHIADO


Tita

24.03.17

 

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Era uma vez eu sozinha na esplanada da Brasileira do Chiado. Quando me apercebi, já tinha dado mais de cinco euros em esmolas. E apercebi-me quando o mesmo pedinte se apresentou pela segunda vez. Até então estava muito distraída a distribuir moedas. Depois pensei que não podia ser assim. Que é materialmente impossível “dar qualquer coisinha” a cada um que nos pede. Ou seja, a todos. Assim sendo, a solução mais justa é não dar nada a ninguém. Foi o que conclui e coloquei em prática a partir dessa altura. Não obstante, fico triste quando me pedem. Além de que, pese embora a decisão tomada, sinto-me culpada por não dar. É por isso que baixo a cabeça, evitando cruzar o meu olhar com o deles.

 

Os padres dizem: “façam o que eu digo. Não façam o que eu faço”. Não sei se dizem realmente. Mas o meu pai disse que sim quando eu, em miúda, lhe perguntei se os padres pecavam. Seja como for, a frase significa que há duas formas distintas de agir. A nossa forma real de agir e aquela que não se concretiza e que tem a ver com o modo como pensamos que seria melhor atuar.

 

Num teste de inteligência emocional, que fiz há algum tempo, vinha uma pergunta sobre o tema dos pedintes. E uma das hipóteses de resposta coincidia precisamente com a minha atitude atrás indicada. Baixar os olhos. A questão é que eu não dei esta resposta. Por isso fiquei sem saber o significado da mesma.

 

De resto, fui mal avaliada nesse teste. Ou melhor, fui bem avaliada. Não tive boa nota. Porque estive sempre a responder com o que me parecia mais apropriado. Creio que em nenhuma questão respondi em consonância com os termos em que fazia as coisas. O que está mal. E daí o referido mau resultado.

 

O EGO


Tita

23.03.17

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O ego e a personalidade privada, embora sejam realidades distintas, confundem-se. O ego é refletido pelo conjunto de necessidades emocionais do ser, a maior parte das quais não é voluntariamente revelada a terceiros por que o ego é um gordo disforme. A personalidade privada é, genericamente, representada pelas características emocionais e mentais próprias do individuo. A personalidade é privada porque a maioria dos seus detalhes não aparece para a generalidade das pessoas, uma vez que existe o medo de “dar o flanco”.

 

Assentes as duas noções dadas, é preciso acrescentar que as características essenciais da personalidade se esbatem em prol das necessidades emocionais. Isto em face da grotesca obesidade dos egos, claro.

 

Como disse, não é suposto revelar o ego aos outros em virtude do excesso de peso. Mas é mesmo por causa deste excesso de peso que ocorre a violação de fronteiras. O que é de dentro passa a ser exibido por fora. Ainda que inadvertidamente. Assim, os egos das pessoas andam a “marrar” uns com os outros. Na verdade, a vida corriqueira é um campo de guerra, sendo que cada batalha é quase sempre vencida pelos mesmos. Os que estão por cima. Como sabemos, a estória de David e Golias não é mais do que uma lenda contada no Velho Testamento da Bíblia.

 

O que eu quero dizer com o que antecede é que não é fácil viver no mundo dos adultos. Sempre tentei distanciar-me da compreensão do sistema. Porque sempre intui que não era coisa boa, uma vez que as respetivas regras não eram as mais transparentes nem as mais justas. No sistema não se aplica o sistema do mérito e o amor inexiste. Seja como for, tive que crescer e inteirar-me. Confesso que agora sofro mais um bocado.

 

CANSAÇO


Tita

17.03.17

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Este fim-de-semana não estou cá. Vou até Vieira. Parto hoje. A expectativa do verde das folhas e das águas, bem como do oxigénio pesado começou a fazer o seu efeito. O pescoço principia a distender-se. É que sinto aproximar-se a sensação da incontornável leveza do corpo, que sucede quando uma pessoa se vai instalar designadamente no vale da Serra da Cabreira.

 

A casa fica dentro da vila num plano mais alto do que as outras e pode dizer-se que está só em relação à demais. A densidade da vegetação que a envolve é premente. De manhã vê-se o sol a bater no perfil dos montes a partir das janelas dos quartos.

 

Esta casa era dos meus avós. Depois passou para a minha mãe e para o meu pai (que eram casados no regime da comunhão geral de bens). E agora é do meu pai e um pouco nossa. Claro que nós dizemos e sentimos que é toda nossa. Porque, de facto, é (juridicamente a expressão de facto quer significar uma situação que se verifica materialmente).

 

Dou-me assim conta do nível de cansaço que me entabua.

 

OS PROBLEMAS


Tita

16.03.17

Foto de Catarina Veiga Miranda.

 

São 8h da manhã e já cheguei. É que hoje tenho que me ir embora mais cedo. É dia de terapia. É dia de terapia, e eu não faço a mínima ideia do que irei para lá dizer.

 

A verdade é que aquilo já não é a mesma coisa. Ou seja, os pressupostos mudaram. O processo de destruição/reconstrução, que é o core de qualquer psicoterapia, chegou ao fim há muito tempo. E, desde essa altura, a coisa corre no sentido de aprender a lidar com as limitações e as forças que existem e se revelaram no âmbito daquele processo.

 

Assim, é preciso que ocorram coisas que me ponham à prova. Depois eu conto-as lá e fico a perceber como me posiciono perante as mesmas para depois agir ou ficar sossegada. A questão do posicionamento é interior e, por isso, nada tem a ver com a inteligência ou com outras habilidades. Antes, está ligada a assuntos relacionados com o meu património emocional real que foi descoberto.

