O VALOR QUE TEMOS
Tita
03.04.17
Só em adulta, porque já estavam disponíveis, é que os meus pais me deram a atenção que eu, quando era pequena, necessitava. E deram muita. O que eu agradeço imenso porque me fez muito bem ao coração. Na infância, porém, como referi, andavam ambos demasiado ocupados. Era um entrar e sair de casa. Não tinham tempo para “os miúdos”. Assim, era só mandar fazer coisas e ralhar.
Eu era boa aluna. E também era boa desportista. Os meus pais reconheciam isto. Eu sei porque ficavam silenciosamente agradados por trás de um ligeiro sorriso de satisfação. Mas não tinham tempo para me dizer que era importante o que eu fazia. E que fazia bem. Ao contrário dos miúdos a que se prometem coisas, eu nunca ganhei nada por ter boas notas. Nunca fui premiada pelos meus méritos, portanto. Faltou-me, pois, o reconhecimento expresso traduzido na obtenção de compensações pelas boas atitudes e bons resultados.
Assim, por falta daquele feed back fundamental, demorei muito muito tempo a ganhar uma consciência adequada de mim própria. Consciência esta que só adquiri quando passaram alguns anos de psicoterapia. Pois é. Os pais não nos atendem e nós, se tivermos possibilidades, vamos parar à psicoterapia.
Pelas apontadas razões, hoje eu sei que preciso de reconhecimento quando o mereço. Desta feita, é-me muito difícil manter-me quando não me dão o devido valor. Sofro verdadeiramente. Como sofria em pequena. Os sintomas são dores no peito e na cabeça, bem como alguma dispersão mental.
É claro que, sendo adulta e psicoanalisada, já sei como contornar estas sensações. Uma dor de infância é uma dor de infância. As coisas doem mais na infância porque não dispomos das armas adequadas. Um adulto com dores de infância só tem de as situar no tempo, percebendo que agora tem outros recursos que vai naturalmente usar.