PODER
Tita
07.04.17
Não sei dizer exatamente porquê mas hoje estou centrada na questão do poder. Lembrei-me de uma estória que me contaram. Nesta estória, a mulher-a-dias exercia poder autoritário sobre a senhora que lavava as escadas do prédio. A questão é que a mulher-a-dias não tem poder nenhum sobre a que lava as escadas. Mas achou esse poder em qualquer lado. Muito provavelmente no profundo sentimento de inferioridade da outra. Portanto, a legitimidade do poder também vem das desvalorizações que os possuídos imprimem a si próprios.
Para mim é estranha esta hierarquia que referi. Com efeito, no meu prédio da infância, era a porteira quem lavava as escadas e recolhia os lixos. No entanto, sentia-se cheia de à vontade para fazer críticas e reivindicações. Dizia, por exemplo, “se o lixo não estiver à porta quando eu passar, não é recolhido”. Também, já no condomínio de adulta, vinha sempre o porteiro, em tom autoritário, chamar a atenção sobre a necessidade de fechar as portas ou não pisar a relva do jardim. Assim se conclui que o poder também está do lado de quem o sente.
Nas relações amorosas, há relações que são de competição pelo poder. Uma pessoa quer mandar na outra. No fundo, quer que esta se comporte de acordo com um determinado padrão idealizado. Idealizado por quem quer mandar. Está claro. Creio que isto tem a ver com dois fatores. O primeiro prende-se com a idealização do outro. O segundo com a insegurança que o primeiro sente mas, na maior parte dos casos, não admite. É claro que, neste tipo de relações, o fim é um epílogo anunciado. Mesmo que a relação formal não termine.
Não obstante o que atrás disse, creio que existe o poder brando. Aquele que acontece e não magoa ou contraria ninguém. Trata-se do poder que cada ser humano tem que decorre das qualidades que sustenta. O recuso aos recursos naturais positivos de cada um, feito pelo próprio, confere-lhe um crédito de poder que é dado pelos outros. Por exemplo, quero ouvir falar quem tem alguma coisa para ensinar, desde que isso não me seja imposto. E se, nesse ensinamento, descobrir algum caminho ou solução, eu quero ir por aí. É simples.
A extensão do poder de cada um é medida pelo que cada um vale. E toda a pessoa vale algumas coisas. Fica, então, a frase feita: "precisamos todos uns dos outros".