 

Dependendo das minhas emoções, eu sou capaz de lidar melhor ou pior com determinado problema. Sucede que, cada vez menos me surgem problemas. Porque tenho as emoções alinhadas. Ou seja, restam-me os problemas reais. E, com efeito, estes não são assim tantos. É por isso que às vezes não sei o que irei para lá dizer, como referi.

 

Diria que o que atrás foi dito se resume numa frase, e que é a seguinte: se as questões não estão relacionadas com a luta pela obtenção dos recursos mínimos necessários a uma subsistência condigna, com a saúde ou com a morte, a maior parte dos nossos problemas é inventada. Quando comecei a terapia só tinha problemas.

 

LOSERS


Tita

15.03.17

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A vida consubstancia-se em factos que ocorrem com o correr dos dias e que fazem efeito sobre a nossa estrutura emocional/mental. Há dias em que aparentemente não acontece nada de incomum. E há dias cheios de novidades boas e más. Mas, mesmo nos dias em que parece que nada acontece porque se verificou apenas a repetição de factos de outros dias iguais, sucede a acumulação de mais um pouco de cansaço, de um acréscimo de rotina, enfim, de mais experiência ou idade. É, na verdade, mais um dia que passa sobre nós e sai da nossa vida material, enchendo-nos, porém, de um certo estar que se acumula e incide sobre o nosso espirito, aplicando-lhe transformações a curto prazo imperceptíveis, as quais se farão notar com o tempo. Com efeito, a experiência não é mais do que a vivência dos dias acumulados que passaram. A maior parte deles aparentemente inócuos, como disse. Não me faz, portanto, sentido pensar a vida como um processo que se passa lá fora.

 

Uma pessoa conhecida fez-me um discurso de desespero. “A minha vida está uma porcaria. Sinto que não presto”.

 

É assim. De facto existem pessoas que acham que a vida deve consistir num processo progressivo de mudança em que, em cada etapa, se está melhor do que na anterior - isto no que diz respeito à profissão e aos bens materiais. E estas pessoas, mesmo quando lhes é demonstrado em carne viva que as coisas não se passam assim, não percebem e viram-se contra si próprias.

 

Um falhado só o é se acredita que tem alguma coisa a ganhar e, no entanto, perde.

 

O SENTIDO DA VIDA


Tita

13.03.17

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Estava a pensar no sentido da vida. E, claro, ocorreu-me o filme: The meaning of life dos Monty Python. Basicamente este filme diz-nos que não existe um sentido para a vida. O que existe são objetivos de vida. E que são dois: procriar e ganhar.

 

Não existe Deus. Só o Big Bang. As pessoas nascem e morrem sem pedir. Assim, pelo meio, têm de viver. Viver é, portanto, uma imposição. Deste modo, não se concebe que as pessoas comecem por gostar de viver. Assim seria de pensar que, logo que ganhassem uma consciência, as pessoas poderiam suicidar-se em massa. Sucede que cada um nasce com aquilo que é designado por instinto de sobrevivência, pelo que estão impedidas de fazer uma coisa destas. E é também o mesmo instinto que lhes ordena que procriem. Procriar é um processo que tem como fim último eternizar os genes.

 

As pessoas sabem que, salvo qualquer incidente inusitado, têm que estar por aqui por muitos e bons anos, pois. E aqui não é um lugar fácil de estar. Porque existem outras pessoas e os recursos são escassos. Portanto, a vida concretiza-se no travar de num conjunto de batalhas sucessivas em busca das coisas que os outros também querem. Daí dizer-se que a vida é uma luta. Morrer e nascer custa a todos. Mas viver ainda é o pior e muito mais difícil para quem tem menos recursos. Porque está sempre metido em lutas desiguais e com os acessos cortados.

 

Enfim, lembrei-me deste filme porque estava para alugar no videoclube da televisão.

 

RELAÇÕES ESTÁVEIS


Tita

09.03.17

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É capaz de ser verdade que a primavera veio para ficar. Com este sol, ando cheia de energia. Num contentamento libertário que me faz abstrair das obrigações profissionais e desejar fugir para a praia do Casablanca para jantar acompanhada ainda de dia. Por isso mesmo, procrastinei. Mas hoje, como já não era possível persistir, deitei mão à obra e fiz um parecer de 16 páginas (60 pontos e 13 conclusões). Acredito que está ótimo. Pronto.

 

Quando era pequena achava, como é do senso coletivo, que um dia haveria de me casar. Porém, cresci e pus de parte tal ideia. E com essa ideia de parte fui atravessando várias relações. Algumas que hoje representariam divórcios se os respetivos casamentos se tivessem dado. Falo de relações duradouras em que o casal viveu em economia comum. Se a expressão divorciada não significasse a separação entre duas pessoas que se casaram, eu diria que já me divorciei três vezes. Portanto, sintetizando, eu, tendo vivido em condições análogas às dos cônjuges, nunca me casei.

 

E atualmente acontece-me o mesmo. Vivo em condições análogas às dos cônjuges. Porém, não sou casada. O que, não obstante, pode vir, desta vez, a suceder.

 

Posto o que fica escrito, quem ler pode achar que eu tenho tendência para estar em relações duradouras. E pensa bem. No entanto, devo dizer, esclarecendo, que as relações longas podem não ser estáveis. A minha primeira relação de viver, por exemplo, era muito instável porque a pessoa bebia e estava sempre a arranjar problemas com toda a gente. As relações instáveis, se duram, são extremamente perniciosas para o nosso bem-estar emocional. Isto pelas razões óbvias, as quais me escuso de estar aqui a enumerar por precisamente serem óbvias. Já a minha relação atual já dura há algum tempo e é estável. O que muda muita coisa em mim.

 

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