A LEI DO DESEJO
Tita
22.06.17
Creio que o desejo consiste na vontade de fazer amor com uma determinada pessoa, a qual é precisamente o seu objeto.
Quando tinha dezoito anos era bastante bonita para a idade. O que me enchia de orgulho. E de soberba também. Deste modo, só me interessava por pessoas igualmente bonitas, desprezando as outras. No meu entendimento, a beleza era suficiente para tudo e a falta dela motivava-me para nada, como se aprendeu nos livros de estórias de príncipes e de princesas.
Nesta conformidade, apaixonei-me por uma beleza extraordinária. E encetámos uma relação. Naturalmente, fazíamos amor imensas vezes (ao dia e à noite). E fizemos pelo tempo em que o desejo durou. E foi, pois, assim que descobri que o desejo tem prazo de duração. E que, quanto mais se consome o seu objeto, mais depressa ele se esgota.
E, de facto, sucedeu que me sucedeu esgotar-me primeiro. Ou seja, a minha beleza deixou de fazer efeito mais depressa. Enquanto eu ainda fiquei (não literalmente) agarrada à coisa por mais algum tempo. Pelo tempo de ser substituída, no caso, por uma hipotética bruxa feia (e por isso inevitavelmente má, pensa-se).
Não obstante, mais tarde, e porque apareceu o Shrek, estive terrivelmente atraída (estar terrivelmente atraído significa ter vontade de fazer amor muitas vezes) por uma pessoa que, ao que constava, não era objetivamente desejável. Até me disseram que parecia uma cobra.
Portanto, no meu caso (embora me pareça que também em muitos mais casos), na atualidade, as pessoas só são desejáveis subjetivamente. Concretizando, para além da cobra, já senti muita vontade de fazer amor com pessoas que terceiros podem designar por smurfs (por serem baixas) e bolas de Berlim (por serem quase redondas).