A IMPORTÂNCIA DE SER DOUTOR
Tita
08.03.17
Nos países anglo-saxónicos, os doutores são apenas os médicos. Já no Brasil, por exemplo, doutor é qualquer um que tenha muito dinheiro, licenciado ou não. Em Portugal, doutor é qualquer pessoa que tenha uma licenciatura.
Mas a verdade é que, quando uma pessoa termina a sua licenciatura, basicamente sabe muito sobre aquilo que estudou (pelo menos é o que se espera) e muito pouco sobre a vida. Relativamente ao curso de Direito, o que não se sabe, desde logo, é trazer o direito para a vida. Ou seja, não se sabe fazer nada, não estando sequer pronto para ir para uma caixa de supermercado.
Logo que terminei a licenciatura, entrei para uma sociedade de advogados antes dos prazos estabelecidos na Ordem para início do Estágio. Assim, estive a aprender com antecedência um bocado sobre como se articulavam as coisas. Os livros com a vida e a vida com os tribunais.Com efeito, os tribunais também não são a vida, devo dizer.
Nos tribunais não se aplica o direito à vida. Aplica-se o direito às provas. E é por isso que só por acaso é que se faz justiça em tribunal. Isto foi-me logo ensinado. “Em tribunal, ganha quem tiver as melhores armas, e não quem tem razão. As armas são as provas. E as provas não demonstram a realidade dos factos, como vem escrito no Código Civil, antes revelam os factos que é possível demonstrar na precisa forma em que a demonstração é feita”.
Porque as pessoas temem sempre a injustiça que se faz nos tribunais, bem como a demora dos processos, tentam sempre chegar a um acordo. Ontem foi feito um acordo extrajudicial que beneficiou mais uma das partes. E este acordo foi conseguido porque se chamou insistentemente senhor doutor a uma pessoa que não tinha uma licenciatura. É também certo que se utilizou a expressão “o abraço do urso”. Ora, o abraço do urso “se aperta esmaga”. Quem acabou por ser convencido que podia ser esmagado, cedeu. Quem cedeu foi o “senhor doutor”.