FALAR COM ESTRANHOS
Tita
21.09.17
Desde pequenos que sabemos que não devemos falar com estranhos. No meu caso, a minha mãe passava a vida a apresentar-me maioritariamente a senhoras que me eram estranhas. Senhoras que me beijavam, sorriam e riam e também falavam sobre mim à minha frente em voz um bocado alta, bem como me faziam sempre várias perguntas pessoais. Portanto, desenvolvi uma certa alergia a estranhos ao ponto de não querer falar com eles.
No entanto, há pessoas que nos são estranhas mas que têm um certo tipo de personalidade que as faz, pelo menos, parecer interessantes. Uma pessoa olha para estas pessoas e como que advinha que dali vão sair novidades. Coisas que não é costume serem ditas pelo comum dos demais. Com estas pessoas o diálogo é fluído. E há sempre assunto (ou seja, existe capacidade de diálogo, apetência para trocar ideias e à humildade para perceber que é verdade que aprendemos uns com os outros). Estes são os estranhos com quem eu acho que devo falar e gosto muito.
Tais pessoas não se confundem com outras que têm sempre assunto porque vivem a vida com uma espécie de espírito de missão e julgam, por isso, que vão ensinar muita coisa a muita gente. Para tanto, também fazem designadamente perguntas pessoais, à imagem das senhoras estranhas da minha infância. Com esta gente acho que não devo falar pois, quando isso sucede, sinto-me nomeadamente como se estivesse a ser sonoramente beijada nas faces.
Fora as interessantes e as missionárias atrás focadas, há depois aquelas pessoas com quem temos que falar. Porque, por hipótese, ficaram à nossa frente durante um almoço e não brilham nos termos expostos nem nos querem evangelizar. Estas são muito difíceis. Porque, por exemplo, na sua maioria, leem Paulo Coelho. Ora, eu não tenho conversa para quem lê Paulo Coelho por falta de habilitações. E quem diz Paulo Coelho, pode referir puericultura. Igualmente não estou habilitada. Portanto, acredito que os estranhos não querem falar comigo.