CONVERSAS DE CIRCUNSTÂNCIA
Tita
07.09.17
Tenho imensas dificuldades em fazer conversa. É que, em princípio, não sei o que dizer. Porque o que, na verdade, me apetece é estar calada a observar.
Era bom que me deixassem observar. Mas não. As pessoas não gostam de ser observadas. E talvez também não tenham vontade de observar. Por isso falam e falam. Quase sempre sobre coisas desinteressantes. O que acentua o meu esforço. E define o nível de interesse que cada um tem pelos demais.
Dantes eu tinha terror dos silêncios nestas circunstâncias. Por isso enchia-me de uma espécie de energia de reserva para falar e falar. Era capaz de agendar instantaneamente na minha cabeça um número razoável de assuntos para “puxar” de acordo com o tempo que a coisa deveria durar. E assim, na maior parte do tempo, quem falava era eu. Chegava a ser chata. E saia esgotada.
Agora não quero saber. Mantenho os assuntos enquanto os assuntos me mantêm a imaginação a funcionar. Ainda que em esforço. Na mesma. Mas depois até me posso calar e deixar emergir um silêncio. Paciência. Não sou só eu a ficar afetada, imagino.
No entanto, noto que assim as pessoas me dão muito menos atenção.