MATERIALISMO NÃO FILOSÓFICO
Tita
25.09.17
No dia de hoje tenho necessidade de saber o que é uma pessoa materialista. Na verdade, instalou-se em mim um certo complexo de culpa. Já explico porquê.
Uma vez que não estou bem certa do conceito não filosófico de materialismo, vou ali procurar ajuda ao Google e já venho…
De volta com uma das muitas definições que encontrei, venho expô-la. É a seguinte: “Modo de vida voltado completamente para os bens materiais e para os prazeres que eles proporcionam”. Não sei se concordo com o “completamente”. Creio que basta estar maioritariamente voltado.
Em face da definição dada, questiono-me se gostar de coisas boas numa base permanente é ser materialista. Parece que não. Apenas é materialista quem prefere com nitidez as coisas às pessoas, sendo certo que um dos grandes prazeres dos materialistas é a exibição dos bens.
E não gostar de coisas boas não é ser completamente irracional?
Por mim, e para começar, acredito que não interessa onde se está (desde que não seja na Líbia) mas com quem se está. Sim. Acredito nesta máxima alheia. Assim, é melhor não estar num hotel de seis estrelas com o Cavaco Silva, por exemplo. De facto, é preferível estar num banco de jardim a ver o Tejo com alguém de quem se gosta (não é preciso ser o namorado ou a namorada) sem ter dinheiro para tomar um café numa esplanada. E esta é uma das razões pela qual não acredito na prostituição. No lado positivo da prostituição, quero dizer. De qualquer maneira, se se puder juntar o contexto ao afeto, tanto melhor.
A questão é que ontem comprei um telemóvel topo de gama. O topo do topo de gama. Porque é lindo e faz coisas muito interessantes e úteis. A verdade é que o comprei para finalmente me libertar de um topo do topo de gama de há cerca de dez anos atrás que já estava a ensarilhar.
Podia ter comprado um topo de gama anualmente durante aquele tempo, uma vez que, como se sabe, todos os anos são lançados novos modelos no mercado. Mas eu não acredito nisso. Ou acredito tanto nisso como no outro lado da prostituição. Que é precisamente a chulice. Quer dizer, não acredito no lado positivo de ser chulado, pelo que este topo de gama ficará comigo pelo tempo que durar. E, como é um topo de gama, vai durar muito, havendo a oportunidade de ser muitas vezes ultrapassado por novos tipos que se irão multiplicar.
Nos termos expostos, devo concluir que sou uma materialista resistente. Mas uma materialista ainda assim.